Entrevista o #nopainnogain Felipe Dayrell, o melhor amador no Ironman Florianópolis

Atualizado em 20 de setembro de 2016
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vo2_300MundoTRI: Felipe, como foi seu início no esporte em geral e como ingressou no Triathlon em geral?

Felipe Dayrell: Iniciei no esporte quando criança, aos nove anos de idade. Comecei com o futebol e, incentivado pelo meu pai, comecei a praticar natação. Aos doze anos de idade entrei para a base da natação no Minas Tênis Clube em Belo Horizonte, onde adquiri os conceitos de treinamento e equipe.

Aos quinze anos, no ano de 1994, um amigo da natação chegou com o folheto de uma prova de Triathlon Short que ocorreria na Lagoa dos Ingleses, perto de BH, o circuito Triathlon Cup (creio eu que o melhor circuito de Triathlon do país nos anos de 1994 e 1995). Como eu já nadava e pedalava aos finais de semana com a galera da natação, era “só começar a correr” e fazer a prova.

Foi paixão à primeira vista! Completar o Short Triathlon foi um desafio muito grande na época, porém, no dia seguinte, já estava procurando informações sobre a segunda etapa para poder participar novamente.

A partir de então, paralelamente a equipe de natação no Minas Tênis, comecei a treinar por conta própria para participar das provas de Triathlon em Belo Horizonte.

MundoTRI: Você tem um longo histórico de Ironmans. Como foi seu primeiro e as provas que mais te marcaram?

Felipe Dayrell: Comecei a fazer o Triathlon de longa distância – Ironman – no ano de 2004, onde ao acompanhar amigos de Belo Horizonte em provas nos anos de 2001, 2002 e 2003, criei coragem para enfrentar esse desafio. Quando assistia as provas de Ironman no Havaí pela TV, jamais imaginava que seria capaz de realizar aquele feito!

Creio que meu primeiro IRON em 2004 foi o mais “tranquilo” de todos, onde fiz uma prova conservadora, pois não sabia o que esperar e, ao mesmo tempo, pude aproveitar todo o percurso em Floripa, desde a largada, as transições nas tendas de troca de roupa, o pedal e a corrida, onde naquela oportunidade se não me engano, cravei a sétima melhor maratona da prova, com 03h09. Foi uma prova sensacional, onde fiz 09h45 e fiquei em quinto na categoria de idade. Foi uma prova perfeita, sem nenhum contratempo e uma emoção indescritível ao cruzar a linha de chegada de um desafio que a pouco tempo atrás julgava quase impossível de se fazer.

Como sempre buscamos melhoras, a partir de minha segunda prova já visava a performance, tentando diminuir o tempo final da prova.

As provas que mais me marcaram, foram a de 2004 por ter sido a primeira, a de 2005, por ter “quebrado” na corrida, mas no final, conseguir um terceiro lugar na categoria e levar o tão sonhado troféu para casa. A de 2007, quando consegui reduzir meu tempo final de prova consideravelmente, para a casa das 09h25; 2012 onde fiz a chegada mais emocionante de todas, pois disputava a terceira colocação na categoria com o Marcos Vinicius de Faria e até entrar na Av. Búzios estava em quarto lugar, então lembrei do Mark Allen em uma entrevista, falando sobra a IRON WAR com Dave Scott, onde no momento em que ele se distanciou do Dave, ouviu uma voz dizendo “just go!” e pensando nisso disparei em um tiro nos últimos três km da prova conseguindo a terceira colocação. Além das provas citadas, o Ironman de 2015 me marcou pelo fato de ter chegado próximo das 9h de prova, pois fiz 09h04. Finalmente essa de 2016, sem dúvida alguma, no geral, foi o ápice desde que comecei no longa distância. Prova dura, porém impecável. Natação forte, um pedal constante, apesar do vento contra no retorno da segunda volta, que me fez sair em um ótimo ritmo para a última etapa. Na maratona, consegui por em prática todo o treinamento desenvolvido junto à HF Treinamento Esportivo em BH, o que resultou no meu sonhado sub-9 e primeira colocação na categoria e Geral Amador.

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MundoTRI: Quanto tempo demorou para começar a andar bem de verdade? Lembro-me que você viveu no sertão nordestino um tempo. Chegou a parar de treinar lá ou em algum período?

Felipe Dayrell: Considero que comecei a andar forte nas provas de Ironman a partir de 2011, quando consegui chegar perto das 09h15 de prova. Desse ano em diante, sempre baixei os tempos, pouco a pouco, em busca do sub-9!

Trabalhei no interior do Ceará no ano de 2009, que por sinal desde 2004, foi o único ano o qual não participei do Ironman FLORIPA, porém neste ano, competi a duríssima prova “Cabra da Peste e Mulher Guerreira” na distancia Ironman, realizada pela FETRIECE. Tenho 4 participações em provas do Cabra da Peste e me orgulho muito disso por se tratar de um super desafio. Devo meu segundo lugar geral no Ironman FORTALEZA no ano passado a essa prova, que me ensinou como correr em um percurso tão difícil e superar as adversidades, mantendo sempre a concentração. Em 2010 fui para o interior de Rondônia, onde treinei para o Ironman FLORIPA 2010. Estava a dois anos e meio sem dar uma braçada, pois não havia piscina para treinar. A prova foi duríssima devido as condições de treino e preparação, porém nunca deixei de fazer força em nenhuma prova de Ironman, estando bem ou mal preparado, o famoso #deathbeforednf.

MundoTRI: Você é conhecido por ser sempre muito energético, acordar cedo e treinar todos os dias com muita vontade. De onde vem toda essa fortaleza mental.

Felipe Dayrell: Creio que isso, a princípio, vem de família onde me inspirei muito no meu pai, em sua força de vontade com as dificuldades da vida em geral e no trabalho, onde era exemplar. Além disso, aprendi muito com os treinos na equipe de natação do Minas Tênis Clube em BH, onde a partir dos 14 anos de idade fazíamos treinos duplos com a primeira seção às 5:00 da manhã. Já citei isso no Facebook, mas vale ressaltar: meu ex-técnico Mauro Dinis, um dia chegou para mim e disse; “se você faltar mais um treino de natação estará fora da minha equipe”. Nunca mais faltei treino e “virei a chave” saindo da zona de conforto e procurando sempre dar o meu melhor. Outro fator é o pessoal. Isso eu chamo de “ter a essência”, ou seja, amar o esporte e tentar se superar a cada treino e a cada prova. Encaro o Ironman como um desafio extremamente pessoal, nunca visando em vencer este ou aquele adversário. Faço a minha prova, da melhor maneira possível. Vou em busca da minha superação pessoal e o que vier é consequência.

MundoTRI: Você já se classificou para Kona diversas vezes, mas nunca foi, por quê? Pretende ir algum dia?

Felipe Dayrell: Kona é o sonho de quase todos os atletas que fazem o Ironman. Foi onde tudo começou e onde a magia do esporte esta mais forte, realmente um lugar diferenciado. Tenho um grande desejo de correr o Ironman do Havaí, ainda mais na atualidade onde encontro-me muito bem preparado mental e fisicamente. Nunca fui para o mundial devido, na maioria das vezes, ao trabalho e a falta de tempo. Sou engenheiro de formação e trabalhava em empresas de construção onde a mentalidade das pessoas é um pouco diferente. Na época do Ironman do Havaí, as obras estavam a pleno vapor e não havia possibilidade de sair de férias ou simplesmente chegar para o meu chefe e dizer: “Chefe, me libere uns dias para eu correr o Ironman lá no Havaí…” Falar isso era o mesmo que pedir demissão.

Pelo fato de já ter conseguido a vaga para o mundial em algumas oportunidades, sei que com um bom planejamento na atualidade, ainda irei disputar essa prova mágica. Tenho muita vontade em participar do Ironman do Havaí. Agora trabalho por conta própria e falta acertar apenas a parte financeira para programar a ida para Kona.

MundoTRI: Você é famoso por não se ater muito a dispositivos tecnológicos e a manter as coisas bastante simples, inclusive treinando e competindo sem relógio! Como isso o ajuda?

Felipe Dayrell: Bom, primeiramente sou fã de carteirinha dos caras “Old School” do Ironman, como o Mark Allen, Dave Scott, Cristian Bustos, Alexandre Ribeiro, Fernanda Keller entre outros monstros do long distance pelo mundo. Na época deles, o que contava era o “motor” e não o medidor de potência, o relógio que monitora o pace na corrida, o batimento cardíaco etc.. A suplementação e os equipamentos eram infinitamente inferiores aos encontrados hoje no mercado e essa galera tocava o terror nas provas de Ironman. Por aí já da para se ter uma ideia.

Em minha opinião, a tecnologia e suplementação devem vir como auxílio nos treinos e performance do atleta, porém muitos apostam nisso como a salvação e o caminho para melhora de seus tempos até a tão sonhada vaga para o Mundial de Ironman do Havaí.

Para se ter uma ideia, só comprei um GPS neste ano de 2016. Ano passado corri Fortaleza com um emprestado. Ate então nunca havia utilizado esse tipo de tecnologia em treinos e provas.

MundoTRI: Durante anos você treinou sozinho, sem treinador. Isso o ajudou a conhece-lo melhor?

Felipe Dayrell: Sem dúvida. Sempre procurei levar meu corpo ao limite nos treinos e provas para saber ate onde conseguiria chegar. Minha grande experiência vem desse período e da troca de ideias com grandes amigos e atletas em BH sobre a prova.

MundoTRI: Por que decidiu optar por um treinador de corrida neste último Iron?

Felipe Dayrell: Essa historia é engraçada. Sou amigo do Heleno Fortes, da HF Treinamento Esportivo, desde 1995. Sempre treinamos no mesmo local em Belo Horizonte, no Bairro Belvedere, e no ano passado, fui convidado pela HF a treinar com eles a parte de corrida para tentar atingir meu objetivo máximo de fazer o sub-9 em Floripa 2016.

No ano passado, realizei vários treinos longos de corrida com o pessoal da HF e consegui fazer a maratona do Ironman 2015 em Floripa para 03:09 hs. Faltou pouco. Então pensei: se quero melhorar na corrida, vou treinar como um corredor de verdade. Fui convidado pelos caras, a equipe é de ponta, estou a cinco minutos do meu sonho… Por que não apostar nisso? Apostei e deu certo. Melhorei absurdamente a parte de corrida com os treinos na HF, e consegui atingir meu sonho.

Encaro o Ironman como um desafio extremamente pessoal, nunca visando em vencer este ou aquele adversário. Faço a minha prova, da melhor maneira possível. Vou em busca da minha superação pessoal e o que vier é consequência.

MundoTRI: Você tem ótimos resultados em provas duras, como as em Fortaleza. Hoje em dia, muitos atletas só fazem a provas de clima ameno e planas. Como você vê esse cenário atual?

Felipe Dayrell: Isso é uma coisa muito pessoal. Ironman é duro de qualquer maneira, mas quando o mar é mais agitado, o vento é constante e o calor mais intenso, você se supera cada vez mais. Leva seu corpo e mente a um desafio pessoal muito maior e eu gosto disso. Competir em clima como o de Florianópolis, a maioria dos atletas gostam, porem em Fortaleza, onde as condições de mar, vento no ciclismo e calor na corrida são mais intensos, nem todos se identificam. Mas o pensamento é o seguinte: se a prova está dura para você, está dura para todo mundo. Por isso nem sempre o atleta mais treinado vence e sim o que está em melhor equilíbrio físico e mental. Isso é muito legal nas provas de Ironman.

MundoTRI: O que diria para quem pretende fazer seu primeiro Iron nos próximos?

Felipe Dayrell: Primeiramente, faça para si mesmo. Você não tem que provar nada para ninguém a não ser para você mesmo. Segundo, treine bastante, absorva muitas informações tanto de seu técnico quanto de atletas mais experientes. Absorva as coisas boas e descarte as coisas ruins. Nem sempre nas provas de Iron a teoria supera a prática! Lembrem-se disso! Procure sempre se superar nos treinos e realizar toda a sua periodização sem matar treinos. Foco no objetivo. As metas devem ser cumpridas para se alcançar o objetivo!… E finalmente, faça tudo com paixão, pois não há nada melhor do que isso! É muito gratificante. #nopainnogain #gohradorgohome

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MundoTRI: Algum agradecimento especial pela conquista?

Felipe Dayrell: Agradeço a todos que torceram e torcem por mim. Agradeço também aos que achavam que eu não seria capaz de atingir meu objetivo, pois isso só me deu mais forças. Eu gosto de desafios. Agradeço a Equipe de Triathlon do Minas Tênis Clube, que no momento me auxiliou na parte de natação com a coach Ericka Sales e a galera. Agradeço a todos que me acompanharam em qualquer treino que eu tenha feito esse ano, pois sabemos que é muito difícil treinar para um Ironman e a companhia em determinados momentos é essencial. Um agradecimento especial ao Luiz Renato Topan, que foi um grande companheiro nos treinos de natação e nos treinos de ciclismo aos domingos; e finalmente aos técnicos de corrida Heleno Fortes, Volnei Prado e demais integrantes da HF Treinamento Esportivo por terem impulsionado minha performance na maratona. Agradeço também ao MundoTRI pela oportunidade e ótimas fotos em todas as provas que participo. Estou muito feliz e quero curtir esse momento com todos antes de pensar em meu próximo desafio.

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