Métodos anticoncepcionais: aliados da corredora

Atualizado em 08 de agosto de 2016

Por Fernanda Silva

Quando se fala em ciclo menstrual, você, corredora, já deve imaginar como as dores de cabeça, cólicas, inchaço e outros sintomas da TPM (tensão pré-menstrual) poderão atrapalhar seus treinos. Algumas atletas, entretanto, têm buscado driblar esses sintomas pelo uso correto e regular dos anticoncepcionais. Além de prevenir a gravidez, eles são capazes de proporcionar equilíbrio hormonal e benefícios que vão além dos ginecológicos.

Apesar dos vários métodos disponíveis, a opção mais comum ainda são os orais. Além de possibilitarem melhor controle, são mais práticos e possuem diversas dosagens e composições. A maioria das pílulas é feita com dois hormônios combinados: o estrogênio e a progesterona, e deve ser ingerida diariamente do final da menstruação até o término da cartela. E vale lembrar: os comprimidos devem ser tomados no mesmo horário, para não prejudicar seu efeito.

Há também as versões de uso contínuo, algumas com os hormônios estrogênio e progesterona combinados, e outros que levam apenas progesterona — indicados para mulheres que estão em fase de amamentação, já que o estrogênio pode interferir na produção do leite. “Essas são boas opções para atletas, pois diminuem e até interrompem o fluxo menstrual — cortando os efeitos da TPM — e ainda possibilitam programar a menstruação de acordo com treinos e provas”, explica a ginecologista Paula Vilela Gherpelli.

É importante ressaltar que as pílulas não influenciam negativamente a performance. “O que pode acontecer é a diminuição da quantidade de hormônio masculino no organismo, mas isso não é um fato relevante no condicionamento”, acrescenta Paula.

Um estudo sueco comprova que as pílulas anticoncepcionais podem trazer benefícios para as atletas. Os especialistas analisaram dezenas de jogadoras de futebol profissionais e descobriram que elas estavam mais suscetíveis a lesões traumáticas (ósseas) durante o período pré-menstrual e menstrual. Em contrapartida, as que disseram utilizar a pílula apresentaram menor taxa de lesões. Isso se explica pelo fato de os contraceptivos atenuarem alguns sintomas comuns que podem afetar a coordenação nos períodos citados — e, consequentemente, aumentar o risco de contusões.

Mas fique atenta: as pílulas são um medicamento e têm contraindicações. Podem causar irritação gástrica, problemas cardiovasculares, perda ou aumento de peso, dores de cabeça e até trombose, entre outros efeitos colaterais. Por isso, antes de começar qualquer tratamento, consulte um ginecologista, pois só um especialista poderá avaliar qual é a melhor opção para você, levando em consideração seu quadro clínico atual, sua rotina e treinamentos. E não se esqueça, o uso de anticoncepcionais não anula os benefícios dos preservativos no combate às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).

QUAL ESCOLHER?

Apesar de serem a forma anticoncepcional mais comum, as pílulas não são a única opção. Outros método s também são eficazes e podem ser boa escolha. Veja a seguir os principais disponíveis e conheça seus benefícios para a performance esportiva .

Pílulas orais
As combinadas devem ser tomadas todos os dias até a pausa, quando ocorre a menstruação. Já as de uso contínuo funcionam sem interrupção e diminuem ou suspendem o fluxo.
É bom para a corredora, pois diminui o fluxo e o mantém regulado (pílulas mensais). Já as de uso contínuo podem ser boa opção para atletas que querem se programar para uma prova e não ter o rendimento comprometido pelo ciclo.
Preço: entre R$ 5 e R$ 60, dependendo dos componentes.

Injetável
São aplicadas uma vez por mês ou a cada três meses. Boa alternativa para quem fazuso de outra medicação que possa diminuir a absorção do anticoncepcional via oral,como alguns antibióticos e antifúngicos.
É bom para a corredora que não quer suspender o fluxo menstrual, masbusca maior regularidade no ciclo. Mas cuidado! Esse método pode interferir naprodução de estrogênio e comprometer a qualidade da massa óssea.
Preço: cerca de R$ 25 a mensal e R$ 30 a trimestral.

Adesivo transdérmico
Ao ser colocado na pele, passa a absorver os hormônios. Como cada adesivodura uma semana, são feitas três trocas seguidas pela própria paciente. Na quartasemana, há uma pausa para a menstruação e o ciclo recomeça.
É bom para a corredora porque regula o ciclo sem interromper osangramento. Cuidado apenas para não desgrudar por conta do suor.
Preço: entre R$ 45 e R$ 90, dependendo da quantidade de adesivos.

Anel vaginal
É colocado no fundo da vagina e mantido no local por três semanas — tempo em que permanece liberando hormônios. Depois disso, a mulher menstrua.
É bom para a corredora que quer regular o ciclo sem cortar o sangramento menstrual.
Preço: cerca de R$ 50 cada anel.

Implante subdérmico
É inserido sob a pele, na região do braço. Libera o hormônio no organismo (progesterona) e tem duração de três anos.
É bom para a corredora que não quer mais menstruar, pois, na maioria dos casos, suspende o fluxo menstrual, evitando também sintomas da TPM .
Preço: entre R$ 500 e R$ 900 (sem a taxa médica).

DIU (Dispositivo Intrauterino)
Funciona da mesma maneira que os outros métodos (liberação de hormônios), porém, com duração de cinco anos (a versão de cobre pode durar de três anos a dez anos).
É bom para a corredora, pois funciona de forma parecida com o implante de progesterona, amenizando muito ou suspendendo a menstruação.
Preço: entre R$ 800 e R$ 1.200, dependendo da opção escolhida (sem a taxa médica).


Vale lembrar: Essas fases podem sofrer variações, principalmente quando os ciclos menstruais são irregulares, como no caso de corredoras que buscam alto rendimento (devido à intensidade dos treinamentos). Atletas com esse perfil podem chegar ainda a um quadro de amenorreia, quando há falta de menstruação durante três meses consecutivos ou mais.

 

Fontes: Paula Vilela Gherpelli é ginecologista e obstetra formada pela USP , atualmente é responsável pelo ambulatório de ginecologia do esporte do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP . Célia Regina da Silva é mestre em ginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro da Comissão de Planejamento Familiar da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ)

(Matéria publicada pela Revista O2, edição 125, setembro de 2013)