Ataque pelas costas da corredora

Atualizado em 05 de agosto de 2016

Por Fernanda Silva

A dor lombar crônica, mais conhecida como lombalgia, é a segunda doença de maior incidência mundial, perdendo apenas para o resfriado. As estatísticas não são precisas, mas alguns especialistas garantem que oito em cada dez pessoas em todo o mundo tem ou terá algum tipo de dor nas costas, seja crônico ou apenas esporádico. Em pessoas que praticam atividades físicas, basta um treinamento mal dosado, ou uma postura incorreta, para ela se manifestar. Até aí, nenhuma novidade. O que chama a atenção é a distribuição sexual dessa patologia no, digamos assim, ranking das pessoas que mais sofrem algum desconforto nas costas. De acordo com um estudo do Spine Center, centro do Hospital do Coração (HCor) especializado no tratamento de coluna, realizado com 240 corredores de rua, o problema atinge sobretudo as mulheres, na proporção de 5 para 4 homens (49,5% das corredoras, contra 39,3% dos corredores, queixaram-se de dores nessa região do corpo). A boa notícia é que alguns cuidados, porém, podem aliviar e até prevenir o problema.

O ataque pelas costas é uma síndrome com várias causas, podendo ser decorrente de problemas no músculo, ossos, disco e articulações, e com a possibilidade de se tornar crônica quando ultrapassa três meses de duração. No caso dos praticantes de corrida de rua, considerada uma atividade física de alto impacto para o corpo, fatores como idade mais avançada, sobrepeso, maus hábitos posturais e treinamento inadequado são preponderantes para o surgimento dessas dores.

leiamais-cinza-novo
icon texto_menor  A ROTINA CORRIDA DA MAMÃE QUE TREINA
icon texto_menor  AI, QUE DOR FORTE NAS CADEIRAS
icon texto_menor  MENOS FORÇA, MAIS VONTADE NA CORRIDA

A pesquisa do HCor mostrou também que corredoras com mais de 40 anos têm risco duas vezes maior de sofrerem dores crônicas na coluna. “Além disso, as mulheres que estão acima do peso têm 50% mais chances de desenvolver o problema, enquanto os homens nessa mesma situação não são tão afetados”, explica João Amadera, fisiatra intervencionista do Spine Center.

Descubra e entenda
A coluna vertebral é formada por ossos, ligamentos, músculos e tendões. Em seu interior passam a medula espinhal e os nervos que saem dela. A região apresenta três curvas naturais móveis: cervical, dorsal e lombar, cada uma com um grau de desenvolvimento em todos os indivíduos. Um ponto importante é que certas características do corpo feminino facilitam o problema, já que a curva lombar é mais pronunciada na mulher do que no homem. Com a idade, ainda aumentam as curvas dorsal (cifose) e a lombar (lordose). Por conta dessa constituição física “mais frágil”, no que diz respeito à musculatura, articulações e tendões, as mulheres precisam ter um bom treinamento e preparo físico. “Por isso, exercícios estabilizadores do tronco, que não agravem a dor (se já houver), são indispensáveis para o trabalho de fortalecimento”, recomenda Daniel Pimentel, fisiatra do Spine Center. Isso implica manter uma boa regularidade nos treinos, para que dessa forma a coluna não fique sujeita a lesões por fraqueza.

O oposto também é um problema. “O excesso de treino sem o devido descanso se acumula sob a forma de degeneração discal, hérnias de disco, artrite e artrose na coluna”, explica Pimentel. Isso porque, sempre que corremos, o impacto das passadas é transmitido pelos pés, passando pelas pernas e atingindo a coluna, onde causa microtraumatismos. Esses pequenos traumas nas estruturas da coluna necessitam de um tempo para se regenerarem. Portanto, durante o período de regeneração, é importante que se observe repouso ou, então, que se realize alguma outra atividade física de baixo impacto.

Raio X do problema
Se a dor na região da coluna já afeta sua rotina, corredora, o melhor a ser feito é diminuir ou até interromper seus treinamentos, após uma conversa com seu treinador e a visita a um médico especialista. “Se a corrida não está confortável com a dor nas costas, então é válido tentar outra modalidade esportiva, como natação, ciclismo ou outra atividade para manter a forma e a motivação”, indica o dr. João Amadera. Entre essas outras atividades, a caminhada é um exercício excelente durante o processo de recuperação.

Parar de correr… Sim ou não?
Apesar de a corrida apresentar maior impacto, o que pode gerar algum desconforto lombar, manter os treinamentos melhora a recuperação. O treinador Leandro Sandoval, diretor técnico da Life Training Assessoria Esportiva, está nesse time. “Não recomendo o afastamento imediato da corrida, mas, ao primeiro sinal de dor, indico que se evite fazer subidas — já que trabalham muito a região das costas — e que se passe a variar no tipo de piso, procurando um gramado ou piso de terra batida, e desacelere.” Mas, e se a dor persistir? “Nesse caso, reduza a quantidade de quilômetros rodados por semana, a velocidade dos treinos e, ao mesmo tempo, procure um médico especializado”, receita Sandoval. Ficar parado, só em último caso. A inatividade pode se transformar em uma incapacitação — o que pode levar à depressão e a mais dor. Resumindo: em caso de dor, movimente-se!

(Fontes: João Amadera e Daniel Pimentel, fisiatras do Spine Center do Hospital do Coração. Lafayette Lage, ortopedista especializado em Cirurgia de Quadril e Joelho e em Medicina Desportiva pela Unifesp. Leandro Sandoval, treinador e diretor técnico da Life Training Assessoria Esportiva)

(Matéria publicada na Revista O2 – edição #111 – julho de 2011)