Anticoncepcionais: aliados da corredora

Atualizado em 29 de junho de 2017

Por Fernanda Silva

Quando se fala em ciclo menstrual, você, corredora, já deve imaginar como as dores de cabeça, cólicas, inchaço e outros sintomas da TPM (tensão pré-menstrual) poderão atrapalhar seus treinos. Algumas atletas, entretanto, têm buscado driblar esses sintomas pelo uso correto e regular dos anticoncepcionais. Além de prevenir a gravidez, eles são capazes de proporcionar equilíbrio hormonal e benefícios que vão além dos ginecológicos.

Apesar dos vários métodos disponíveis, a opção mais comum ainda são os orais. Além de possibilitarem melhor controle, são mais práticos e possuem diversas dosagens e composições. A maioria das pílulas é feita com dois hormônios combinados: o estrogênio e a progesterona, e deve ser ingerida diariamente do final da menstruação até o término da cartela. E vale lembrar: os comprimidos devem ser tomados no mesmo horário, para não prejudicar seu efeito.

Há também as versões de uso contínuo, algumas com os hormônios estrogênio e progesterona combinados, e outros que levam apenas progesterona — indicados para mulheres que estão em fase de amamentação, já que o estrogênio pode interferir na produção do leite. “Essas são boas opções para atletas, pois diminuem e até interrompem o fluxo menstrual — cortando os efeitos da TPM — e ainda possibilitam programar a menstruação de acordo com treinos e provas”, explica a ginecologista Paula Vilela Gherpelli.

É importante ressaltar que as pílulas não influenciam negativamente a performance. “O que pode acontecer é a diminuição da quantidade de hormônio masculino no organismo, mas isso não é um fato relevante no condicionamento”, acrescenta Paula.

Um estudo sueco comprova que as pílulas anticoncepcionais podem trazer benefícios para as atletas. Os especialistas analisaram dezenas de jogadoras de futebol profissionais e descobriram que elas estavam mais suscetíveis a lesões traumáticas (ósseas) durante o período pré-menstrual e menstrual. Em contrapartida, as que disseram utilizar a pílula apresentaram menor taxa de lesões. Isso se explica pelo fato de os contraceptivos atenuarem alguns sintomas comuns que podem afetar a coordenação nos períodos citados — e, consequentemente, aumentar o risco de contusões.

Mas fique atenta: as pílulas são um medicamento e têm contraindicações. Podem causar irritação gástrica, problemas cardiovasculares, perda ou aumento de peso, dores de cabeça e até trombose, entre outros efeitos colaterais. Por isso, antes de começar qualquer tratamento, consulte um ginecologista, pois só um especialista poderá avaliar qual é a melhor opção para você, levando em consideração seu quadro clínico atual, sua rotina e treinamentos. E não se esqueça, o uso de anticoncepcionais não anula os benefícios dos preservativos no combate às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).

Qual escolher?
Apesar de serem a forma an ticonc epciona l mais co mum, as pílulas não são a única opção. Outros método s também são efica zes e pod em ser boa esco lha. Veja a seguir os princ ipais dispon íveis e con heça seus benefícios para a performanc e esportiva .

Pílulas orais
As combinadas devem ser tomadas todos os dias até a pausa, quando ocorre a menstruação. Já as de uso contínuo funcionam sem interrupção e diminuem ou suspendem o fluxo. É bom para A corredora, pois diminui o fluxo e o mantém regulado (pílulas mensais). Já as de uso contínuo podem ser boa opção para atletas que querem se programar para uma prova e não ter o rendimento comprometido pelo ciclo.
Preço: entre R$ 5 e R$ 60, dependendo dos componentes.

Injetável
São aplicadas uma vez por mês ou a cada três meses. Boa alternativa para quem faz uso de outra medicação que possa diminuir a absorção do anticoncepcional via oral, como alguns antibióticos e antifúngicos. É bom para a corredora que não quer suspender o fluxo menstrual, mas busca maior regularidade no ciclo. Mas cuidado! Esse método pode interferir na produção de estrogênio e comprometer a qualidade da massa óssea.
Preço: cerca de R$ 25 a mensal e R$ 30 a trimestral.

Adesivo transdérmico
Ao ser colocado na pele, passa a absorver os hormônios. Como cada adesivo dura uma semana, são feitas três trocas seguidas pela própria paciente. Na quarta semana, há uma pausa para a menstruação e o ciclo recomeça. É bom para a corredora porque regula o ciclo sem interromper o sangramento. Cuidado apenas para não desgrudar por conta do suor.
Preço: entre R$ 45 e R$ 90, dependendo da quantidade de adesivos.

Anel vaginal
É colocado no fundo da vagina e mantido no local por três semanas — tempo em que permanece liberando hormônios. Depois disso, a mulher menstrua. É bom para a corredora que quer regular o ciclo sem cortar o sangramento menstrual.
Preço: cerca de R$ 50 cada anel.

Implante subdérmico
É inserido sob a pele, na região do braço. Libera o hormônio no organismo (progesterona) e tem duração de três anos. É bom para a corredora que não quer mais menstruar, pois, na maioria dos casos, suspende o fluxo menstrual, evitando também sintomas da TPM.
Preço: entre R$ 500 e R$ 900 (sem a taxa médica).

DIU (Dispositivo Intrauterino)
Funciona da mesma maneira que os outros métodos (liberação de hormônios), porém, com duração de cinco anos (a versão de cobre pode durar de três anos a dez anos). É bom para a corredora, pois funciona de forma parecida com o implante de progesterona, amenizando muito ou suspendendo a menstruação.
Preço: entre R$ 800 e R$ 1.200, dependendo da opção escolhida (sem a taxa médica).

Entendendo seu ciclo
Saber como funciona o seu ciclo pod e ajudá-la a desco brir qual é o melhor período para competir ou treinar com mais intensidade, já que as mudanças hormonais podem atrapalhar sua performance. Veja abaixo:

Fase pré-menstrual
(23º ao 28º dia)
Na fase pré-menstrual, há o aumento nos níveis de progesterona (hormônio masculino), que pode causar um desequilíbrio hormonal e levar à queda de desempenho. A maior irritabilidade e alterações de humor ocorrem por causa dessas mudanças e também podem interferir na disposição física.

Fase intermenstrual
(12º ao 22º dia)
Esse é o período em que ocorre a ovulação. É possível dizer que é o momento em que a mulher se encontra em estado mais equilibrado no quesito hormonal e não há uma influência representativa no rendimento.

Fase da menstruação ou fluxo
(1º ao 5º ou 7º dia)
Durante o período menstrual, há redução na capacidade de concentração e fadiga muscular, fazendo com que este não seja o melhor momento para performance. “Não significa que a atleta não pode correr, mas a disposição e o rendimento sofrerão uma queda”, diz a ginecologista Paula Vilela.

Fase pós-menstrual
(5º ou 7º dia ao 11º dia)
Na fase pós-menstrual há uma melhora significativa na performance, por conta do aumento de estrogênio e de outros hormônios no organismo. “Há ainda maior secreção de noradrenalina, que influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação, melhorando o rendimento”, explica a ginecologista Célia Regina.

* Vale lembrar: Essas fases podem sofrer variações, principalmente quando os ciclos menstruais são irregulares, como no caso de corredoras que buscam alto rendimento (devido à intensidade dos treinamentos). Atletas com esse perfil podem chegar ainda a um quadro de amenorreia, quando há falta de menstruação durante três meses consecutivos ou mais.

(Fontes: Paula Vilela Gherpelli é ginecologista e obstetra formada pela USP com especialização em ginecologia do esporte, Célia Regina da Silva é mestre em ginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro da Comissão de Planejamento Familiar da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ)

(Matéria publicada na Revista O2 – edição #125 – setembro de 2013)