“Pai do taekwondo brasileiro” tem muitas histórias para contar

Atualizado em 20 de abril de 2016
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O taekwondo é uma modalidades olímpicas com mais de 70 milhões de praticantes em todo o mundo. Só no Brasil, são mais de 500 mil praticantes. E se, hoje, o esporte caiu na graça dos brasileiros e até de atletas, como Diogo Silva e Natalia Falavigna, campeões da modalidade em competições internacionais, tudo se deve a um homem que nasceu na longínqua Haenam, na Coreia do Sul.

Sang Min Cho, 75, começou a lutar taekwondo, antes conhecido como "karatê coreano", com 17 anos. Mas antes de se tornar mestre ele apanhou muito em outra tipo de luta. “Morava no interior e comecei a praticar boxe. Como boxeador, apanhava bastante. Por isso, resolvi praticar outro tipo de luta. Comecei  o karatê com amigos”. Ele se desenvolveu até se tornar mestre na luta que, em 1955, foi um pouco alterada até se tornar o (atual) taekwondo.

Na infância e juventude do mestre Cho, a Coreia do Sul vivia sob influência do Japão. A população sofria por causa da guerra entre as duas Coreias (Sul e Norte) e a 2ª Guerra Mundial. Durante esse período, o chefe do governo da Coreia do Sul, o general Choi Hong Hi, resolveu espalhar a nova luta pelo país. Seria a genuína arte marcial coreana.

“O general Choi pretendia levar o taekwondo para outros países. Isso, por volta de 1960. Primeiro, começou na Ásia. Alguns mestres foram para o Vietnã, outros para a Malásia. Mais tarde, a arte marcial chegou na América, primeiro nos Estados Unidos e depois no Brasil”. conta mestre Cho, que no fim dos anos 60, foi encarregado de trazer a modalidade para o país do futebol.

Ele chegou em junho  de 1970 ao Brasil e, em seus primeiros dias, passou por dificuldades para se adaptar e divulgar a modalidade. Sua primeira luta foi contra o idioma. “Não falava nenhuma palavra em português. Não me acostumava com a cultura brasileira. Cheguei aqui despreparado, somente com U$ 100 no bolso. Pensei em desistir e ir para outro país”.

Mas, não demorou muito para as boas noticias chegarem. Pouco tempo depois, assinou contrato com a Academia Liberdade, em São Paulo, onde começou a dar aulas. Depois de dois meses, apesar do crescimento da comunidade coreana no bairro japonês da Liberdade,  na capital paulista, ele não tinha alunos. “Todos achavam que lutava karatê coreano, mas fazia questão de deixar claro que lutávamos taekwondo.”

Dois anos depois, quando o taekwondo já estava espalhado por alguns estados do Brasil, ele ficou sabendo, por meio do mestre estabelecido no Rio de Janeiro, sobre o desafio de um lutador de jiu-jitsu da tradicional família Gracie.  “Disse para mestre marcar a data da luta e chamar a polícia, porque se for para lutar, tem que ser até a morte”.  O desafiante desistiu e até hoje são bons amigos. Ele diz que respeita todas as artes marciais, ainda mais o jiu-jitsu, que cresceu muito no Brasil desde o desafio.

“Já estou há 43 anos no Brasil e penso que o taekwondo está indo bem, mas poderia melhorar nos campeonatos internacionais. Temos mais de 500 mil praticantes, nos 27 estados. Sempre falo com os mestres brasileiros: somente quando o país investir em educação o esporte pode crescer em nível mundial”, aconselha Sang Min Cho, presidente de uma entidade mundial de taekwondo, criada por ele e por outros mestres pioneiros da modalidade. O objetivo é unificar o esporte e fazer com que a arte marcial coreana volte às raízes, além de aprimorar a qualidade de mestres e professores.

Ele acredita no potencial do taekwondo praticado pelos brasileiros  e, com sabedoria digna de um mestre oriental retratado nos filmes, aponta o caminho para atingi-lo.  “O Brasil pode crescer ainda mais, porém é preciso investir em juízes para que as competições nacionais se tornem mais fortes. O brasileiro tem uma boa técnica, mas precisa primeiro se desenvolver dentro do país, para depois pensar em grandes resultados internacionais”.

Ao ser questionado sobre quais são as maiores potências na arte marcial atualmente, mestre Cho respondeu de forma surpreendente. “Para mim, o melhor país é o que mais evolui, e o taekwondo brasileiro melhorou muito. O mais importante é organizar campeonatos internos de bom nível, desenvolver as federações e juízes. Países como Egito, Indonésia, Estados Unidos, Rússia, e Brasil estão nesse caminho”, diz o coreano, que tem essas e outras histórias registradas em sua biografia, publicada recentemente pela Prata Editora. O autor do livro é Eduardo Infante, um velho conhecido do patriarca da arte marcial coreana no Brasil.

Eduardo começou a treinar com mestre Cho quando tinha 8 anos de idade. Por acaso, morava próximo perto da academia do coreano. “Vi fotos impressionantes de chutes e pulos muito altos. Ele quebrava telhas e madeiras com chutes e isso impressiona uma criança. Então, falei comigo mesmo: quero aprender isso”, conta Eduardo que, apesar de ser mestre de taekwondo e faixa preta no 5º Dan, não dá aulas. Ele se dedica a sua vida literária e pratica a arte marcial, apenas, para ganhar condicionamento físico.

A ideia do livro surgiu quando Eduardo se deu conta de que a história do mestre Cho, e a própria figura do “pai do taekwondo brasileiro”, estava se perdendo. Ele diz ser muito comum faixas pretas da modalidade saberem o nome dele, mas não conhecerem sua história. “Acredito que não dão ao mestre Cho o credito que merece, pois tudo que o taekwondo brasileiro conseguiu até hoje se deve a ele. Para mim foi um prazer escrever o livro”, completa o escritor e editor.