Nutrição esportiva: as propriedades da cafeína

Atualizado em 27 de junho de 2017
Mais em Mais Esportes

A cafeína é um estimulante muito usado no mundo, e não deve ser considerada como sinônimo de café, pois é apenas uma das centenas de substâncias encontradas no café. Este estimulante está presente em fontes da alimentação diária como café, chá, chocolate, cacau e colas, em uma variedade de plantas, e em medicamentos não prescritos (*1,8).

Por uma ampla variedade de fontes alimentares e não alimentares, a cafeína é considerada hoje como a substância psicoativa mais consumida em todo o mundo, socialmente aceita por pessoas de todas as idades, independente do sexo e da localização geográfica (*10).

A cafeína é tida como um suplemento ergogênico nutricional (um suplemento é considerado ergogênico quando aumenta o rendimento esportivo), mas não possui nenhum valor nutricional. Ela é facilmente absorvida pelo estômago e atinge seu ponto máximo no sangue entre 1 e 2 horas, e tem o potencial de afetar todos os sistemas do corpo, já que é absorvida pela maioria dos tecidos (*8).

CAFEÍNA E ESPORTE

Os efeitos da cafeína para reduzir a fadiga, aumentar a disposição e o estado de alerta são reconhecidos e estudados há séculos. Esses estudos mostram que a cafeína pode influenciar indiretamente na performance, permitindo que o indivíduo se exercite com maiores intensidades e/ ou por um período maior, reduzindo dor e/ou sensação de força, através do efeito que é causado no Sistema Nervoso Central.

E ainda pode melhorar as funções do músculo esquelético através do aumento da produção de força (*1,2,3,4).  As evidências mostram que o máximo benefício da cafeína é mostrado com pequenas à médias concentrações de 2 à 3 mg/kg de peso corporal, que é facilmente consumida pela maioria da população (em média 3 xícaras de café chegam nesse valor).

Esses benefícios ocorrem em diferentes tipos de esportes, incluindo esportes de endurance, explosão e “stop-and-go” (exemplo: futebol) (*4).

CAFEÍNA E EFEITOS COLATERAIS 

A cafeína é relativamente segura, mas as tolerâncias individuais variam e com isso pode haver efeitos colaterais. O consumo excessivo pode provocar ansiedade, nervosismo, dificuldade de concentração, mal-estar gastrointestinal, insônia, irritabilidade e, com altas, doses, riscos de arritmias cardíacas e leves alucinações.

Além disso, pode ocorrer um aumento na temperatura corporal, podendo prejudicar o desempenho em exercícios realizados em altas temperaturas. E por aumentar a diurese, pode promover a desidratação (*5,6,7,8). Antes de começar a consumir o ergogênico, os efeitos devem ser analisados, assim como a política do esporte, a influência do esporte, a hidratação, a influência no sono e a alimentação. Por isso é sempre bom consultar uma nutricionista para obter um melhor resultado.  

CAFEÍNA E O DOPING

Em 1984, nos Jogos Olímpicos de Verão em Los Angeles foi realizada pelo COI uma introdução para o programa antidoping. Na lista de substâncias proibidas, a cafeína estava incluída com um excesso de 15 mgc/ml na urina. Esta margem abaixou para 12 mgc/ml em 1985, isto corresponde a uma ingestão de 5- 6mg/kg (*4).

Para vocês entenderem melhor, se uma pessoa de 70 kg beber rapidamente cerca de 3 à 4 canecas ou 5 à 6 xícaras de café filtrado uma hora antes do exercício, com duração no máximo de 1 hora e meia, se a coleta da urina for feita logo após o exercício alcançaria o limite máximo de 12mgc/ml. A probabilidade de se alcançar o limite através da ingestão normal de cafeína é baixa, com a exceção da ingestão de doses altamente concentradas (*8).

Porém, no novo milênio esses conceitos mudaram. Os resultados metabólicos variam com os atletas e agora reconhecem que a cafeína excretada na urina não tem utilidade prática como marcador da quantidade de cafeína ingerida. Não existe distinção para a cafeína socialmente consumida e para a cafeína consumida com objetivo de aumentar a performance.

Em 1999 foi criada a  WADA ( The world Anti-Doping  Agency), como uma independente organização internacional para promover, coordenar e monitorar a briga contra o doping no esporte. Em 2003, a Wada incluiu a cafeína como um estimulante banido das competições com  uma concentração na urina de cafeína maior que 12 ug/ml. Ou seja, concentrações menores que 12 ug/ml não seriam consideradas doping.

Porém, em 2004, a cafeína foi retirada dessa lista de substâncias restritas. Consequentemente, os atletas agora podem consumir cafeína sem medo de violar o código da Wada. Porém, a cafeína encontra-se no programa de monitoramento da WADA, indicando que a droga é colocada sob “observação” para o rastreamento de tendências em uso e eventuais abusos que poderiam finalmente colocá-lo de volta à lista de banidos (*4,8,9,10).

EXEMPLOS DE ALIMENTOS COM CAFEÍNA

A indústria de suplementos está cada vez maior. Existem milhares de formas de se ingerir cafeína; em bebidas, shots, barras energéticas, géis, em cápsulas, pós. Segue uma lista de alguns alimentos facilmente encontrados no mercado:

Alimento

Quantidade

Cafeína (mg) *

Café instantâneo

250mL

60

Café torrado/moído

250mL

85

Café descafeinado

250mL

3

Café expresso

 

107

Capuccino

250mL

80

Chá- folhas

250mL

30

Chá- instantâneo

250mL

20

Matte Leão

250mL

8

Lipton Iced Tea®

600mL

50

Achocolatado

150mL

4mg

Chocolate ao leite

60g

5-15

Chocolate preto

60g

10-50

Coca-Cola®

375mL

49

Coca-Cola Diet®

375mL

40

Pepsi Cola ®

250mL

80

PowerBar sports gel com cafeína

40g (1 sachê)

25

PowerBar sports gel com o dobro de cafeína

40g (1 sachê)

50

GU sports gel com cafeína

32g (1 sachê)

20

Flash Power® 

250 ml

80

Dynamite®

250 ml

20

Flying Horse®

250 ml

80

Dynamite®

250 ml

20

1- Effect of Caffeine Ingestion on Muscular Strength and Endurance: A meta Analysis. Journal os the American College of Sports Medicine, 2010. 1355-1363    http://journals.lww.com/acsm-msse/Abstract/2010/07000/Effect_of_Caffeine_Ingestion_on_Muscular_Strength.19.aspx
2-Motl RW, O’ Connor PJ, Dishman RK. Effect of caffeine on perceptions of leg muscle pain during moderate intensity cycling exercise. J Pain, 2003; 4(6): 316-21  3-Plaskett CJ, Cafarelli E.Caffeine increases endurance and attenuates force sensation during submaximal isometric contractions. J Appl Physiol. 2001; 91(4):1535-44
4-Burke, Louise M. Caffeine and sports performance. Appl. Physiol. Nutr. Metab., 33:1319-1334 (2008) 5-MAUGHAN, Ronald J.; BURKE, Louise M. Nutrição Esportiva. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 139-41 6-ALTIMARI, Leandro Ricardo et al. Cafeína e performance em exercícios anaeróbios. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. vol. 42, n. 1, jan./mar., 2006 7-BRAGA, Luciana; ALVES, Mariana. A cafeína como recurso ergogênico nos exercícios de endurance. Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília v.8 n. 3 p. 33-7. junho 2000 8- A cafeína e o desempenho físico. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. July 1999. 9- Armstrong L E, Casa D J, Maresh C M. and Ganio M S. (2007). Caffeine, fluid-electrolyte balance, temperature regulation, and exercise-heat tolerance. Exercise and Sport Sciences Reviews, 35: 135-140. 10- Desbrow, B., C.M. Barrett, C.L. Minahan, G.D. Grant, and M.D. Leveritt. “Caffeine, cycling performance, and exogenous CHO oxidation: a dose-response study.” Medicine & Science in Sports & Exercise, 41, 9 (2009): 1744-1751
11- www.rgnutri.com.br