Dermatologia aplicada ao esporte: nova área de estudo!

Atualizado em 20 de abril de 2016
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A dermatologia é uma especialidade clínica, cirúrgica e cosmiátrica cujos fundamentos baseiam-se na clínica que nos conduz ao diagnóstico da lesão. A dermatologia envolve o tratamento de doenças de pele e também os cuidados da pele normal para conservar este órgão saudável desde a infância até a maturidade.

A dermatologia aplicada ao esporte tem sido área de discussão e estudo nos últimos congressos, principalmente da Academia Americana de Dermatologia. Tem por objetivo orientar, prevenir e esclarecer as alterações cutâneas decorrentes de exercícios físicos e salientar a importância dos cuidados diários com a pele, os cabelos e as unhas  dos atletas, que devido ao atrito e as mudanças do meio ambiente (frio, calor, vento, umidade) podem apresentar alterações que desencadeiam infecções bacterianas e fúngicas de repetição, mudanças de consistência e brilho da pele, perda da barreira lipídica de proteção e traumas mecânicos.

  • Algumas dúvidas podem ser esclarecidas pelo dermatologista:
    Como identificar calos, calosidades e verrugas?
    O que fazer para prevenir calos?
    O que pode mudar nas unhas de um corredor?
    Como prevenir atrito nos mamilos?
    Bolhas: devemos rompê-las ou não?
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    Manifestações e doenças cutâneas em atletas.

O primeiro tema a ser abordado aqui será as alterações cutâneas e ungueais que o atrito e a compressão da pele podem causar. O uso de tênis inadequados e sapatos mal ajustados, características ósseas (malformações e sobreposições digitais, joanetes, dedos em garra) e a forma de andar podem levar ao aparecimento de calos e calosidades nos pés que devem ser diferenciados das verrugas plantares.

As verrugas são lesões causadas por vírus e por serem contagiosas exigem um tratamento diferente dos calos, embora o aspecto da lesão seja muito parecido.

Os calos são espessamentos crônicos e circunscritos da pele que podem ser duros ou moles.

1- Calos Duros: representam uma hiperqueratose (aumento da espessura da camada córnea da pele que é a camada mais superficial) cônica causada por fricção e pressão constante da pele. Os calos ocorrem mais comumente no dorso do quinto dedo do pé (quinto pododáctilo), porém todos os dedos podem estar envolvidos.

A dor é causada pela pressão constante nos nervos sensoriais presentes abaixo da camada atingida. Frequentemente há um esporão ósseo ou uma exostose (proeminência óssea) abaixo do calo que muitas vezes precisa ser removida no tratamento para que haja melhora no quadro clinico. Para diferencia-los das verrugas devemos observar a presença de pontos enegrecidos nas lesões de verruga viral e a dor nesta situação está presente apenas durante a compressão lateral do espessamento da pele.

2- Calos Moles: são lesões extremamente dolorosas que ocorrem entre os dedos dos pés geralmente acometendo o quarto espaço interdigital. A lesão é feita pela compressão da pele do dedo atingido pelo osso do dedo adjacente ou pela compressão cutânea pelo osso dos dois dedos. Muitas pessoas confundem com micose (“frieira”), mas a lesão não apresenta melhora após os tratamentos com antifúngicos. Apresentam um aspecto esbranquiçado e macerado pelo suor constante no local.

3- Calosidades: são na verdade um mecanismo fisiológico de proteção. São hiperqueratoses (aumento da espessura da pele) mais extensas e circunscritas, podendo conter um calo no centro. Aparecem geralmente na planta dos pés, no meio das três articulações metatarsofalangeanas em áreas de compressão da pele sobre o osso pelo apoio constante (pressão intermitente). Muito comum em mulheres que usam sapatos de salto alto diariamente.

O tratamento é variável para cada tipo de espessamento, porém, o desbastamento do calo com cremes e substâncias de aplicação domiciliar podem diminuir a dor e o incômodo. É importante consultar o dermatologista para diagnóstico diferencial com verruga plantar (“olho de peixe”).

Como os calos aparecem nas áreas de fricção ou pressão; se os fatores causais forem removidos, eles podem desaparecer espontaneamente.

Tratamento:
• Alívio da pressão de fricção com sapatos corretivos
• Pomadas com ácido para desbastamento
• Desbastamento mecânico com profissional competente.

4- Bolhas: as bolhas se formam por um descolamento da pele causado pelo atrito constante e transpiração cutânea. São mais comuns no calcanhar e nos dedinhos pois o osso está mais saliente. As bolhas podem se tornar dolorosas e diminuir o desempenho do atleta. Para evitá-las devemos manter a pele lubrificada para ajudar a reduzir o atrito friccional, eventualmente aplicar vaselina nos pés e entre os dedos, utilizar produtos antitranspirantes nos pés, usar tênis adequado e não apertado para corrida.

Uma vez formada a bolha não deve ser rompida, apenas devemos  drenar o líquido contido no seu interior através de um furo com material estéril na base inferior, pois geralmente a pele que a constitui serve de proteção da pele do seu interior. As bolhas íntegras em geral não contém bactérias infectantes em seu líquido, por isso este líquido só deve ser retirado se estiver dificultando a caminhada.

Uma dica interessante para evitar o incômodo durante a corrida, uma vez já formada a bolha, é colocar um band-aid sobre a mesma, cobrir o local com vaselina e em seguida uma camada de micropore. Passar vaselina sobre o micropore e então uma meia macia.

Cuidados diários com os pés:
– utilizar sabonetes hidratantes durante o banho;
– hidratar a pele do dorso e planta dos pés diariamente após o banho pois há um aumento da absorção dos cremes aplicados;
– dê preferência para cremes que contenham ativos emolientes como uréia, lactil, ceramidas;
– procure um dermatologista caso haja necessidade de cremes que contenham ácidos para diminuir a espessura da pele do calcanhar e região plantar;
– no inverno após aplicar o creme à noite, durma de meias pois aumentando o calor e ocluindo o local haverá maior absorção das substâncias.
– utilize produtos específicos para a região dos calos (pomadas que diminuem a espessura da pele);

Outra lesões menos comuns podem acometer os pés de atletas:

5- Herniação Gordurosa Dolorosa: ocorre em 10% dos atletas. O nome científico é: Pápulas podais piezogênicas. São herneações gordurosas (protrusão gordurosa) através de camadas da fáscia delgada das partes laterais dos calcanhares que sustentam o peso do corpo. A saída do tecido gorduroso junto com os vasos sanguíneos e nervos inicia dor durante posição ereta prolongada. Ocorre em atletas (corredores de longas distâncias) e indivíduos obesos. O tratamento é evitar a pressão no local.

6- Petéquias Calcâneas: são hemorragias puntiformes localizadas no calcanhar após práticas desportivas (pontos pretos ou vinhosos isolados ou agrupados). Os pontos ocorrem por hemorragia em pequenos vasos sanguíneos localizados na camada córnea ou epidérmica (camadas mais superficiais da pele). As lesões geralmente regridem sozinhas em duas, três semanas, e deve ser feito o diagnóstico diferencial com lesões pigmentadas. Por exemplo, pintas nos pés que são alteração de pigmentação duradoura e acastanhada.

7- Lesões por Atrito nos Mamilos: são lesões avermelhadas com formação de crostas, dolorosas e muitas vezes fissuradas nos mamilos ocasionadas pelo atrito constante com as fibras de nylon das camisetas dos corredores. É mais comum em homens e para evitar a fricção pode ser usada bandagem adesiva, vaselina, camisetas com tecido de fibras leves e macias e nos casos mais graves e dolorosos pomadas de antibiótico.