Atleta ativo: receita para se fazer um aventureiro

Atualizado em 20 de abril de 2016
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Aos poucos, mas de forma consistente, a Corrida de Aventura vem crescendo no Brasil, que pelas próprias características geográficas tem todas as condições de proporcionar bons desafios para os aventureiros. Contudo, não é uma modalidade ainda amplamente divulgada. O ativo conversou com sua “prata da casa”, o atleta Denis Luque, para mostrar o caminho das pedras para os que querem começar ou se desenvolver na modalidade. Denis faz parte da edição 2010 do projeto “o ativo.com vai patrocinar você by Forten“, que incluiu este ano pela primeira a modalidade de Aventura no programa.

A Corrida de Aventura também fará parte da edição 2011 do projeto, ou seja, será escolhido um atleta da modalidade para juntar-ser ao grupo de esportistas amadores que vestirão a camisa ativo.com e contarão com um ano de patrocínio do ativo e seus parceiros, incluindo avaliações médicas, assessoria esportiva, nutricional, psicológica, academia, suplementos, vestuário e equipamentos e inscrições para as provas. As inscrições podem ser feitas até o dia 30 de novembro pelo site http://patrocinio.ativo.com. Confira abaixo o verdadeiro “manual” de Aventura de Denis Luque.

ativo – Para alguém que quer começar nas Corridas de Aventura, qual o “caminho das pedras”?
Denis Luque
A primeira coisa a fazer é checar o principal equipamento que será usado e abusado em todas as modalidades da prova: o seu corpo. Testes médicos, como o ECG, e uma avaliação física vão validar se a pessoa está apta a encarar as exigências físicas da prova. A adaptação ao ambiente selvagem e rústico de uma prova de aventura pode ser feita de maneira gradativa, treinando em algumas trilhas, estradas de terra e represa, e iniciando com provas “light” de 25 km até 50 km. A teoria da orientação por mapas e bússola pode ser aprendida em livros e em cursos que os organizadores de provas oferecem, ou mesmo com algum amigo já mais experiente. Recomendo que comece formando equipes em quarteto ou no mínimo dupla, deixe para correr solo somente quando for mais experiente.

ativo – Quando um esportista decide que quer começar na corrida de aventura o que ele precisa saber fundamentalmente?
Denis Luque –
Precisa saber que antes de acertar, ele vai errar muitas vezes. É normal. Cada prova oferece oportunidades diferentes de aprendizado porque o ambiente e as condições de prova são sempre diferentes das anteriores e, muitas vezes, imprevisíveis. Ele precisa ter em mente que ele não sabe nada e está ali para aprender, o “salto alto” bloqueia a evolução e o torna uma pessoa desagradável e chata. Além do desempenho físico, deverá ter equilíbrio psicológico, planejamento estratégico (que inclui o pré-prova e o pós-prova), plano de nutrição, saber usar os equipamentos, saber ouvir o corpo. Além disso, pode haver acidentes e o ambiente pode ser hostil, tem que focar na segurança própria, de seus colegas de equipe e mesmo dos outros competidores, pois quando a coisa aperta, a união faz parte do instinto de sobrevivência.

ativo – Quanto tempo é necessário para se formar um aventureiro?
Denis Luque – 
Já nascemos com o espírito aventureiro, basta um clique para acordá-lo. Eu tive na infância muito contato com a natureza, quase todas as férias escolares eu ia para o meio do mato. Mas, o que me deu o estalo para unir o esporte à natureza foi quando eu fiz apoio pra um amigo numa prova de aventura em 2001. De lá pra cá não parei mais.

ativo – Como é a preparação ideal para se tornar um corredor de aventura?
Denis Luque –
Tem que treinar, de preferência com orientação profissional, desta forma evoluindo mais rapidamente a parte física. Também é necessário desenvolver a técnica, seja na corrida, na mountain bike, nos verticais ou na canoagem. Sem técnica perde-se quase a metade do esforço. Não basta só correr na esteira, pedalar na ergométrica. Tem que ir para o mato, simular o ambiente de corrida. A nutrição e o descanso de recuperação também são muito importantes para que o corpo consiga assimilar todo o treino e estar pronto para dar o máximo no dia da prova. Acho importante treinar com um grupo de outros atletas de aventura, pois sempre há troca de dicas e experiências que podem ser valiosas na hora do perrengue.

ativo – Quais os equipamentos básicos para um corredor de aventura?
Denis Luque –
As modalidades básicas na maioria das provas são trekking, orientação, MTB (mountain bike), canoagem, verticais. Algumas provas podem ter modalidades extras e provas longas podem ter necessidades adicionais, mas vou me ater aos equipamentos básicos das modalidades citadas acima:

Trekking: Básicos: tênis, meias, bermuda ou calça (normalmente com o forro de amortecimento), camiseta da prova, capacete (normalmente o mesmo da MTB), mochila, saco de hidratação ou caramanhola, relógio, lanterna de cabeça, kit de emergência / primeiros socorros (light stick, cobertor de emergência, espelho para sinalização, faca de lâmina máxima 10cm, apito, isqueiro, atadura, bandagem triangular, gase, bactericida, esparadrapo, luvas de látex, purificador de água, anti-histamínico, anti-inflamatório, anti-diarréico, analgésico, pinça, tesoura, repelente, protetor solar, sal). Opcionais: camiseta térmica, anorak, manguito, pernito, lenço (cobre rosto e pescoço), bastões de caminhada, perneira, caneleira, gancho (para prender o colete salva-vidas da canoagem na mochila).

Orientação: bússola, mapa (fornecido pela organização), impermeabilização do mapa (porta-mapas ou filme plástico adesivo), altímetro (normalmente relógio com altímetro). Para a preparação do mapa antes da prova: canetas coloridas, tesoura, escalímetro, curvímetro, calculadora.

Mountain Bike: bicicleta (cross country hard-tail ou soft-tail ou full), capacete, luvas, óculos, lâmpada estroboscópica, lanterna para o guidão, bolsa de ferramentas, câmera reserva, bomba de ar, kit chaves allen, kit remendo, óleo lubrificante para corrente, chave de corrente, ciclocomputador (velocímetro/odômetro), suporte de caramanhola, sapatilhas, gancho (para prender o tênis do trekking  e o colete salva-vidas da canoagem na mochila).

Canoagem: colete salva-vidas, gancho (para prender a mochila no caiaque). Normalmente o caiaque e o remo são fornecidos pelo organizador da prova.

Verticiais: cadeirinha com certificação, 2 mosquetões, 2 fitas solteiras (tubulares), 1 freio (ATC ou Oito), 2 cordins para prussik, luvas, capacete. Estes equipamentos servem para rappel e tirolesa. No caso de ascenção, ainda podem ser requeridos outros equipamentos como jumar e estribos. O conteúdo do kit vertical pode variar dependendo da solicitação do organizador.

ativo – Na sua opinião, quais as características de um bom corredor de aventura?
Denis Luque
– Numa corrida de aventura, ganha quem cumpre as regras e chega primeiro. Portanto, a capacidade física é bastante importante e o atleta deve “ouvir” o corpo o tempo todo, estando atento para os “recados” que o corpo manda e assim saber a hora de puxar mais e a hora de poupar energia. Mas não é tudo.

Uma boa prova depende de uma boa navegação/orientação e também de uma boa estratégia. Um bom navegador é aquele que erra pouco e que corrige rapidamente seus erros. Pra isso, a experiência ajuda muito, e com ela todo o aprendizado dos erros anteriores. Portanto, o atleta tem que ter capacidade em aprender sempre. Quanto mais longa for a prova, maior o peso da estratégia da prova, que inclui a preparação do mapa, alimentação e hidratação, pontos de abastecimento, rapidez na transição de modalidades, preparação da equipe de apoio, decisão de alternativas excludentes que podem ser oferecidas pelo organizador da prova, dentre outras.

ativo – Para os que já praticam o esporte e querem melhorar a qualidade da prática esportiva e também resultados, qual sua dica?
Denis Luque – 
O atleta que deseja chegar num nível competitivo mais alto deve ter uma boa orientação para os treinos e para a nutrição, incluindo aí suplementos, pois o desgaste do corpo é alto e requer reposição de nutrientes durante e depois das atividades físicas. No quesito mental, deve procurar estar sempre focado enquanto treina e deixar a mente livre de estresse na semana que antecede uma prova.

Para a prova, deve repassar o kit de primeiros socorros/emergência, assim fica na cabeça o que tem e o que pode ser usado. Na navegação, recomendo seguir três regras básicas: a) Atenda às necessidades do corpo – não deixe as necessidades do corpo interferirem na concentração; se houver necessidade, agasalhe-se ou dispa-se, coma, beba e até descanse 10 min se estiver muito cansado; isto o ajudará a pensar melhor; b) Isole-se de opiniões alheias. Confie em si mesmo – outros navegadores podem influenciar, induzir e atrapalhar sua navegação; não permita que isto aconteça; confie em si, no seu conhecimento e no seu instinto; c) Concentre-se: de onde veio, para onde vai e o que o mapa pede.

ativo – Na sua visão de atleta, qual o cenário da Corrida de Aventura hoje no Brasil, em termos de nível de provas, atletas, etc?
Denis Luque –
Hoje em dia há provas de aventura nas regiões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste do país. Há bons organizadores de provas, com provas de todos os níveis, desde aquela de navegação super básica até as mais perrengues, variando de 25 a 550 km, mas, a maioria concentrada entre 50 a 150 km. Faltam mais provas longas no Brasil, o ano de 2010, por exemplo, ficou carente sem as provas longas do Ecomotion e do Brasil Wild. Os organizadores devem ter constante atenção no feedback dos atletas, este é o caminho que irá ditar as tendências do esporte.

No ano de 2010 houve uma forte migração de atletas muito bons que corriam em quartetos e duplas para a categoria solo. Acredito que esta seja uma tendência forte para os próximos anos e os organizadores devem estar atentos a isto, inclusive, para a criação de ranking brasileiro e categoria para solo feminino. Os organizadores devem tomar o cuidado também de não transformarem o esporte em gincana. O atleta de aventura gosta de superar desafios dentro do esporte e se sente descontente em ter que realizar tarefas enfadonhas, como construir jangada ou servir de burro de carga.

Cada modalidade (orientação, trekking, bike, canoagem, verticais) deve ter o seu desafio dentro do que lhe é pertinente. Quanto à cobertura de mídia, não basta o fotógrafo, cinegrafista ou repórter ficar plantado num PC (Posto de Controle) ou somente na entrada de uma trilha. Eles têm que acompanhar o pelotão e viver aquela emoção que sentimos para poder conseguir transmitir isto ao público. Vejo que alguns veículos da imprensa estão colocando a carroça na frente dos burros; fazem seus repórteres correr provas para tentar passar ao público esta emoção (muitos deles nem conseguem completar a prova), quando deveriam contratar um atleta com capacidade de reportar o que se vive numa prova, pois este sim é um especialista daquilo que se pretende transmitir. Infelizmente esta inversão também acontece em outros esportes. Enfim, no geral, hoje em dia temos condição de aproveitar este esporte para melhorarmos a qualidade de vida e auxiliar no autoconhecimento e na evolução nos níveis físico, mental, espiritual, social e profissional. Para o futuro, temos um longo caminho pela frente!