Treinamento em apnéia

Atualizado em 12 de dezembro de 2017
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Em termos clínicos, apnéia é a suspensão temporária voluntária ou involuntária da respiração. De forma involuntária, a apnéia pode ser uma ocorrência patológica em pessoas que sofrem de apnéia do sono, ou seja, um distúrbio no qual a pessoa pára de respirar com freqüência quando está dormindo. Como resultado a pessoa não obtém o oxigênio que seu corpo necessita e não consegue repousar adequadamente.

Muitos estudos têm demonstrado a importância e a eficiência do treinamento em apnéia (ação voluntária). Basicamente dizemos que o treinamento nos adapta as variações dos gases O2 e CO2, porém isto é uma verdade incompleta. O treinamento nos possibilita uma adaptação psicológica, física e fisiológica. Alguns estudos mostram ainda adaptações fisiológicas que protegem o cérebro de uma eventual interrupção no fornecimento de O2, como o caso do aumento de capilares através da angiogênese, e produção de substâncias (neuroglobina) que fixam o O2.

Para realizar o treinamento em apnéia, alguns procedimentos de segurança devem ser tomados, são eles:

Em primeiro lugar, é preciso ter um apneista de segurança pronto para agir em caso de problemas com o apneista em treinamento. Este é o ponto que define um começo correto de treinamento.

Depois de cumprida a primeira etapa, podemos então dar início à parte específica do treinamento. Em uma piscina de 25m pode ser treinado as modalidades de estática e dinâmica. No treino de estática o atleta iniciante vai realizar inspirações e expirações durante 2 minutos, e realizar uma apnéia máxima. O atleta deverá suportar, no máximo, 10 contrações abdominais (do diafragma) antes do término da apnéia.

Explicação sobre o processo

A respiração realizada deverá ser a respiração yogue: inspiração e expiração máxima utilizando os músculos abdominais, intercostais e músculos escapulares, promovendo assim um preenchimento e esvaziamento mais eficiente dos pulmões. O objetivo principal nesta fase é dar elasticidade à caixa torácica, a fim de movimentar um maior volume de ar com uma crescente diminuição de esforço.

Durante a apnéia o atleta observará seu organismo para poder compreender o que está acontecendo. Na apnéia sabemos que nos primeiros 20 segundos o coração bate numa freqüência alta devido à cadência da respiração, para então ir diminuindo até se manter estável. Este fenômeno independe de treino, acontece naturalmente sempre que realizamos uma apnéia, no entanto, com o treinamento será aperfeiçoado.

Esta freqüência cardíaca estabilizada permanece até o fim da apnéia, e com a retomada da respiração, a batida do coração começa a subir (com a respiração os batimentos do coração sobem para 100 bpm, com o início da apnéia estes batimentos diminuem para 60 bpm, após 20 segundos de apnéia os batimentos se estabilizam em 40 bpm, com a retomada da respiração os batimentos sobem até 80 bpm e caem para um batimento de repouso em torno de 60bpm).

As contrações do diafragma servirão de sinal para informar que o teor de gás carbônico está elevado. O mecanismo que desencadeia as contrações do diafragma é o seguinte: o corpo mesmo em repouso tem que manter as funções vitais, as células estão trabalhando. Pense que o apneista tem um reservatório limitado de oxigênio, e outro de gás carbônico.

No início da apnéia tudo está em equilíbrio. No entanto, o atleta está gastando oxigênio, o reservatório diminui progressivamente. Só que para cada oxigênio gasto se produz gás carbônico, implicando no aumento do nível do reservatório deste gás. Na verdade estamos tentando explicar que estes gases interferem diretamente na vontade de respirar.

O cérebro recebe as informações e transmite impulsos para o diafragma contrair, e desta forma, força o retorno dos movimentos respiratórios. Se o atleta não responder com o ato da respiração pode sofrer uma síncope.

O apneista deve descansar o mínimo possível entre as apnéias. Terminando a performance relaxa cerca de 30 segundos, faz a respiração yogue por 2 minutos e realiza a apnéia. É um ciclo fechado, que tem por objetivo adaptar o organismo a altas taxas de gás carbônico; a baixas taxas de oxigênio; exercitar os músculos respiratórios; e dar elasticidade a caixa torácica. As primeiras apnéias são menores, e tende a melhorar quando o atleta tiver feito umas quatro apnéias. Vale dizer que em cada dia estamos em condições diferentes e devemos estar preocupados em aprender a linguagem do organismo antes de tentar recordes.

Protocolo de segurança para os treinamentos

O apneista de segurança deve tocar o atleta durante as performances de 15 em 15 segundos, então o atleta responde com um sinal convencionado pelos dois. Caso o atleta não responda ou responda com sinal diferente do combinado, o apneista de segurança deverá retirá-lo da água imediatamente.

O resgate é sempre enérgico sem machucar a vitima, é só retirar a cabeça do atleta da água, livrar suas vias respiratórias de mascaras ou clipes de nariz, abrir a boca e deixar que volte a respirar. O apneista de segurança deve estar sempre atento, deve observar quando começam as contrações, de que maneira se apresentam, e se pressentir algo de errado deve interromper a apnéia do atleta.

Realizar o toque na mão do atleta de 15 em 15 segundos é uma forma de garantir que o apneista de segurança está atento, e confirmar as condições do atleta em apnéia.

Lembre-se que para um apneista é fundamental ter uma boa capacidade de avaliação, pois isto determina sua perícia. Caso um apneista inconseqüente tente realizar uma performance bem acima de sua capacidade, ele contará com uma equipe treinada que fará sua segurança.

Nas outras atividades esportivas a apnéia entra como um complemento; poderia ser um fator para melhorar o desempenho dos velocistas, por exemplo!

Equipe SportsLab
www.sportslab.com.br
-Dr. Sérgio Dias Reis
-Dr. Rogério José Neves
-Dr. Paulo Sérgio Barone
-Prof. Daniel Barsottini