Importar tênis está mais caro. Quem paga a conta ao final?

Atualizado em 19 de abril de 2016
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O Governo Federal aprovou uma resolução para prorrogar por mais cincos anos a sobretaxa para o tênis importado, estipulando agora o valor de U$ 13, 85 por par de calçado, somando este valor ao imposto de 35% para o produto. O resultado é tênis mais caro para os atletas acostumados a praticar o esporte com os chamados calçados de alta tecnologia. 

A decisão foi tomada esta semana pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) e regulamenta a Lei 9.019, de 1995, estendendo medidas antidumping para importações de produtos, parte ou peças de países asiáticos.

A discussão envolve a Associação da Indústria Brasileira de Calçados (Abricalçados), que solicitou a sobretaxa à Camex, em 2008, e a Associação Brasileira de Mercado Esportivo (Abramesp), que reúne fabricantes nacionais e estrangeiros de calçados esportivos, como as marcas Asics e Nike. Em outubro de 2009, a Camex instituiu uma alíquota de U$ 12,47. Várias marcas entraram com ações na justiça contra a taxa.

De acordo com notícia divulgada em seu site, a Abicalçados afirma que a elevação de 15% das importações brasileiras de calçados, ou partes de calçados, de janeiro a julho deste ano deixou a entidade apreensiva quanto a triangulação das importações, procedimento comum após a instituição de tarifas compensatórias.

Para as empresas da outra ponta, que somam a maior parte do mercado, a sobretaxa prejudica essencialmente o consumidor final. “A sobretaxa sobre os tênis importados da China, não somente prejudica o importador, mas também o lojista que precisa aumentar os preços dos produtos, e prejudica principalmente o consumidor final, que tem a necessidade de ter um produto com tecnologia para a prática esportiva, seja tênis, corrida ou qualquer outra atividade esportiva onde é necessário ter um produto com tecnologia”, avalia Walid Safa, presidente da K-Swiss do Brasil.

Na briga de gigantes, o mais prejudicado é o atleta que usa tênis de alta tecnologia e paga muito mais caro pelo produto se comprado com outros países.

“Os valores praticados no exterior são em media 40% do valor praticado no Brasil. Portanto, a saída para o cliente que consegue viajar é comprar o produto no exterior, onde todos perdem”, afirma o presidente da K-Swiss Brasil.

Sem equivalentes

O problema, segundo muitos treinadores, é que não existem equivalentes nacionais para os tênis de alta tecnologia que os corredores cada vez mais aprendem a apreciar.

“Os tênis importados ainda são muito melhores, eles possuem muitos anos de pesquisas, testes e muita tecnologia envolvida. A indústria nacional vem evoluindo aos poucos, mas alguns fatores limitam essa evolução, como a grande quantidade de concorrentes no segmento de running. São muitas as marcas estrangeiras e a cada ano surgem mais, e a maioria de ótima qualidade, sempre com lançamentos, o que ofusca o mercado nacional. Com isso vejo o mercado nacional muito mais voltado para a linha ‘casual’, ‘passeio’, já que é muito difícil penetrar e conquistar espaço no segmento de performance e running, mesmo oferecendo preços atrativos, aliás o quesito ‘preço’ parece não influenciar muito nesse segmento, se o tênis é bom, o corredor compra!”, opina Kim Cordeiro, diretor da BK Sports, assessoria esportiva de São Paulo.

Miguel Sarkis, treinador e autor do livro “A Construção do Corredor”, e também colunista do ativo.com, tem opinião semelhante. “Os tênis estrangeiros ainda são melhores, dada as circunstâncias de estudos e aplicação nos corredores durante algumas décadas. Fato este que distancia, e em muito, os tênis importados aos novatos nacionais. Há ainda uma forte razão pela qual ainda devemos dar preferência aos importados: eles têm muito investimento financeiro e tecnológico para a sua fabricação”.

E correr com um tênis tecnológico traz vantagens para os pés dos atletas, segundo os especialistas. “Bons tênis que possuem estudos tecnológicos, normalmente, trazem muitas vantagens, como: conforto, estabilidade, amortecimento e leveza. Estas qualidades ajudam muito para se obter uma melhor performance na corrida e, mais que isso, o risco de se ter uma lesão diminui bastante, ao contrário de tênis sem tecnologia (imitações e “genéricos”), que facilmente podem machucar”, explica Kim Cordeiro.

Quanto dura um tênis no pé do Corredor?

Compra um bom tênis é um investimento caro para os corredores. E alguns precisam fazer isso várias vezes ao ano. Para correr com segurança, sem riscos de lesões, é preciso respeitar a vida útil das funcionalidades do tênis tecnológico, que em média é de seis meses para os corredores que praticam o esporte com frequência.

“Se considerarmos que um corredor percorre aproximadamente 10 km por dia, duas vezes por semana, ele terá percorrido 100 km por mês e, ao final de 6 meses, ele terá percorrido, aproximadamente 600 km. Sabe-se que o tênis deve manter a sua estabilidade e seu material de apoio (sola) e o de amortecimento. Vale a pena analisar, ao final de 6 meses, para saber se, principalmente, não aconteceu desgaste diferenciado em algum pé ou se tênis ainda mantém a cara de novo. Seguindo estes critérios, talvez o tênis possa durar algo em torno de 600 a 1000 km”, explica Miguel Sarkis.  

“Existem vários estudos a respeito e algumas conclusões: a maioria das pesquisas concluiu que em média um tênis dura de 500 a 1.000 quilômetros. Há estudos que mostraram que mesmo o tênis ficando velho ele não perde a capacidade de amortecimento, então, o que define se o tênis está “vencido” ou na hora de trocá-lo, é o seu estado físico: rasgado ou deformado. Portanto eu acredito, até por experiência própria, que o que melhor define a durabilidade de um tênis é o seu estado físico. Quando ele começar a ficar deformado é hora de trocar”, finaliza Kim Cordeiro.

Confira matéria anterior sobre o tema:

A polêmica da taxa de importação do tênis.