UTMB: a primeira vez a gente nunca esquece

Atualizado em 14 de julho de 2016
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Rafael Miranda é um grande amigo meu que conheci, claro, correndo.Treinamos juntos por diversas vezes em um dos nossos parques de diversão prediletos: Aldeia da Serra e Reflora (em SP). Ele acabou de voltar do “Ironman” dos Trail Runners, o Ultra-Trail Du Mont-Blanc (UTMB), e pedi a ele que nos contasse sobre a experiência.

Vivian: Rafael, conte um pouquinho como você começou nas corridas de montanha.

Rafael: O começo foi por meio das corridas de aventura, que participo de forma amadora e com muita diversão, desde 2007, com colegas do trabalho. Sempre tive um contato muito grande com a natureza com esse tipo de prova, pois são três modalidades de esporte: trekking, mountain bike e remo. Me tornei um amante das montanhas há um ano e meio, após ter meu primeiro contato em fevereiro de 2013, correndo o Cruce de Los Andes. A partir daí, foi só ladeira acima. Esporte para mim é lazer, diversão e saúde.

Vivian: Qual é sua rotina de treinos e alimentação para participar do CCC (101 km) do UTMB?

Rafael: Um grande desafio durante a preparação para essa prova foi encaixar a rotina do dia a dia, família, amigos e trabalho com as rotinas de treinos. Elas, basicamente, se resumiram a três vezes por semana, sendo dois treinos curtos e um treino longo, semanalmente. Participei de algumas provas mais curtas como base de treino, como o XTERRA Ilhabela 50 km. Os treinos me levaram, naturalmente, para um peso mais apropriado para esse tipo de corrida. Hoje, estou com 70 kg; e dois anos atrás eram 78 kg. Minha alimentação se ajustou, tenho uma rotina de comer muito bem no café da manhã e almoço. No jantar, um copo de suco me satisfaz. Para essa prova usei alguns complementos como Sal, BCAA, Cafeína, Endurox R4 e Prolong (Herbalife).

Vivian: Como surgiu a ideia de participar do UTMB CCC (me explica a distância do CCC, cidades que passa, montanhas mais importantes…)?

Rafael: A idéia de participar veio após a conclusão da prova que me deu qualificação para correr a CCC: o Half Mision Serra Fina, foram 80 km em 22h que me renderam 2 pontos, os suficientes para me inscrever. Para o CCC 2015 serão necessários 3 pontos, houve essa mudança nas regras. Além dos pontos qualificatórios, é necessária a sorte também. Para o CCC 2014, quase 4.000 pessoas se inscreveram e, apenas, 1.900 foram sorteados para participar. Eu fui um deles. O resultado do sorteio foi divulgado em janeiro de 2014.
O CCC é uma corrida que passa por três países, com 101 km de distância e 6.100 m de ascenção positiva acumulada. A largada ocorre em Courmayeur (Itália), passa por Champex (Suíça) e chega na charmosa Chamonix (França). Ela passa por dois picos conhecidos nos Alpes: Tête de la Tronche (2584 metros) e Grand col Ferret (2537 metros), onde temos uma vista maravilhosa de Mont-Blanc. E, é realmente indescritível esse visual!!!

Vivian: O que te levou para a prova? Qual é o kit obrigatório e quanto pesava sua mochila?

Rafael: Levei todos os equipamentos obrigatórios. Minha mochila estava com 4 kg, aproximadamente. Além desses itens, levei o trekking pole, viseira, óculos, relógio Garmin Fenix 2, squeeze de 650 ml e um mapa resumido da prova plastificado. Corri com a mochila e tênis Salomon XT6 S-lab, calça da The North Face e 2ª pele da Under Armour. Todo esse equipamento eu já estava utilizando em meus treinos, nos dois meses antes da prova.

EQUIPAMENTOS OBRIGATÓRIOS – CCC 2014:
– Telefone celular, com roaming internacional habilitado;
– Copo (para tomar água em alguns postos de abastecimento);
– Reservatório de agua de no mínimo 1 litro (levei 1,5 l);
– Duas headlamps com pilhas e pilhas extras para ambas;
– Cobertor de emergência;
– Apito;
– Esparadrapo;
– Comida (gel, castanha, bala de goma, bisnaguinha com requeijão, bananinha e barras de cereal);
– Jaqueta a prova de água;
– Calça (corri com a calça);
– Bandana (buff);
– 2ª pele (corri com ela);
– Jaqueta corta vento;
– Gorro;
-Luvas a prova d’água.

Vivian: Quais foram as maiores dificuldades da prova?

Rafael: O desafio dessa prova se resume em: ALTIMETRIA e TÉCNICA. O volume de subidas, concentradas em cinco grandes picos, é muito desafiador. E para complicar, existem muitos trechos técnicos, com pedras, raízes de árvores, rios e lama, muita lama. Nesse ano, tivemos chuva na segunda metade da prova o tornou a prova mais técnica ainda. Claro que a distância total (os 101 km) e o trecho noturno elevam o nível da prova.

Vivian: Aconteceu algum imprevisto?

Rafael: Sim, imprevistos nesse tipo de prova sempre ocorrem. Esqueci meu porta número de peito, que para essa prova é muito importante, pois como passamos por mudança de temperatura brusca, temos que colocar e tirar o agasalho algumas vezes durante a corrida e o número de peito tem que estar sempre visível para organização. Comprei de última hora.
Além disso, esperava parar cerca de 10 minutos nos postos de reabastecimento, mas fiquei cerca de 30 minutos em alguns e, em Champex (56 km), fiquei 1 hora, pois passei mal, a pressão baixou e demorei para me recuperar.

Vivian: O que mais curtiu na prova?

Rafael: De longe, o que eu mais curti foi o visual ao longo do percurso. Mont-Blanc é muito imponente.Mas, essa prova tem muitos pontos positivos. A organização é muito bem feita, tudo explicado com regras claras e muito profissionalismo por parte da organização de dos voluntários que trabalham para colocar todo o evento de pé. Além disso, não posso deixar de falar sobre Chamonix, uma cidade que respira aventura. Charmosa e localizada num vale com uma vista invejável! Essa é a cidade sede de toda UTMB, e é palco para a chegada de todas as cinco provas do UTMB: UTMB, CCC, TDS, OCC e PTL.

Vivian: O que aprendeu na prova?

Rafael: O maior ensinamento dessa prova é que determinação, planejamento e foco, sempre trarão resultados. Nesse caso, estou voltando para casa com o colete de finisher da CCC 2014, que simboliza tudo isso. Foram meses planejando, treinando e sonhando com esse dia. E ele chegou!

Vivian: Você voltaria para fazê-la novamente? Quais são os próximos objetivos?

Rafael: Certamente, voltarei a fazer alguma prova da UTMB, mas antes buscarei outros desafios dentro do universo da ultra-trail. Existem diversas provas internacionais que estão no meu radar para 2015. Espero em breve poder compartilhar mais uma história como essa, após correr uma ultra do outro lado do mundo.

Vivian: Se você pudesse dar uma dica para alguém, que como eu, sonha em fazer uma das provas do UTMB, qual seria?

Rafael: Vivi, dar dica para uma atleta como você, é um desafio muito grande.
Para UTMB, eu diria que é necessário um planejamento com bastante antecedência e muito treino em descidas técnicas. Além disso, ter uma pessoa fazendo apoio é essencial.

Vivian: Parabéns, Rafael, pela grande prova! E, a todos que nos leem: a montanha chama! Inspire-se e bons treinos!