Tempo de prova: jogue o relógio fora

Atualizado em 13 de julho de 2018
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Correr uma meia-maratona dá uma sensação de prazer enorme. Faz bem para o corpo, para a mente e para a alma. Porém, não podemos, por conta disso, escangalhar o nosso corpo, preocupados apenas com o tal do tempo de prova. O mais importante em uma prova como essa não é o resultado, e sim a oportunidade de participar, junto com um enorme grupo de colegas, de um momento saudável, divertido e feliz. Devemos aproveitar toda a segurança e tranquilidade que a organização da prova nos oferece para curtir a corrida a cada momento, e não fazer desse instante um horror de ansiedade, tensão e até angústia por causa da preocupação com o tempo de prova. A não ser que se seja um profissional, esse tipo de competição não é para isso.

A contribuição que a corrida dá à saúde é extraordinária. Em contrapartida, os danos produzidos pelo excesso também são enormes. Você pode até se empolgar com o tempo que deverá realizar naquele ritmo gostoso, mas  não ficar obcecado  por isso. O tempo de prova deve vir apenas por acréscimo e não ser um objetivo. Temos de realizar uma corrida solta, tranquila, curtindo ao máximo cada instante, como se estivéssemos em estado meditativo. Para tanto, devemos permanecer atentos ao que está ocorrendo naquele momento tão belo — principalmente em relação a nós mesmos, sentindo as passadas tocarem o asfalto, a brisa lambendo o rosto, a multidão que nos rodeia, e tendo apenas bons pensamentos na cabeça. E que se dane o relógio o tempo todo, porque os valores são outros.

Uma das finalidades da corrida é o autoconhecimento. Não se pode sair por aí correndo fora de suas possibilidades para apenas mostrar aos outros que você é incrível. Antes, você tem de mostrar a si mesmo que o é. Para isso, é preciso domar esse ser animal que nós todos somos e colocar rédeas em nossas emoções. O resultado será a realização de uma competição em equilíbrio, que lhe dará mais saúde, em vez de destruí-lo pelo ímpeto de desabalar em uma corrida muito forte para aquele seu momento cardiovascular.

Explico: da mesma maneira que a prática regular de atividades físicas é a forma mais incrível para desenvolver a saúde, fortalecendo o nosso sistema imunológico, a corrida pode acabar com nossas defesas se for realizada fora de nossas possibilidades — leia-se fora do ritmo e da frequência cardíaca ideais.

Resumindo, a competição nada mais é que o resultado do seu treinamento. Assim, ela tem de estar baseada naquilo que você pode realizar em cada etapa do seu trabalho. O tempo de prova é mera consequência.

(Coluna publicada na Revista O2, edição #112 – julho de 2012)

*Por Nuno Cobra