Qual esporte você pratica?

Atualizado em 14 de julho de 2016
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Quando me perguntam qual o esporte que pratico, dou um sorrisinho e sei que logo após a resposta, a pessoa ficará com aquela mesma interrogação na cara que já vi, anteriormente, em outras.

Lá vou eu: “eu corro”. Pronto, tentativa de mudar de estratégia. Quem sabe assim ela entenda. A resposta: “Você corre? Que legal! Já fez a São Silvestre?”

Confesso que dou aquela brochada. Nada contra a “SS”, já corri algumas vezes, para dar risada e encontrar os amigos. É uma prova legal, marco das corridas de rua, internacionalmente reconhecida. Mas confesso que se comparada com as provas de corrida de montanha, que não tem o glamour dos flashes, água na mão, pace controlado no relógio, ao contrário, na maioria das provas você deve ser autosuficiente, ou seja, carregar sua própria água e alimentos… O terreno e altimetria te desafiam, em todo momento, a aumentar ou diminuir o ritmo, ou até mesmo, a andar (o que seria vergonhoso demais para os corredores de rua), você termina sujo, destruído, mas feliz e recompensado por belas paisagens e ao som de pássaros e do vento. Aliás, o som do vento. Aprendi a ouvir o vento nesse esporte. Parece loucura, mas a corrida de montanha te ensina a ver o mundo e a perceber você próprio de modo único e profundo.

Esqueça o tempo. Esse foi o primeiro aprendizado que tive ao participar da minha primeira prova de montanha, em Mairiporã, em 2012. Tenho uma foto emblemática dessa prova. Ao chegar, tendo percorrido “apenas, 12 km” olho no relógio e juro por tudo, pensei: “isso não é pra mim”. Estava decepcionada, pois com mais de 10 anos correndo provas de rua, meu único objetivo em mente era correr, correr muito rápido. Com aquele tempo eu teria feito pelo menos uns 25 km no asfalto… E, naquele momento, eu havia completado 12 km de montanha e minhas pernas estavam bombando!

A “decepção” só deu lugar à alegria quando me chamaram no pódio para receber o troféu de 1o lugar na categoria e 4o lugar na geral. Desacreditei!!!!!! E percebi que, sim, correr na montanha era o meu lugar!

O segundo aprendizado foi o de se permitir andar nas subidas, mas socar a bota nas descidas. Já rolei montanha abaixo disputando colocação, já tropecei em pedras e corri no ar, já me segurei em árvores para tentar ter um controle maior nas descidas. Nas descidas é onde requer mais atenção e onde diferencia os corredores de montanha. Aqueles que são mais técnicos vencem mais facilmente terrenos escorregadios, cheios de pedras, buracos, limo e lama. Nem sempre o corredor mais forte ou mais rápido é o vencedor em uma prova de montanha. E isso é sensacional nesse esporte.

Nas corridas de montanhas há diversas variáveis que não encontramos em provas de rua. Se chove no dia anterior, isso influencia o terreno no dia seguinte tornando-o mais escorregadio. Influencia a estratégia de prova, influencia o equipamento que você utilizará (tênis com mais cravo). Se estiver muito quente, provavelmente, o corredor será obrigado a carregar mais água, largará mais pesado e fará uma prova menos rápida. Altimetria, tipo de terreno (areia fofa, terra batida, lama, pedras, cachoeiras, rios, etc.) são fundamentais para se montar uma estratégia de prova. O mesmo percurso na mesma prova, nunca mais será o mesmo, justamente, por essas variações naturais do terreno e clima. O atleta de montanha deve saber lidar emocionalmente com essas variações da natureza.

Por tudo isso, a magia da montanha. Por tudo isso, eu corro na montanha! Ainda muito difícil de explicar para as pessoas no dia a dia, mas com a popularização desse esporte no Brasil, seguindo uma tendência mundial, acredito que em pouco tempo quando ouvir a mesma pergunta eu possa dizer que sou corredora de montanha e ouvir “Você já correu o Mont Blanc?”. Aliás, isso daria um ótimo post.