Postura “ideal” na corrida (ou, dor social)

Atualizado em 14 de julho de 2016
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Gostaria muito de saber qual é a primeira coisa que passou na sua cabeça quando leu o título e encontrou “dor social”. Talvez algo relacionado a um conjunto de pessoas, alguma atitude solidária, prática de voluntariado… Enfim, vamos explicar!

O conceito de “dor social” não está muito bem estabelecido, mas é comumente usado por alguns profissionais que trabalham com a postura e precisam orientar uma outra pessoa a se corrigir. Ela pode ser definida como a dor que geramos em nosso próprio corpo, quando tentamos, de maneira forçada, chegar à postura “ideal”. Este “ideal”, geralmente, é aquele que imaginamos ser o correto, a partir da visualização de alguém conhecido, que tenha um alinhamento do corpo exemplar. Seja sentado, deitado, andando, pedalando, chutando uma bola, jogando tênis, dançando, todos temos a imagem de uma pessoa que o faz muito bem e de sua postura. A partir dessa imagem, tentamos fazer o mesmo com nossos corpos, às vezes de maneira involuntária.

Tudo isso parece ser bom, mas posso dizer que muitas pessoas forçam demais o corpo nesta tentativa, pois se esquecem das diferenças anatômicas que todos possuímos. Por exemplo: o jeito como uma pessoa alta fica sentada é bem diferente da mais baixa, se considerarmos a mesma cadeira. A pessoa mais baixa às vezes não consegue encostar os pés no chão se estiver no fundo da cadeira e a mais alta, mesmo bem no fundo da cadeira, ainda tem de deixar os joelhos esticados para frente, para manter as coxas apoiadas no assento. Neste caso, é impossível que ambas tenham a mesma postura. Claro que foi um caso bem extremo, mas pense em diferenças diversas, como o peso, sexo, idade, capacidade de movimentar a coluna ou a pelve, sedentarismo, tabagismo, nível de estresse, doenças, dores e mais uma série de fatores que influenciam na postura.

Agora, vamos ao que interessa: e na corrida? (ou em qualquer outra prática esportiva?).

Muita gente corre, pedala, nada, como se fosse um ícone da modalidade que está praticando. Na bicicleta, alguns se inclinam demais para baixo, forçando o pescoço. Na natação, existem aqueles que querem dar braçadas extremamente longas, utilizando pouco as pernas, forçando os ombros. E, nas outras modalidades, as mesmas coisas.

Na corrida, a pessoa tenta ficar ereta, com o peito estufado para frente, com passadas largas. Isso, só para citar algumas das principais “correções”. Mas o que acontece é que nem todos foram feitos para isso. Por exemplo: geralmente, os orientais possuem a pelve menos móvel, dificultando passadas mais largas sem que forcem a articulação do quadril. Pessoas com a caixa torácica mais rígida (que passam muito tempo curvadas, fumantes, bebem pouca água, entre outros), têm dificuldade em esticar as costas de forma harmônica, sobrecarregando mais a coluna lombar na tentativa de ficar mais ereta.

Citei apenas dois exemplos, mas seria possível escrever um livro com todas as variações corporais. Então, pense em corredores ou atletas de outras modalidades, de etnias diferentes e repare como movimentam-se sutilmente diferente. Experimente ver uma prova de maratona da campeã olímpica Mizuki Noguchi, uma japonesa que quando comparada às rivais de outras etnias, possuía uma pelve quase sem movimentos, assim como uma coluna menos móvel, porém, com passadas mais curtas e mais rápidas. Diferente é o movimento de algumas campeãs africanas, com pernas mais longas, que possuem passadas mais largas, algumas correm com joelhos sempre mais dobrados, um quadril e coluna mais móveis, com movimentos de ombros mais amplos, bem como a rotação da coluna mais presente.

Resumindo: não adianta querer fazer igual ao seu ídolo, quando se tem um corpo diferente. Procure encontrar a melhor forma de praticar os exercícios para a sua constituição física e, se precisar, consulte um especialista para te auxiliar, evitando assim, as “dores sociais”, que se preferir, pode chamar de “dores do espelho”, ou “dores da imitação”. Enfim, evite-as!