Nicola LabateFoto: Nicola Labate

Patrocínio e a elite da corrida no Brasil

Atualizado em 28 de julho de 2017
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Vida de corredor profissional no Brasil não é fácil. Para vocês terem uma ideia, somente ano passado, quatro fortes nomes do cenário brasileiro perderam o patrocínio. Foram eles: Daniel Chaves e Ederson Vilela (ambos Puma), Paulo de Almeida Paula (Mizuno) e Solonei Silva (Asics).

O maratonista olímpico Paulo de Paula, ao perder seu patrocínio às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio, logo arrumou um novo patrocinador e correu a maratona olímpica, prova em que conquistou o 15° lugar (antes foi 8° em Londres), a bordo da marca norte-americana Skechers, que lhe acompanha até hoje.

Entretanto, nunca entrou na minha cabeça o motivo pelo qual Giovani dos Santos, melhor corredor brasileiro (leia-se até os 21km) nas últimas quatro ou cinco temporadas não ter sido lembrado por nenhuma marca nos oito anos em que atua como profissional.

Para quem não conhece o atleta, basta lembrar que ele conquistou a medalha de bronze nos 10.000m dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, chegou ao pódio cinco vezes consecutivas na Volta Internacional da Pampulha, é o atual campeão da Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro e foi o melhor brasileiro nas últimas edições da Corrida Internacional de São Silvestre.

Finalmente, um player da indústria esportiva abriu os olhos. Trata-se da asiática 361º, que anunciou na última semana a contratação do atleta. Giovani, que começou a correr no quartel do Exército para se livrar do alcoolismo, assinou contrato de patrocínio por um ano. O acordo lhe garante salário, bônus por performance e material esportivo.

Interessante frisar que, antes de assinar o patrocínio, Giovani testou os tênis durante um mês. O resultado é que ele diz ter aprovado vários modelos, principalmente o modelo de competição Chaser, que se tornou seu queridinho.

 

 

Divulgado o patrocínio nas redes sociais, fervilharam elogios à marca, com muitos internautas agradecendo à 361º. Internautas disseram que, de agora em diante, olharão a “marca com novos olhos” e “querendo conhecer os produtos da marca”.

A crítica, que já não é mais velada, acontece porque grandes players do mercado deram as costas aos atletas da elite brasileira e passaram a ter como estratégia o apoio de material esportivo aos chamados “influencers”, que povoam as redes sociais com suas experiências.

Se um corredor deste nível precisa de material esportivo? É só fazer as contas. Um par de tênis tem vida útil de 500 km a 750 km. Fiz a seguinte pergunta na coletiva de imprensa: “Quanto você roda por semana?”. Giovani respondeu: “corro semanalmente 220 km. Quando estou mais tranquilo e não tenho uma prova-alvo, rodo uns 180 km”.

Fica a reflexão. De todos os atletas do masculino de primeiro nível em atividade do país, em uma breve análise, somente três possuem patrocínio (não confundir com apoio ou contrato ‘casado’ com clubes). São eles: Franck Caldeira (Nike), Giovani dos Santos (361º) e Paulo de Almeida Paula (Skechers).