O tempo inexorável do cronômetro e da vida

Atualizado em 20 de fevereiro de 2018
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Comecei a competir por volta dos 30 anos de idade e tudo era uma maravilha. A primeira corrida que lembro de participar foi na distância de 6 km e o pace já logo encaixou para casa dos 4min/km, e assim ficou por cerca de uma década. Mais de 20 anos depois a realidade é outra. Chegou o declínio atlético.

É a questão da longevidade de cada um de nós. Noto, no entanto, quem nem todos sabem reconhecer e aceitar o declínio atlético, principalmente, depois do advento das redes sociais, em que a cobrança e pressão fazem parte do dia a dia.

Creio que consegui passar de corredor que fazia maratonas sub 3 horas para um trail runner que não vê problema algum chegar lá atrás em uma ultratrail casca grossa, mas com o mesmo prazer de quando estive no meu ápice como corredor.

 

 

Conheço alguns ‘moscas brancas’. Corredores que mantêm um pace forte e melhoraram suas performances mesmo depois dos 50 anos idade! Mas vamos combinar, em 99% dos casos não é bem assim que acontece.

A idade chega; os anos acumulados de treinos e quilômetros (por mais cuidadoso e assessorado que sejamos) nos trazem pequenas e outras incuravéis lesões; o pace vai caindo, embora em muitos casos fiquemos mais fortes. Passamos a encarar a corrida de forma diferente. A batida da passada no asfalto e a respiração, antes ofegante, dão lugar ao ritmo leve e contemplativo.

Óbvio que nem tudo são flores. Não espere entrar em uma maratona de montanha ou em um trail casca grossa sem sofrer os efeitos da idade. Porém, a experiência faz uma simbiose entre a corrida máxima que se possa fazer aliada ao prazer da conclusão. E garanto: a endorfina rola solta igual ao um tempo sub-máximo.

Mas para que isso ocorra, a parte psicológica é a que tem que ser melhor trabalhada para aceitar o declínio atlético. O tempo é inexorável. E a mudança de categoria acontece, queiramos ou não, a cada cinco anos. É a fisiologia humana.

Se fosse falar com o corredor que já entrou na fase do declínio atlético diria para buscar algumas motivações. Qual distância corre com o tempo mais próximo do que corria antigamente? Invista nela, por exemplo. Usando o bom senso, o corredor pode criar um desafio pessoal, algo real, não inatingível.

São motivações que não buscam mais o sub-40min, 45 minutos, 1 hora, mas algo como ‘consegui atingir a meta’.

Para os que atualmente ‘ainda’ correm forte, sugiro buscar seus recordes pessoais, dar o seu máximo enquanto podem através de treino forte. Mas sempre atento e consciente aos sinais do corpo e do seu cronômetro. Eles lhe dirão quando mudar o foco de sua corrida, e principalmente, como anda seu tempo de corrida e de vida.