O que podemos aprender com o recorde de Robert Marchand

Atualizado em 18 de setembro de 2017
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Em janeiro de 2017 o bombeiro francês aposentado e com 105 anos de idade, Robert Marchand, quebrou o recorde da hora na categoria 105+ de idade. Ele já era o recordista para a categoria 100+, feito que completou 3 anos atrás (24,25 km percorridos em uma hora).

Robert, com 105 anos, completou 22,547 km em uma hora no velódromo em Saint-Quentin-en-Yvelines. Ele disse que talvez poderia ter coberto uma distância ainda maior se não tivesse perdido o aviso de 10 minutos para o final da prova. Ele diz que agora aguarda por um rival para a próxima tentativa de quebra de recorde.

Todos sabem o que significa esse feito. Uma pessoa com 105 anos pedalar durante uma hora com uma média de velocidade superior a 22 km/h é algo impossível de descrever em palavras. Mas o que está por trás desse grande feito?

As características do Robert Marchand foram estudadas e acompanhadas quando ele tinha 101 anos (e completou 24,25 km em uma hora) e depois quando ele tinha completado 103 anos de idade (e completou 26,92 km em uma hora). Antes de cada recorde quebrado, ele completou um teste em cicloergômetro.

 

 

Nesse intervalo de dois anos entre os dois recordes, ele treinou 5.000 km por ano, com um treino polarizado e envolvendo 80% do volume de treino em intensidade leve (percepção de esforço igual ou menor que 12) e 20% em intensidade difícil (percepção de esforço igual ou superior a 15). Cabe aqui esclarecer que essa escala de percepção vai de 6 (repouso) a 20 (exercício insustentável).

A cadência de pedalada sempre estava entre 50 e 70 rotações por minuto. Ainda, nesses dois anos entre os recordes, a massa corporal e a massa magra do Robert não mudaram significativamente, mas o seu consumo máximo de oxigênio aumentou 30% (subiu de 31 para 35 ml/kg/min). Seu pico de potência subiu 39% (subiu de 90 para 125 W), o que aconteceu principalmente por ele conseguir aumentar sua cadência de pedalada em 30% (subiu de 69 para 90 rpm).

A sua frequência cardíaca máxima não mudou significativamente (134 para 137 bpm; a de repouso também não mudou), enquanto que a máxima ventilação aumentou 23%.

Aqui já chegamos a uma primeira conclusão: mesmo tendo mais de 100 anos de idade, é possível melhorar a performance e o consumo máximo de oxigênio com um treino polarizado e focando em manter alta cadência de pedalada.

Mas esse feito significa muito mais. Hoje o número de idosos (pessoas com mais de 65 nos de idade) cresce a uma taxa acelerada, e esse segmento populacional será quase 20% da população total até 2050. Ainda, o segmento de pessoas com 80 anos de idade ou mais é o que mais cresce.

Com isso, o número de atletas máster participando em competições de ciclismo e corrida aumenta cada vez mais (aumenta no ciclismo e na corrida muito mais do que em outros esportes), e ainda se sabe pouco sobre como esses atletas respondem a estímulos de treino e competições.

Os dados fisiológicos do Robert Marchand equivalem ao de uma pessoa com 40 anos de idade e sedentária, e a possibilidade de melhora no seu desempenho e consumo máximo de oxigênio tendo mais de 100 anos de idade é uma forma de adicionar vida à vida, ao invés de aguardar a morte.

Então, um recorde desses significa que o esporte é o caminho para saúde mesmo quando todas as adversidades experimentadas podem direcionar para o contrário, sendo possível sempre melhorar a condição e saúde, mesmo quando se tem mais de 100 anos de idade. Esse feito também significa que as competições precisam valorizar e abrir espaço para esses atletas que são exemplo de superação.

Referência

• Billat et al. Cause studies in physiology: maximal oxygen consumption and performance in a centenarian cyclist. J Appl Physiol. 2017;122(3):430-34