O piradão mais rápido do mundo

Atualizado em 20 de setembro de 2016

Ex-corredor de destaque no circuito colegial e até com incursões no terreno profissional, o norte-americano Chris Barnicle tem sido um evangelista dos efeitos benéficos do uso medicinal da maconha para corredores.

O consumo da erva em tabletes mastigáveis teve grande e positivo impacto sobre sua capacidade de correr longas distâncias, costuma afirmar o atleta. Pode ser um fato, mas também pode ser propaganda: Barnicle trabalha em Los Angeles como distribuidor de maconha para uso medicinal, atendendo clínicas e hospitais.

O problema é que, como ensinava Lênin, “a prática é o critério da verdade”.
E nosso amigo Barnicle, que já foi bom o suficiente para conseguir uma vaga na seletiva para a definição da equipe de maratonistas que vai representar os Estados Unidos na Olimpíada do Rio, terminou em modestíssimo último lugar na referida prova.

Não só foi o último como também estabeleceu um novo recorde de pior tempo na história das seletivas. Completou em 3h45min34, mais de meia hora depois de a última mulher ter passado a linha de chegada.

Autoproclamado o “piradão mais rápido do mundo”, Barnicle parece não ter se abalado com o resultado. A um site norte-americano de corridas, disse que o sábado da seletiva olímpica foi “dia muito, muito especial”.

Bem na boa, como parece levar a vida, nosso amigo decidiu de última hora participar do evento. Foi por volta do Natal do ano passado, quando viu notícias de que a seletiva seria realizada em Los Angeles, que decidiu consultar seus tempos passados. Aliás, tinham de ser antigos mesmo, pois ultimamente o veloz piradão não tem corrido grande coisa. O fato é que, em 2013, fez uma meia-maratona em 1h04min29s, tempo não só absolutamente respeitável como também suficiente para lhe garantir uma vaguinha na seletiva.

Ele renovou sua filiação à entidade norte-americana de atletismo, preencheu a ficha de inscrição, pagou as necessárias taxas e, no tempo de meia dúzia de baforadas, estava apto a disputar a maratona classificatória. A prova foi realizada no último dia 13 de fevereiro, véspera da maratona de Los Angeles aberta ao público em geral.

Um intervalo rápido para lembrar que os EUA têm um critério diferente do adotado pela CBAt para escolher seus maratonistas olímpicos. Aqui, os atletas precisam se qualificar ao longo de uma janela de tempo, em qualquer maratona reconhecida pela IAAF (a Fifa do atletismo). Ao final do prazo, os três melhores – ou nem sempre os três melhores, pois há critérios adicionais — são selecionados.

Nos Estados Unidos, qualquer atleta que tiver tempo até uma determinada marca tem direto a participar da maratona seletiva, que é onde é formada a equipe olímpica. Neste ano, por exemplo, 105 corredores participaram da prova masculina. Com o que voltamos ao nosso amigo Chris Barnicle, o 105º colocado entre seus pares.

Por causa das pressões do trabalho – que, segundo ele, é exigente, ainda que muito piradão provavelmente gostasse da vaga -, ele conseguiu treinar muito pouco. Testou sua velocidade e resistência em um percurso de 16 quilômetros, que completou em 1h15 – para mim, muito mais do que excelente. Fez ainda uma jornada de três horas sem se preocupar com distância e um longão de 32 quilômetros.

No dia da corrida, segundo disse à imprensa local, pretendia começar leve, atrás e, aos poucos, ir comendo pelas beiradas, passando os que estivessem mais lerdos ou cansados.

Ledo e ivo engano.

A última colocada entre as mulheres, Joanna Zeiger, que passou por várias cirurgias de quadril e estava sofrendo de dores e enjoo, já tinha terminado quando o “piradão” ainda se encontrava por volta do km 35.

Os últimos quilômetros foram doloridíssimos, por causa de câimbras monumentais. O pessoal da área médica por várias vezes consultou Chris para ver se ele não achava melhor parar.

Nana nina.

Lá foi ele até o mais amargo fim, com dores e tudo, defender as cores de sua filosofia de vida.

Apesar de tudo, a participação deixou o piradão mais rápido do mundo entusiasmado. Ele disse que está pensando em voltar ao circuito profissional de corridas; antes, porém, quer deixar sua empresa bem estabilizada.

Não é de hoje que nosso amigo corredor se revelou um empreendedor com razoável tino comercial. Com dois amigos corredores, iniciou a Organic Zip no Arkansas, comercializando maconha comestível.

Por falta de suprimentos, a empresa acabou falindo. Ele não desistiu e, depois de várias empreitadas de relativo sucesso, está hoje nessa companhia de maconha medicinal. “Respeitamos absolutamente toda a legislação da área”, disse ele à imprensa norte-americana. “É tudo remédio. Tudo o que fazemos está dentro da lei.”

Beleza aí, cara!

PS.: Com os resultados da seletiva, o time de maratonistas norte-americanos que virá ao Rio-2016 é formado por Galen Rupp (2h11min12), Meb Keflezighi (2h12min20) e Jared Ward (2h13); no feminino, Amy Cragg (2h28min20), Desiree Linden (2h28min54) e Shalane Flanagan (2h29min19). Não há notícia de que algum deles use maconha medicinal em sua preparação.