O movimento dos braços na corrida

Atualizado em 01 de julho de 2016

Corredores costumam se preocupar com a quilometragem, com o tempo, o clima e, talvez, com o  calçado. Aqueles mais atentos observam a pisada, a inclinação do tronco, o balanço das pernas e até a posição da cabeça. Uma minoria repara e tenta mudar a posição dos braços. Mas, neste último caso, apenas uma parcela ainda menor entende ajeitar o balanço dos braços é tão valioso.

Para começar, e mostrar logo a diferença que eles fazem, experimente correr com as mãos no bolso do shorts (se não tiver bolso, simule um). Depois, corra com apenas uma mão no mesmo bolso. Agora, tente com as mãos na cintura. E, só para variar, corra com os braços cruzados na frente do peito. Repare que para cada posição dos braços o padrão da corrida mudou e mudou muito. Se continuar brincando com posições inusitadas dos braços durante na corrida vai reparar que algumas são menos desconfortáveis e atrapalham menos o rendimento que outras.

Vamos aprofundar o raciocínio. Supondo que precisemos correr com as mãos encima da cabeça, teremos que movimentar o osso do braço a mais ou menos 90 graus para cima. Isso faz com que algumas costelas (pela natureza da biomecânica do ombro) elevem-se lateral e anteriormente facilitando a entrada de ar nos pulmões. Parece bom, mas isto dificulta a saída deste mesmo ar que entrou. Indo mais a fundo, se as costelas elevam-se da maneira descrita cria-se uma discreta curvatura da coluna para trás, facilitando a ação dos músculos posteriores da coluna. Ou seja, o simples fato de elevar os braços durante uma corrida pode dificultar a respiração e gerar dores nas costas, acelerando a fadiga e reduzindo o rendimento.

Mas como a grande maioria dos corredores não precisa correr de mãos atadas ao topo da cabeça, vamos pensar em algo mais real. Então, experimente correr com os cotovelos bem dobrados, com os antebraços quase que paralelos ao seu tronco e depois compare com eles menos dobrados. Agora, corra com as mãos cruzando pela frente do seu peito, antebraços rodados para dentro, com cotovelos mais abertos e depois compare com o oposto, ou seja, as mãos se afastando da frente do seu peito, antebraços rodados para fora e os cotovelos mais juntos. Foram exemplos mais exagerados, mas saiba que cada ângulo a mais ou a menos é suficiente para mudar toda a compensação do corpo.

Teoricamente, quanto menos você afastar os braços do corpo, menos força será necessária para controlá-los por uma questão de alavancas. Além disso, quanto menos oscilações dos braços, menor será o gasto energético do corpo para manter seu centro de massa estável. Ou seja, seu equilíbrio. Isso significa dizer que a pessoa que corre com os braços mais juntos ao corpo teoricamente vai se cansar menos do que quando corre com os braços mais afastados (lateral, anterior ou posteriormente).

Quando comparamos um corredor de 100 metros rasos e um maratonista, vemos que o primeiro usa movimentos muito mais amplos de braços do que o segundo. O velocista é obrigado a utilizar mais os braços para manter o equilíbrio do corpo, após grande impulsão dos membros inferiores. Como são forças extremas que se alternam de um lado para outro (perna esquerda e perna direita), o melhor mecanismo que o corpo utiliza para se manter estável é justamente um balanço do braço do lado contrário do membro inferior. Se a perna direita está indo para trás, o braço esquerdo também vai, enquanto o direito vai para frente. Nesse momento, é possível imaginar nas consequências que podem existir em casos de braços rodados para dentro ou para fora, movimentando-se demais para frente ou para trás, cotovelos muito esticados, mãos soltas demais, etc.

Existem aqueles que acreditam que os movimentos dos braços na corrida são consequências dos movimentos dos membros inferiores e vice-versa. Existem os que avaliam os braços para diagnosticar assimetrias na coluna e bloqueios na pelve, enquanto outros corrigem movimentos dos ombros para tratar dores de pescoço. Na verdade, todos estão certos, pois realmente o corpo está todo interligado. O que mais importa mesmo é que você encontre o seu movimento mais adequado. Como? Parece brincadeira, mas é experimentando diversas posições, até sentir qual fica mais confortável, melhorando inclusive o seu desempenho após um treino mais longo. É como encontrar o calçado ideal para cada tipo de prova. Fica aí, mais uma dica para o seu próximo treino!