O corpo do maratonista

Atualizado em 20 de setembro de 2016
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Qual seria o corpo ideal da pessoa que corre uma maratona? Magra e alta com pernas longas, tronco estreito e quadril largo, baixa e gordinha com pernas grossas, tronco largo e quadril estreito?

Sinceramente, o que mais importa é o que está por baixo de tudo isso. E isso é o assunto deste artigo.

Para correr os 42.195 metros é preciso de muito treino. Mas não são treinos apenas para ganhar força, perder peso, ganhar fôlego e resistência. São treinos para mudar o funcionamento do seu corpo durante uma corrida. E isto requer tempo, muito tempo, a não ser que você possua uma genética favorável.

Em primeiro lugar, vamos pensar nos músculos. Nascemos com basicamente dois tipos de fibras musculares: as potentes e as resistentes, cada qual na sua devida proporção. Durante o período de preparação para uma maratona é preciso mudar toda uma condição muscular, desenvolvendo as fibras mais resistentes em relação às potentes. E somente este processo pode levar anos – acredite.

Em segundo lugar, é preciso adaptar o sistema que nutre estes músculos – ou seja, a maneira como a energia chega até eles. Para isso, é válido lembrar que existem três fontes principais de energia: carboidratos, proteínas e gorduras, que são consumidas nesta mesma ordem, sendo a primeira esgotada rapidamente a última, mais lentamente.

Na Maratona não é possível depender apenas de carboidratos e proteínas, a não ser que o atleta leve quilos de comida para ir comendo durante a prova (o que seria inviável). Para isso, os treinos servem para desenvolver um mecanismo onde a gordura é mais rapidamente recrutada para servir de fonte energética aos músculos – e, por isso, é praticamente impossível não perder gordura ao se preparar para uma prova como essa.

Continuando a falar da nutrição muscular, não podemos esquecer do coração. Existem diversos estudos que mostram uma alteração no tamanho dele em maratonistas, inclusive nos amadores. Isto ocorre por uma necessidade de mandar mais sangue até os músculos das pernas, por longos períodos, sem aumentar tanto a frequência cardíaca e sem sobrecarregar a musculatura do coração, mantendo a mesma eficiência para transportar o oxigênio, vitaminas e sais minerais ao corpo todo.

Outro órgão extremamente importante é o pulmão. Ele não aumenta como o coração, mas também se adapta para melhorar nosso rendimento. Melhora os mecanismos de expansão e captação de ar, fazendo com que aproveitemos a maior área pulmonar possível, colocando uma dose maior de oxigênio no sangue bombeado pelo coração.

Por fim, não podemos deixar de lembrar do aprendizado mecânico. É um termo que pode ser usado para resumir tudo que o corpo aprende ao longo dos treinos. A quantidade de força para cada passo, os músculos usados e a ordem de contração deles, a amplitude de cada articulação, a direção e sentido dos movimentos de pernas, tronco e braços, a associação com a respiração e o automatismo disso tudo, para que durante a prova você não gaste energia pensando em como deve se movimentar.

Note que todos estes itens citados não mudam de um dia para o outro.

São adaptações anatômicas e fisiológicas que levam anos e por isso é quase humanamente impossível sair do sedentarismo e correr uma maratona com menos de um ano de treinos, sem sofrer lesões. Portanto, tenha paciência se quiser correr os 42k algum dia. Se você já corre esta distância, agora já sabe por que não consegue mais ganhar naquelas apostas pra ver quem chega mais rápido no outro lado da rua! Mas relaxe…todo maratonista merece respeito!