El Cruce: inesquecível em todos os instantes

Atualizado em 20 de setembro de 2016

ÉS DIFERENTE! Sem dúvida alguma esse slogan se fez valer durante a 15a edição do El Cruce, encerrada de forma extremamente incrível e inesquecível por todos os mais de três mil atletas que estiveram por lá. Foram aproximados 98km distribuídos em três dias, onde cada “etapa“ apresentou uma singularidade em relação aos percursos e com visuais espetaculares em cada km percorrido. Até para sermos coerentes com o propósito deste canal, vou falar um pouco sobre o que vivi junto com minha dupla Paloma Vasconcelos durante a prova, mas também falar um pouco da inesquecível viagem e momentos de descontração que pude viver mais uma vez na terra dos nossos hermanos.

Vamos dividir o texto em dois capítulos.

O primeiro, A PROVA.

Fizemos a inscrição para o El Cruce há cerca de 6 meses. Desde que comecei a correr montanhas, esta prova sempre esteve no meu alvo como uma das mais desejadas. Sendo muito objetivo neste início, vim carregando uma certa frustação em relação a comunicação da prova. Sou dessa área e posso falar: faltou uma interatividade maior da organização com os atletas. Por outro lado, desde o primeiro momento que pisamos em San Martin, respiramos exclusivamente a prova de uma forma que eu jamais vira com staffs, atletas e fotógrafos por todos os cantos da cidade.

Credenciamento, retirada de kit, foto oficial da dupla, entrega da mala que será levada pela organização aos campings, congresso técnico, jantar, dormir, acordar e…..chegou a hora! Conferimos mais uma vez todos os itens obrigatórios que deveríamos levar conosco por todo o percurso, além das coisas pessoais como alimentos, suplementos e partimos para o ponto de embarque onde vans da prova nos levariam até ao incrível e tradicional pórtico de largada. Sabíamos que o nível da prova estava muito alto, mas sabíamos que poderíamos buscar um resultado expressivo.

Apesar da primeira etapa já proporcionar 42km, a altimetria não era algo assustador para quem já corre montanhas. Correndo em meio às paisagens da região, devo confessar que ficou um pouco mais fácil – e, em alguns momentos, até rápido demais! Tivemos pequenos problemas ao longo do percurso, superamos e finalizamos bem esta fase.

Já no camping (pela primeira vez), pudemos vivenciar tudo que o El Cruce proporciona para os atletas: desde uma tenda exclusiva para recarregar seu GPS e sua câmera de fotos, até churrasco, salada, massas e frutas por todo o dia, sem parar! Com uma organização sim, mas completa, ficou muito fácil para todos competidores cruzarem a linha de chegada, organizar o descanso e curtir todo o camping e experiência que a prova proporciona.

Após uma “aula“ de detalhes que só aprendemos mesmo estando lá (sobre acampar, por exemplo), uma ótima interatividade entre atletas de todos os países e um relaxante banho no lago, havia chegado a hora de pular para dentro da barraca e descansar.

O dia começa cedo por lá. Mesmo com a largada marcada para as 7h30, em ordem de classificação conquistada no dia anterior, alguns atletas já começam a se movimentar por volta da 5h – e, estando em uma barraca, qualquer som pode te acordar.

Café da manhã tomado (aliás, um belo café) hora de irmos para a largada – afinal, estávamos no primeiro pelotão (na posição de número 25 geral). O segundo dia impôs pouco mais de 28km, sendo o início bem plano, uma subida que parecia puxada no segundo terço da prova e uma chegada plana.

Até então nada assustador, certo? Errado!

Os primeiros quilômetros foram planos sim, mas correndo boa parte dele dentro da água (literalmente)! O fim também era plano…mas com ventos que, por vezes, faziam você trançar uma perna na outra! (risos).

De qualquer forma, encaixamos uma prova boa, ganhamos mais algumas posições e chegamos firmes mais uma vez! Como já havíamos entendido como funcionava toda estrutura do camping, somado ao frio que fazia no local, fomos ainda mais rápidos na organização de tudo por lá.

Um único problema é que ali ventava muito – e não tínhamos mesmo onde tomar banho. O jeito foi fazer uso dos lenços umedecidos fornecidos com o kit da prova. Mesmo com um frio de rachar, mais uma vez a interatividade com os demais atletas fez a diferença. Aliás, acho que esse é o grande momento do El Cruce.

Ali conhecemos pessoas, escutamos histórias, damos altas gargalhadas e aprendemos muito com todas as experiências compartilhadas.

Um detalhe simples (mas muito bacana) feito pela organização foi colocar junto à bandeja das refeições um papel com os detalhes da etapa do dia seguinte…mapa, altimetria, etc. Com isso, comíamos já estudando o que teríamos pela frente!

O terceiro e último dia seria o mais desafiador. Mesmo com pouco menos de 30km de prova, teríamos (já na largada) uma subida de 4km de extensão onde subiríamos aproximadamente 950m de altura! Que ia doer, era fato.

Durante o jantar, fomos chamados para um congresso técnico e informados que a largada não seria mais as 7h30 – e sim às 9h. Isso porque o frio estava extremamente intenso. Mas poderia ser pior: os ventos estavam acima de 70km/h e isso colocaria em risco a vida dos atletas. Posso confessar que dormi com um pouco de indigestão.

O movimento fora da barraca começou um pouco mais tarde – não só pelo horário mais tarde da largada, mas também por causa do frio. Estava impossível sair da barraca, mesmo com todos os agasalhos possíveis e com o rosto coberto. A temperatura não estava absurdamente baixa, mas o forte vento que nos pegava estava extremamente gelado.

Tomamos o café da manhã, nos preparamos, começamos o aquecimento e… largada adiada para às 10h, pois o frio e os ventos continuavam insanos.

Aquela coisa: volta para a barraca, deita e espera mais 45 minutos para retomar o aquecimento. Nesse momento passam mil coisas pela cabeça… se a prova é considerada dura e eles estão retardando a largada por condições adversas, o negócio lá em cima estava realmente complicado.

O tempo até que passou rápido – e fomos nessa. Enfileirados para a largada, queríamos tentar encaixar uma subida conservadora, mas constante. Sinceramente, acho que subimos bem. Digo bem para o que treinamos. Não tenho dúvidas que fizemos o nosso melhor ali. As panturrilhas fritavam a cada passo, os quadríceps pareciam que iam explodir a qualquer momento.

Mas aqui cabe um ponto: os gringos nos passavam de uma forma assustadoramente fácil. Depois de aproximadamente 1h15min, chegávamos no primeiro topo, com exatos 4km de prova. Aqui, devo confessar que erramos na estratégia.

Pensamos tanto nesta subida que não demos o devido valor para o resto. Tínhamos mais 7km entre subidas e descidas em um pico tão lindo quanto assustador. Os ventos pareciam cortar o rosto (e qualquer pedaço de pele que estivesse exposto a ele). Correndo próximo às nuvens, o sobe/desce por ali minaram nossos corpos!

Com quase 12km de prova, começaram as descidas sem fim, até a linha de chegada. Foram 16km praticamente descendo o tempo todo. Fácil? Nem um pouco. Depois de destruir as pernas nas subidas, descer tudo isso em trilhas abertas, mas que exigiam atenção extrema, não foi nada fácil. Quando avistei a linha de chegada, com algo em torno de 600m para percorrer, senti um alívio.

Não sei se esta seria a melhor palavra para definir o sentimento naquele momento. Mas, graças a Deus, aquele dia tenso estava acabando. Com 300m ou 200m, já entrando no funil de chegada, o pensamento passou a ser……já? Jura? Não terá mais nada amanhã? Eu estava destruído muscularmente falando, mas eu queria mais… aliás eu ainda quero mais! O pórtico de chegada do El Cruce é muito especial. Subir aquela rampa faz com que o atleta se sinta ainda mais forte, se sinta especial ou então, se sinta DIFERENTE.

Saio desta prova com a sensação de que vivi dias de sonho, em um lugar espetacular, com pessoas incríveis em minha volta e uma organização que não pecou em absolutamente nada! Se posso pontuar algo, é o fato de darem apenas um número de peito. No terceiro dia, ele já não estava nem um pouco legal. 🙂

Tenho de forma clara o quanto esta prova marcou minha vida e o quanto ela me forneceu experiências, que serão levadas por toda vida. Sem dúvidas, ainda voltarei para o El Cruce até porque nenhuma edição o lugar e percurso são repetidos… e aí? Já pensou?

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