Dores X Treinos

Atualizado em 14 de julho de 2016

Existem basicamente três tipos de pessoas: as que acreditam que a dor faz parte dos treinos; as que usam os treinos para aliviá-las; as que param os treinos por conta dela. Se alguns a consideram uma boa desculpa para não sair de casa, outros a usam como motivação e até sentem-se orgulhosos em dizer que suam a camiseta com uma boa dose dela. Mas, afinal de contas, quem está certo?

Antes de responder, é importante considerar alguns pontos sobre a dor. Ela é um estímulo que qualquer parte do corpo pode enviar ao nosso cérebro e esse, por sua vez, interpreta-o como um desconforto, um incômodo, que precisa ser aliviado. Esse estímulo, geralmente, é proveniente de algo que abalou negativamente nosso corpo, como aumento de pressão em algum tecido, excesso de temperatura, corte ou furo em alguma estrutura corporal, pancada, excesso de atrito, falta de oxigênio, estresse de algumas funções fisiológicas, espasmos musculares, processos inflamatórios, infecções, fraturas ósseas, fadiga de alguns tecidos (como o músculo), entre diversos outros motivos. Ou seja, ela representa um alerta indicando que algo não está normal.

A sensação desse alerta que o corpo nos envia pode ser diferente, de acordo com cada pessoa. Popularmente dizemos que as mulheres suportam mais as dores do que os homens. Mas isso não significa que elas sintam menos que eles. Independente do sexo, existem variações no limiar de dor de pessoa para pessoa. O limiar de dor é o quanto de dor um indivíduo consegue suportar, ou mesmo a quantidade de estímulos que a pessoa precisa receber, para começar a sentir o desconforto. Basta lembrarmo-nos da época de vacinação. Enquanto uns franzem a testa ou enchem o rosto de rugas, outros ficam indiferentes à injeção.

Quando uma pessoa possui um baixo limiar de dor, estímulos mais leves são necessários para que ela sinta alterações no corpo. Geralmente, são pessoas mais sensíveis, que sabem com detalhes tudo aquilo que as prejudica. Costumam ser mais cuidadosas nos treinos, atentando-se para os movimentos, sentindo se existe alguma limitação ou mau funcionamento de alguma parte do corpo. Já aquelas com alto limiar de dor precisam insistir mais tempo em exercícios lesivos para começarem a sentir algum desconforto, pois são menos sensíveis e, geralmente, não possuem muitas informações a respeito das causas das dores. Os motivos dessas diferenças são vários, indo desde a genética até a educação que cada pessoa teve, incluindo fases na vida onde foi necessário suportar grandes quantidades de dor.

Nota-se que a tradução que algumas pessoas fazem da dor vai depender de como elas condicionaram seus cérebros. Se desde a infância a pessoa foi condicionada a associar a sensação de dor como algo vergonhoso, ela certamente criou um bloqueio maior, aprendendo a ignorar este estímulo. Por outro lado, a pessoa que com qualquer dor manifestada, recebia atenção e cuidados das pessoas ao redor, poderá associar o estímulo a algo que deve ser rapidamente tratado. A partir daí, lembramos das pessoas que associam a dor ao prazer, a tristeza, a traumas antigos, etc. Por isso, entre outros fatores, que a consideramos algo subjetivo, difícil de mensurar e comparar.

Agora, finalmente respondendo a pergunta, podemos dizer que os três tipos de pessoas podem estar certos, ou errados.

No primeiro caso, a dor não deveria fazer parte dos treinos e, se faz, é porque algo está errado. Mas existem casos de pessoas que possuem pequenos problemas musculares, tendíneos, neurais, ou de outras estruturas, onde o tratamento não é viável ou inacessível, onde os benefícios ganhos pela atividade física são muito maiores que os malefícios gerados por esta atividade. Nestes casos, o treino poderá até ser indicado, mesmo com sintomas constantes.

No segundo grupo, os treinos realmente podem servir como tratamento, estimulando os músculos, oxigenando os tecidos e movimentando articulações, melhorando muitos sintomas. Porém, podem apenas reduzir as dores pela liberação de substâncias analgésicas e que dão a sensação de bem-estar (como a endorfina), quando na verdade os treinos podem estar agravando pequenas lesões, mas que a pessoa só sente no final do dia, ou no dia seguinte, após o efeito destas substâncias e do aumento da temperatura corporal gerado pela atividade física.

Por fim, no terceiro grupo, aparentemente estas pessoas estão corretas, parando com as atividades após início das dores. Mas existe uma parcela neste grupo que associa a dor com sintomas de indisposição, falta de motivação e consequentemente um cansaço precoce, “criando” um tipo de dor indefinida e usando-a para justificar o término da prática física.

Independentemente de qual grupo você se encaixa, é preciso entender as causas e origens de suas dores, procurando ajuda profissional quando sentir que não consegue se cuidar sozinho. Ignorá-las não parece muito prudente, mas valorizá-las demais também não é indicado. O importante mesmo é que elas não atrapalhem o rendimento dos seus treinos, muito menos a qualidade de sua vida.