Correndo pelado

Marcel Sera
Atualizado em 30 de novembro de 2020
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Tem gente que leu o título “Correndo pelado” e imaginou pessoas correndo sem relógio de GPS, sem smartphone. Tem gente que se imaginou correndo sem tênis, ou apenas com roupa íntima. E tem gente que pensou em pessoas correndo totalmente nuas. Pois bem, vamos falar de todos, mas principalmente desta última opção?

Antigamente a elite da corrida usava uma regata, um shorts curto e um par de tênis igual a todos. Teve até um maratonista que venceu a prova descalço. Hoje a elite usa fitas adesivas, tecidos elásticos nos membros, bermudas compressivas, calçados cheios de tecnologias e materiais que antigamente nem existiam. 

A única maneira de comparar os antigos com os atuais, seria colocando todos na mesma linha, disputando uma prova no auge de suas performances, mas pelados. Você acha que faria muita diferença?

Vamos analisar uma corrida pelada e tire  as suas próprias conclusões.

Vamos deixar os tênis de lado. Todos já andaram ou fizeram algum trote (nem que seja de poucos metros na praia ou na grama de algum lugar) e sabem a sensação e a diferença que um calçado proporciona. Também vamos desconsiderar boné, viseira, óculos escuros, fone de ouvido, relógios, celulares. Afinal, quando digo “pelado”, é sem roupa, sem nada, é do jeito que viemos ao mundo.

Quando estamos nus, nosso corpo possui partes que chacoalham mais durante uma corrida, se compararmos quando estamos vestidos. Pênis, escroto (popularmente conhecido como “saco”), mamas, excessos de pele (pessoas que emagreceram muito) e regiões com maiores acúmulos de gordura. Até os músculos chacoalham (mesmo sendo bem menos) e também contribuem com oscilações constantes no nosso centro de massa, fazendo a gente gastar mais energia para correr. 

É como treinar com uma garrafa de água na metade, dentro de uma mochila grande e vazia nas costas. A água vai para um lado, enquanto a garrafa vai pro outro, a mochila vai para trás e seu corpo está indo para frente. Enfim, não existe harmonia e gastamos muita energia desnecessária.

Muitas roupas de corrida atuais conseguem reduzir muito esses movimentos, principalmente os tecidos elásticos, compressivos, que firmam e reduzem os movimentos descompassados do corpo. 

É como amassar a garrafa do nosso exemplo até que a água fique na boca, prendê-la no meio da mochila e fixar esta última nas costas. Menos oscilações necessitam menor gasto energético para manter o equilíbrio, resultando em maior rendimento.

Agora você entende porque algumas pessoas dizem que roupas não fazem diferença alguma enquanto outras só conseguem ter prazer correndo com determinadas roupas? Provavelmente as primeiras possuem poucas partes que chacoalham, diferente das últimas. 

Por exemplo, atletas de elite de corrida em longas distâncias provavelmente não se beneficiam tanto com o uso dessas roupas. São corpos secos, não se vê gordura ou excessos de pele, pouca massa muscular, mulheres com mamas bem reduzidas e por isso o único componente que mais ajudaria seria um bom calçado.

Cada pessoa tem um corpo diferente da outra e por esse motivo óbvio as diferentes reações e sensações quando usam uma roupa x ou y devem ser respeitadas. 

Caso você não sinta diferença alguma com a roupa que pagou caro e prometia algumas diferenças positivas, experimente correr nu(a), Vai se surpreender. Mas por favor, em local adequado…

Marcel Sera

Marcel Sera

Fisioterapeuta, palestrante e atleta amador! A ideia, aqui, é explicar como usamos e o que acontece com o nosso corpo em cada situação, ação e emoção de nosso dia-a-dia. Correr é uma terapia e minha fonte de inspirações para compartilhar o conhecimento de forma simples e objetiva para todos os interessados. Sugira, critique, questione, treine e corra à vontade!

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