Como surgiram as planilhas de treinos?

Atualizado em 13 de janeiro de 2017

Desde o ano passado, conheci alguns atletas amadores que, assim como eu, estão treinando para correr pela primeira vez os 42.195 metros de uma maratona. A maioria relatou que estava seguindo planilhas de treino específicas e desde então eu comecei a me perguntar: “De onde vieram essas planilhas? Qual o embasamento disso? Serve para todo mundo?”.

Antes de tudo, gostaria apenas de deixar bem claro que eu sou daqueles que não acredita em regras bem definidas quando falamos do corpo humano. Por exemplo, existem remédios para dor de cabeça que funcionam para alguns, mas não para outros; estudos divulgados por revistas internacionalmente respeitadas até hoje não chegaram a um consenso sobre o efeito benéfico ou maléfico do alongamento; a francesa Jeanne Calment comia um quilo de chocolate por semana e fumou cigarro até os 117 anos de idade, falecendo com 122 anos. Ou seja, definitivamente eu não acredito muito em receitas que funcionam para todas as pessoas.

Considerando esses e outros exemplos, devemos pensar sobre a eficiência e qualidade destas planilhas de treino, que não perguntam sua altura, seu peso, seu biótipo, seu histórico de lesões, sua alimentação, qualidade do seu sono, postura, entre várias outras características básicas. Uma das únicas coisas que eu reparei na maioria delas era a necessidade de saber o seu tempo médio em provas de 5km, 10km, 15km e/ou 21km.

Calma, pessoal, não vim condenar essas planilhas de treino. Certamente elas foram criadas após muitos anos de coleta de dados de pessoas que completaram as maratonas de forma satisfatória, associadas a muitos estudos, possivelmente com fisiologistas e profissionais da saúde especializados em medicina e treinamento esportivo.

 

 

Com o tempo, elas foram aprimoradas e lapidadas. E, por conta disso, elas funcionam muito bem, para muitos. Mas saiba que essas planilhas não foram feitas sob medida para você, mas sim para um grupo “possivelmente mais ou menos parecido” com você (isso quando você escolhe o grupo certo).

Já conheci pessoas que fugiram das “regras” e se deram muito bem nas maratonas, que valem a pena serem citadas aqui:

– Joel, que corria 14,3 km diários, descalço, para buscar água (e voltava andando, carregando a água). Ganhou inscrição (e um par de tênis) de um fazendeiro local e fez a maratona de Porto Alegre em 3h38min;

– Marcelo Diniz fez treino de 45 km a um mês da maratona (duvido acharem isso em alguma planilha para amadores) e, não bastasse isso, a uma semana (que era para ser de descanso, com baixa rodagem) ainda estava fazendo treinos de mais de 20km. Terminou a Asics SP City Marathon em 3h20min;

– Carlos Tomita, que corria em torno de 170km por semana, fazendo inclusive treinos de mais de 40km, basicamente tudo na esteira da academia. Concluiu o Dopey Challenge (5k, 10k, 21k, 42k em 4 dias seguidos) fazendo a maratona em 3h09min.

Detalhe: nenhum deles se machucou após a prova.

Resumindo, a minha melhor sugestão seria que você olhasse, sim, as planilhas de treino para ter uma ideia do que a média das “pessoas possivelmente mais ou menos parecidas com você” faria. Mas, em cima disso, descubra seus diferenciais e faça ajustes pequenos, aos poucos, até ter uma planilha de treinos mais adequada. Para isso, além de escutar o seu corpo, escute seu treinador e pessoas com mais experiência nas corridas. Elas possuem informações valiosas que sempre nos ajudam. Mas não seja como elas, seja você mesmo.