Atividades rotineiras que influenciam na corrida

Atualizado em 28 de julho de 2017
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Faz um tempo que venho observando diferentes tipos de corredores amadores. Desde os mais rápidos até os mais longevos, pesados, altos, com passadas curtas ou saltitantes, curvados, sorridentes. Mas, acima de tudo, com ocupações diferentes, no presente e/ou no passado. E isso muda tudo.

Obviamente, uma pessoa que foi atleta a vida inteira terá uma resposta do corpo na corrida diferente em relação a uma pessoa que sempre foi sedentária. Mas saiba que uma pessoa que passa várias horas sentada o dia inteiro também poderá ter uma resposta diferente de outra que trabalha o tempo todo em pé, mesmo que façam exatamente os mesmos treinos, nos mesmos horários.

Recentemente conheci dois corredores extremos. Um trabalha em um enorme centro de abastecimento puxando carrinhos com quase meia tonelada de frutas de segunda a sábado. O outro tem histórico de obesidade, sedentarismo e excesso de trabalho sentado. Adianto que, hoje, ambos são corredores acima da média, mas que correm totalmente diferentes um do outro.

O primeiro corre com o tronco inclinado para frente, ombros mais rígidos, passadas mais largas. Já o segundo corre com os joelhos mais dobrados, passadas mais curtas e rápidas e ombros bem mais soltos. O primeiro parece que está pronto para puxar um carrinho durante o treino e o segundo parece que corre sentado. É claro que exagerei um pouco, mas visualizando-os correndo, fica bem fácil de entender.

Isso pode acontecer porque estamos estimulando e treinando nosso corpo o tempo todo. Seja quando o polegar está doendo e precisamos escovar os dentes de uma maneira diferente, seja quando ocupamos nossas mãos e precisamos empurrar uma porta com o pé, mas principalmente quando realizamos as mesmas atividades todos os dias.

Neste último caso, adaptamos nossas articulações, músculos, ligamentos, nervos e outros diversos tecidos para executar os movimentos da maneira mais eficiente possível, mas isso apenas quando é necessário. Do contrário, se a ocupação for estática, o corpo tende a se moldar na postura que exija menos gasto energético (um bom exemplo é a pessoa que passa o dia todo sentada e fica com a coluna curvada e bacia escorregada para frente).

 

 

O homem que puxa os carrinhos pesados está sempre fazendo força com o corpo inclinado para frente (o carrinho fica atrás, sendo puxado pelas mãos), passadas firmes e mais espaçadas, porém, com o tronco e ombros firmes para manter o carrinho na linha. Já o que passa horas sentado mantém os joelhos sempre mais dobrados, os músculos abdominais mais relaxados e dobrados, com a bacia encaixada para trás. Isso justificaria algumas características das suas posturas durante a corrida.

Apesar de tudo, é importante deixar claro que isso não é uma regra. Não quer dizer que todo mundo que trabalha sentado o dia todo vai correr com joelhos dobrados, nem quer dizer que quem puxa carrinhos vai correr inclinado para frente. Certamente pessoas com estas ocupações terão mais facilidade para adotarem tais características, mas não necessariamente correrão assim.

É válido lembrar que existem várias maneiras de ficar sentado em uma cadeira, da mesma forma que, dependendo do porte físico, também existem meios diferentes de puxar um carrinho. Além do mais, praticantes de outras modalidades como yoga, pilates e musculação (entre diversas outras modalidades) ou mesmo aqueles que fazem os exercícios educativos conseguem eliminar boa parte destas influências ocupacionais.

Agora que está terminando a leitura, tome mais cuidado com a postura que adota no seu cotidiano. Se leu este artigo sentado, repare se não curvou demais o tronco para frente. Se leu em pé, repare se sua cabeça não ficou inclinada demais para baixo (isso serve para os que ficaram sentados também!). Lembre-se que estes maus hábitos podem refletir em sua corrida.