Amortecendo os ossos!

Atualizado em 01 de julho de 2016

Quando pensamos no termo “amortecer os ossos”, logo pensamos nos calçados tecnológicos para corrida, seus amortecedores de gel, bolhas de ar comprimido, materiais da NASA, etc. Eliminando aqueles que estudam um pouco de anatomia, é difícil lembrar que temos nosso próprio sistema de amortecimento. E se possuímos este tipo de sistema, é porque ele é necessário.

Repare nos passos que damos durante uma caminhada. Assim que o calcanhar encosta no chão, nosso joelho vai sutilmente dobrando, de forma que o peso vai passando da parte de trás do pé, até a parte da frente. Neste exato momento, o tornozelo também está se movendo para baixo, fazendo o pé empurrar o chão para baixo e para trás. Para provar que são mecanismos de amortecimento do corpo, basta apostar uma corrida sob um piso de madeira, tentando fazer o menor barulho possível, usando o seu corpo naturalmente e, depois, sem dobrar os joelhos nem os tornozelos. Vai reparar que neste último caso, a corrida será bem mais barulhenta, confirmando que a absorção de impacto foi menos eficiente.

Nossos mecanismos de amortecimento estão constantemente sendo recrutados. O principal deles são nossos músculos, que presos aos ossos e trabalhando em conjunto, formam uma estrutura flexível capaz de acumular a energia proveniente de um impacto e transformá-la em força de contração muscular para gerar um movimento ou dissipá-la para outras partes do corpo. Se este sistema for falho (lesões musculares, doenças) ou deficiente (fraqueza muscular, problemas neurológicos, falta de coordenação), as primeiras a sentirem as consequências são as articulações. Especificamente as cartilagens.

Nossas articulações, popularmente conhecidas como “juntas”, são nada mais do que as junções entre os ossos. Estas junções são como casulos, que com um aglomerado de fibras (ligamentos) sobrepostas, prendem um osso ao outro. Dentro destes “casulos”, existe um líquido lubrificante, que protege a famosa cartilagem, a parte do osso que entra em contato com o outro osso. A cartilagem é como um conjunto de esponjas molhadas dentro de saquinhos plásticos (células). Quando são apertadas, perdem a água, mas como a água fica presa no saquinho, a esponja reabsorve-a, a medida que deixamos de apertar. Quando a cartilagem é lesionada, é como se tivéssemos apertado tão forte estes saquinhos, que estouram, perdendo o líquido e consequentemente a capacidade de recomposição. Quando muitas destas células são lesionadas, forma-se uma cicatriz, que é menos mole e menos lisa que o normal. Isto gera um aumento do atrito entre os ossos, desgastando ainda mais o local, gerando rangidos e futuramente dores!

A preocupação com relação a cartilagem, é que uma vez lesionada, ela não se regenera! Por este motivo, é fundamental o trabalho preventivo, evitando que a cartilagem seja sobrecarregada. Para isso, dois fatores são importantíssimos:

– Alinhamento: este termo refere-se ao alinhamento entre os ossos do corpo. Quanto mais alinhados, melhor é a distribuição da força feita sobre a superfície da articulação. E a melhor forma de corrigir isso são trabalhos posturais, o uso de palmilhas corretivas (a partir da avaliação da pisada), a correção dos gestos esportivos (no caso de corredores, correção de padrões de movimento potencialmente lesivos ao corpo), os treinos de corrida em frente ao espelho, entre outros.

– Treino muscular: não basta ganhar força e massa muscular, deve-se ensinar o músculo a contrair do jeito certo. Um exemplo é quando aterrissamos após um salto. Os músculos da coxa, quadril e coluna, vão contraindo aos poucos, de forma que nosso corpo vá se comprimindo em direção ao chão, até parar por completo. Se não houvesse este controle, ou seja, se contraíssemos de uma vez só com toda a nossa força, nosso corpo permaneceria esticado ao cair no solo, sentindo o “tranco” no corpo todo, inclusive na cabeça, além de correr o risco de fraturar algum osso pelo impacto seco.

Por fim, é válido lembrar que cada tipo físico tem um padrão particular de proteger as articulações. Mas mesmo com estas diferenças, alguns aspectos são iguais: controle o peso, mantenha-se hidratado, mantenha ingesta de sais minerais, vitaminas e nutrientes adequada e acima de tudo: treine muito. Afinal, só o treino te faz conhecer o próprio corpo, seus limites e mecanismos de proteção!