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A (falta da) cultura do incentivo na corrida

Atualizado em 07 de agosto de 2018
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Uma das grandes atrações das maratonas internacionais, além da boa organização direcionada aos corredores, é o fato de ao longo do percurso haver presença maciça da torcida.

Nova York é o exemplo mais clássico com seus mais de 2 milhões de espectadores postados entre a saída do complexo viário da Verazzano Narrows, no início da prova, até a linha de chegada no Central Park.

Esses torcedores incentivam os atletas do primeiro ao último colocado, com gritos motivacionais que elevam a força mental, formando estações de hidratação e guloseimas, dando seus high fives. Enfim, participam ativamente do evento.

No Brasil com exceção de pouquíssimas competições, só vemos torcida nos metros finais. Isso se deve à falta de cultura running em nossa cultura social e esportiva.

No exterior, os torcedores podem ou não ter amigos ou parentes na prova, mas estão lá faça sol ou chuva, calor ou frio. Não pensem que só pessoas até meia idade se prestam a levantar cedo em quaisquer condições climáticas para ficar por horas em pé dando aquela força.

Ao correr a Maratona de Atenas, na Grécia, me impressionei com o número de pessoas na faixa dos 70, 80 e até 90 anos juntos aos netos e bisnetos gritando “bravo” e com um ramo de louro nas mãos para tocar naqueles que passavam. É a cultura-raiz da terra de Fidípedes.

No Brasil, podemos começar um trabalho de formiguinha dentro de casa, ao levar nossos filhos para assistir às corridas. Quem sabe até dando recursos simples como uma “mãozinha” de cartolina para fazer a criança se sentir parte do evento e com isso aflorar nela o desejo de na próxima corrida querer estar presente para torcer.

 

 

As organizadoras por sua vez poderiam fornecer algum tipo de material motivacional como infláveis que imitam palmas, apitos. Enfim, um kit torcida que não seja encarado como oneração das inscrições, mas, sim, um investimento na prova em si.

Mas o paradigma maior é que grande parte da comunidade de corredores que reclamam que não há torcida na corrida, jamais apareceu para torcer em uma única prova.

Assim, não podemos cobrar do cidadão comum sair de casa cedo da manhã para ir torcer pelas ruas brasileiras, se nem mesmo nós, corredores, fazemos assim. Há várias formas de torcer. Pode ser na arena da prova, em pontos estratégicos do percurso, ou na porta ou perto de casa.

Assim, corredores solitários e grupos de amigos corredores que ficarem de fora de alguma competição podem se organizar e ir prestigiar os eventos . O torcedor-corredor obviamente quer viver sua vida familiar e particular fora da corrida.

Obviamente, ninguém é obrigado a ir torcer todo domingo (há quem queira). Mas se criássemos, digamos, uma cultura própria, de ir assistir a uma corrida por mês, já estaríamos contribuindo para aquilo que cobramos.

Porém há de se convir que a cobrança em si é ruim. Mas o resultado da cobrança é ótimo.

“Go Corredor!”