A dificuldade e as delícias de voltar a correr

Atualizado em 20 de setembro de 2016

Por Rodolfo Lucena

Olha, meu amigo, minha amiga, há dias em que eu realmente fico feliz por ter a oportunidade de escrever sobre esporte em geral e corrida em particular. Não me entenda mal: eu sempre gosto de escrever imaginando que de alguma forma contribuo para que meus leitores abracem uma vida mais saudável; ou, pelo menos, se entretenham e divirtam por alguns minutos. De vez em quando, tenho certeza disso – é quando a satisfação toma conta de mim. Pois foi o que aconteceu recentemente.

A primeira etapa da história foi a seguinte: uma colega jornalista que se considerava muito acima do peso desejado fez uma operação bariátrica para reduzir o estômago. Com a cirurgia, mudanças de hábitos alimentares e exercícios, perdeu 40 quilos e iniciou uma vida de corredora. Achei um caso muito legal e publiquei em meu blog, em 2012, o depoimento da Fernanda Angelo. Por circunstâncias da vida, a carreira atlética dela não prosperou. Não voltou ao peso antigo, mas também não seguiu correndo.

Agorinha há pouco, uns 15 ou 20 dias atrás, Fernanda se deu de cara com aquele antigo texto publicado em meu blog. São essas coisas que acontecem na era das redes sociais: como se por milagre, algo antigo vira novo de novo.

Hoje com 37 anos, duas filhas e 76 quilos, Fernanda se entusiasmou. Resolveu começar de novo. Todos nós podemos, a qualquer momento de nossas vidas, começar de novo – ou abandonar algo de que não estejamos gostando.

A jornada dela ganha nova luz. Para saudar o reencontro dela com a corrida, pedi que contasse sua trajetória, revista e atualizada. Instrutivo e saboroso, o texto dela toma esta página a partir do próximo parágrafo. Muito obrigado, Fernanda, parabéns e vamo que vamo!!!

“Há exatos quatro anos, depois de emagrecer 40 kg, eu descobria na corrida uma motivação para seguir saudável. Venci a preguiça matinal, viciei, escrevi sobre isso e – acho eu – consegui trazer alguns amigos pro “lado negro da força”. Naquele ano, corria praticamente todos os dias, pelo menos 5 km, e cheguei a participar de uma prova de 8 km. Corri até o dia em que tive um sangramento – e, qual não foi minha (maravilhosa) surpresa, descobri que a segunda filha estava a caminho.

Por ordens médicas expressas parei qualquer atividade de impacto, incluindo, claro, a corrida. A gravidez evoluiu super bem, a caçula nasceu e, quase três anos depois, eu ainda não tinha voltado a correr.

Há 15 dias, porém, o Facebook, com esse recurso de trazer à tela nossas lembranças, me recordou do desafio enfrentado lá em 2012. E aquele texto, que há quatro anos motivou amigos e leitores do blog do Lucena, serviu curiosamente de gatilho pra que eu me animasse a voltar pras ruas.

Como um viciado, que consegue se abster de um hábito, mas que também volta a ele na primeira oferta que lhe é feita, estou de regresso. Depois de reler minha própria história e de ser desafiada por algumas amigas (Pri Fiorin, você, de novo, tem papel importante nessa parada) a retomar as provas, eis que voltei pra corrida – e para esta coluna, pra contar como foi.

A volta não foi tão difícil quanto o começo, lá atrás. Não pelo fato de já ter um dia corrido, mas especialmente porque no último ano e meio, já com as duas filhas na escola, eu, com o marido (apoiador incondicional), começamos a nos exercitar diariamente com uma personal trainer que aplica treinos de circuito funcional misturados com musculação. Também nesse período fiz pilates e me meti com Jiu-Jitstu. Neste último, num treino, quebrei o pulso – nem assim parei com os exercícios funcionais), embora não tenha ainda criado coragem pra retornar aos tatames.

“Isso tudo me ajudou a eliminar os 16 kg ganhos durante a gravidez e foi fundamental pra não perder 100% do fôlego.

Isso tudo dito, vamos ao que interessa. Voltei devagarzinho pra não me machucar. Foi difícil. Deu preguiça, cansou, doeu, o psicológico, aquele que faz a canseira atacar exatamente quando o relógio marca 3K, pegou. No primeiro dia, 20 minutos de esteira, intercalando 1 minuto de corrida e 30 segundos de caminhada rápida. No segundo, fui pra rua: 2 km correndo, 0,5 km andando, mais 1 km correndo, 0,5 km andando e 1 km correndo. Foram 5 km em 45min54s e a nítida sensação de que cairia dura a qualquer tempo. Não caí!

Descansei um dia e, no outro, 3 km correndo ininterruptamente. Yes!!! Tô no caminho. E o pouco mais de um ano de musculação e treino funcional estão fazendo toda a diferença: zero dor, zero desconforto (Valeu, Dani Kempner!!!).

As amigas já desafiaram para a primeira prova de rua nesse retorno à corrida. Lógico que aceitei, né?! Neste domingo, dia 20/03, participo da Corrida Movimento pela Mulher. Vou de 5K e vamos ver no que dá.

Independentemente de terminar sem caminhar, em 35 minutos ou em 45 minutos, o que interessa é que estou de volta. E, o melhor de tudo: nessa de compartilhar em rede social a minha ideia de retomar as corridas, angariei novos amigos para correr junto e já tenho uma listinha de outros tantos que juram que vão começar.

No resumo da ópera, voltar é difícil pacas. Cansa, dói um pouco, o psicológico não ajuda muito. Depois passa. Ao mesmo tempo é delicioso, pela química, pelo prazer da camisa suada, das calorias queimadas, do exemplo pras filhas e pela oportunidade de se aproximar dos antigos – e fazer novos – amigos.

E você, bora levantar desse sofá e correr, vai?!!! Nos vemos pelas ruas.”

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