A banalização das técnicas de recovery

Atualizado em 11 de março de 2020
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Com um mercado ultra competitivo de produtos que prometem melhorar praticamente todos os aspectos de corredores, desde exercícios funcionais até terapias mentais, as opções de recovery formam uma das categorias mais vendidas hoje em dia.

Massageadores pneumáticos (meias e luvas que se enchem de ar), eletrochoques, crioimersão (famosa banheira de gelo), massageadores elétricos sofisticados, massagens manuais, banheiras detox e uma variedade de outros recursos estão à disposição de quem quiser pagar. Mas a questão principal é: será que as pessoas estão usando tudo isso da forma correta?

De modo geral, a maioria dessas técnicas e equipamentos promete reduzir o processo inflamatório, melhorar o fluxo sanguíneo, melhorar a absorção de toxinas, acelerar o metabolismo local, reduzir as dores, relaxar a musculatura, entre outros benefícios. Poxa, então eles são muito bem-vindos!? Talvez sim, mas desde que sejam usados na hora certa, de maneira correta.

Repare que tudo o que estas alternativas oferecem nosso corpo já faz. A diferença é que existe na jogada, uma “necessidade” de acelerar o processo natural. E quem criou esta necessidade? Você que me responda até o final deste artigo.

O desenvolvimento de técnicas para acelerar a recuperação após grandes esforços físicos começou há muito tempo, eu diria há milênios. Já existiam massagens e quiropraxia para guerreiros que voltavam de batalhas e precisavam estar preparados para novas batalhas no dia seguinte. Acupuntura, uso de ventosas, moxabustão, chás e ervas também eram frequentemente aplicados nos combatentes. E faziam efeito? Claro que sim.

Com o passar do tempo tudo foi se desenvolvendo. Criaram outras e mais outras tantas técnicas, associando tecnologia e muito estudo, para atender a demandas cada vez maiores de clubes e atletas profissionais, que muitas vezes são patrocinados. Patrocinadores querem ver o patrocinado competindo e obviamente alcançando bons resultados. Para isso, investem pesado não apenas na imagem do profissional, mas também nos seus cuidados.

Enfim, hoje em dia as técnicas de recovery estão em todo lugar. Viraram febre, pois algumas pessoas ficaram viciadas e acham que se pararem de fazer vão se machucar, ou quebrar no meio da prova, ou não vão conseguir fazer o treino longo no final de semana, ou não atingirão a meta do volume semanal. Sinceramente, se você está assim, é porque não está usando adequadamente.

O recovery ajuda muito a aliviar os sintomas após uma prova ou treino mais desgastante. Dá uma sensação de bem estar imediata. Elimina boa parte do desconforto físico, reduzindo inclusive um estresse mental, mas não vai fazer o músculo precisar de menos tempo para se recuperar.

Isso porque ainda não falamos do coração, que após um treino ou prova mais forte, cansa. E este, caros(as) leitores e leitoras, precisa descansar e nenhum recovery vai acelerar esse processo.

Técnicas que prometem acelerar a recuperação atuam apenas em pontos específicos do nosso corpo, principalmente músculos. Após uma atividade desgastante você precisa descansar o corpo todo. Recuperar todos os mecanismos que foram sobrecarregados para levar energia constantemente aos músculos, lubrificar as articulações, equilibrar a quantidade de sais em cada célula, absorver oxigênio e liberar gás carbônico, filtrar impurezas e manter tudo em harmonia, na medida do possível. Portanto, não é uma bota, uma piscina, uma massagem que vai acelerar tudo isso.

Quer ajudar muito na recuperação? Seja impecável na alimentação, capriche no sono e fuja do estresse, logo após aquela prova ou treino pesado. A maioria faz isso? Não sei. Mas tenho certeza que muitos preferem fazer o contrário, sabendo que no dia seguinte estão lá, contando com o recovery artificial.

Pense nisso e tire suas próprias conclusões.