6h de MTB: fechando o ano com uma vitória especial

Atualizado em 01 de julho de 2016

Para quem não conhece, o MTB “X” horas é uma prova na qual a equipe ou atleta que der o maior número de voltas na pista, dentro dessas horas – seguindo todas as regras do regulamento – ganha.

Esse tipo de evento costuma ter várias categorias. As básicas são:

–          Solo – “Suicida Master” – admiro muito quem tem ganas de enfrentar uma prova dessas nessa categoria (e ficar dando voltas no mesmo circuito por mais de 6 horas);

–          Dupla – “Suicida” – você está a todo momento sozinho, já que quando não está pedalando, sua companhia está na pista e você precisa se preparar para a próxima troca;

–          Quarteto – “Semissuicida” – é dinâmico e dá tempo de conversar com todos, trocar experiências e se divertir mais – o contraponto é que cada entrada na pista é um “tiro pra morte” já que depois terá tempo de se recuperar;

–          A dupla e o quarteto podem ser masculinos, femininos ou mistos e tem solo feminino e masculino.

Entre as regras, além das óbvias – como não ser permitido cortar caminho – tem várias outras que dão o tom da brincadeira. Por exemplo:

–          Se ocorrer algum problema mecânico e estiver na primeira metade da volta, “boa sorte amigo”, a regra é andar apenas em um sentido, não pode voltar pra trás em hipótese alguma ou sair do percurso (fora da zona específica para apoio);

–          O atleta/equipe só pode receber apoio fora da pista, no local determinado;

–          Não é permitido luta livre (Ráaaa, pegadinha pra ver se vocês estão lendo tudo);

–          O revezamento de atletas das equipes, obrigatoriamente, acontece dentro de uma área de transição, onde há fiscalização;

–          As equipes mistas devem intercalar o revezamento entre homens e mulheres.

Minha primeira prova dessa modalidade foi no sábado passado, em São José dos Campos (SP), o 5º 6h de MTB VINAC.

Fui convidada para integrar o quarteto GP Ravelli, e ninguém menos do que o próprio mestre Marcio Ravelli, deca campeão Brasileiro de Mountain Bike (para resumir seu currículo), seria um dos meus parceiros.

Minha amiga, especialista em MTB e organizadora do GP Ravelli, Vanessa Cabral e o Rafinha de Almeida (pupilo do Ravelli) completaram esse time sensacional.

Resumindo, foi uma oportunidade maravilhosa de estar ao lado de pessoas incríveis e uma baita “responsa” por ser considerada boa o suficiente para estar entre eles.

Mas não é só isso que me empolgava. Recapitulando meus passos para chegar onde cheguei na bike, quem me ajudou a começar e dar as primeiras pedaladas nesse sentido, foi esse casal muito querido Vanessa e Ravelli.  Eles me acolheram logo que eu comecei a pedalar em 2011, e tinham toda paciência do mundo comigo. Só para mencionar alguns fatos:

#1- uma das primeiras vezes que fui pedalar com eles, em Itu (SP), eu ainda não sabia montar a bike direito, e só durante o pedal que o Ravelli viu que minha blocagem dianteira estava solta e colocada errada (a roda estava solta!) – e ele não me julgou, nem me fez sentir mal;

#2- eu ficava pra trás, atrasava a turma, caia nos areões, nas trilhas e nas pausas porque não “desclipava” o pé certo (ou, simplesmente, esquecia de “desclipar“ qualquer pé), e ninguém me julgou ou fez me sentir mal por isso (ao contrário, sempre me incentivaram a melhorar);

#3- um dia fui treinar com eles e acabei indo de firma-pé (aquele pedal com “gradinha” em volta) – só que aí eu não conseguia pedalar na trilha e como eu ia muito devagar, perdi as pessoas da minha frente de vista – isso fez com que eu e quem estivesse atrás de mim errássemos o caminho. Resumindo: ficamos perdidos e deixamos um punhado de gente preocupada!

Então… por isso que sinto tanta gratidão e carinho por eles. Sempre me incentivaram, mesmo quando demonstrei não ter talento nenhum pro pedal. Eles fazem parte desse processo que me trouxe até aqui (e com certeza do de muitas outras pessoas também).

Dado esse histórico, tive que segurar a emoção na largada da prova, quando por um segundo me olhei de fora e lembrei dessa história e trajetória. Apesar de ter sido puro mérito do meu esforço e dedicação, parece mágico.

Voltando ao assunto competição, o 6hs de MTB em SJC tinha como regra que a largada para as equipes mistas tinham que ser feitas por uma mulher e que seria no estilo Le Mans (corrida até a bike), para tentar dispersar um pouco o pelotão e não afunilar nas trilhas.

A equipe decidiu que eu iria largar.

Acho que o jeito mais fiel de descrever essa largada é dizendo que foi uma sessão de “tortura pré-suicídio” (rsrs). Foram, aproximadamente, 2 km até a bike, só que correr de sapatilha com solado de carbono não é exatamente correr, é dar pulos e tentar passar uma perna na frente da outra! E, depois, subir na bike para dar tudo de si num calor de 40 graus, Ave Maria! Dores na panturrilha me fizeram lembrar disso durante toda a semana.

Ironia a parte, logo na largada, senti uma coisa que nunca senti antes: uma motivação especial, uma “decisão” de puxar além do limite conhecido, me sair bem. O famoso “mostrar porque vim”. Quem compete sabe que não é todo dia que estamos com esse tipo de sentimento tão presente.

Não tinha pressão da equipe – claro que todos queriam ganhar, mas não tinha um que queria mais que o outro, não tinha peso. Estávamos juntos, na mesma página, na mesma batalha. Esse sentimento é incrível, e acho que era essa a motivação especial.

As vozes de cada um deles me incentivando “Vai Vivi!!!!”. Caramba, é isso mesmo, o Ravelli está torcendo por mim?? Claro, ele é do meu time!! Uaaaaaau!!!!!!

E sempre que possível eu puxava uma marcha mais pesada, dava uma pedalada a mais na descida, freava menos na curva… “Estou dando o meu melhor?” foi meu mantra durante cada uma das três voltas que eu dei.

Seguindo a regra da corrida, revezamos mulheres e homens. Eles, claro, deram mais voltas do que nós. E a disputa acirrada com a equipe adversária fez com que tivéssemos que defender nossa colocação a cada segundo.  Eu e a Van demos uma volta por vez para que pudéssemos dar tudo o que tínhamos, um sprint maluco de 26-29 minutos.

A sensação de chegar na área de transição e passar o “bastão” (no caso pulseira) para o colega de equipe com a sensação de missão cumprida (precisando de uma pausa para recuperar o fôlego e tal), ahhh, simplesmente não tem preço.

No final, a liderança que adquirimos na primeira volta foi crescendo ao longo das 6hs e vencemos na categoria quarteto misto. Uma vitória muito comemorada e especial, para ser lembrada para sempre.

Essa prova representou pra mim a mágica da vida, que os sonhos se realizam quando investimos neles, e que o trabalho em equipe – quando há equilíbrio e objetivo em comum – é extremamente recompensador.

Obrigada a todos que torceram por mim e gritaram meu nome – principalmente, na disputa de Dança das Cadeiras (rsrsrs) e um agradecimento especial ao Leo e Vânia, pais da Van, que nos receberam em sua casa, cuidaram da nossa fome e acompanharam como membros da nossa equipe essas 6hs.

Estou fechando o ano com chave de ouro.

Gratidão ao mestre lá de cima.

podio-vivi

Foto: Arquivo Pessoal