Variação de terreno é boa pedida para corredor

Atualizado em 20 de setembro de 2016
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Treinar é uma rotina. Mas isso não significa que você tenha que se comportar como aquela personagem da música de Chico Buarque intitulada “Cotidiano”, cuja mesmice é descrita de forma triste: “todo dia ela faz tudo sempre igual”.

Há muitos anos orientando corredores de alto rendimento ligados ao São Paulo Futebol Clube, bem como os associados, o professor de educação física José Luiz Marques explica que os pés dos atletas, amadores ou não, “memorizam” o terreno.

Inconscientemente, ao percorrer sempre a mesma superfície, o corredor aborda o chão invariavelmente com a mesma pisada, criando o que a literatura técnica denomina “estereótipo”. “A hora em que esse corredor mudar o terreno (para correr uma prova, por exemplo), corre o risco de se lesionar, por estar ‘viciado’ num tipo de pisada”, adverte o profissional.

 

 

Despertar o corpo para variações é, portanto, altamente recomendável. Os pisos mais macios (grama, areia) vão exigir maior força. A reação à força aplicada contra o solo é dispersa em superfícies menos compactadas. O asfalto “devolve” a energia (o impulso) empregada contra o chão. Porém, as articulações recebem um castigo.

Para reduzir o volume de quilometragem que agride o corpo nesse nível, a pedida é correr na grama sempre que possível. Procurar parques que tenham trilhas de terra e aproveitar eventuais escapadas para zonas rurais a fim de realizar parte dos treinos é altamente indicado.

Outra solução: a expansão de malhas cicloviárias em corredores de grandes avenidas tem servido a atletas que correm a pé também. Convém utilizar a faixa de grama ou terra que normalmente se estende ao lado, sempre prestando atenção para evitar buracos que possam acarretar torções. Boa parte das ciclovias construídas em corredores de grande tráfego se assenta sobre concreto, o mais agressivo e indesejável tipo de chão para um atleta. Sempre que possível, fuja dele!

Os quenianos, sabiamente, costumam correr nas montanhas, em trilhas de terra batida. Aqueles que vêm ao Brasil, para correr provas do calendário nacional, normalmente se agrupam sob o comando do treinador Moacir Marconi, o Coquinho, e treinam em terra batida no interior do Paraná.

 

Areia
A areia é boa para fortalecer a musculatura, segundo Marques. Se for mais fofa, é mais indicada para exercícios educativos. “Não recomendo que se faça um treino de 15 km em areia fofa. Vai castigar quadril, coluna, tudo”, diz o antigo auxiliar de Carlão Ventura, o treinador que construiu fama na década de 80 ao orientar José João da Silva, campeão da São Silvestre em 1980 e 1985, entre outros atletas de renome.

Correr na praia é interessante. Marques recomenda que se procure aquela faixa de areia mais dura, molhada pela água do mar, e que se tome cuidado com a inclinação do terreno. “Se o corpo ficar desalinhado, as articulações sofrerão sobrecarga”, diz o professor, que encerra sua sessão de orientações empregando novamente o conceito de “estereótipo”.

“O mesmo princípio se aplica aos tênis. Convém revezar ao menos dois pares. Caso o corredor utilize apenas um o tempo todo, seus pés vão se amoldar de tal maneira à forma do calçado que, quando esse par for substituído, a pisada diferente poderá dar origem a uma lesão. Muitas vezes não sabemos de onde vem uma lesão. Utilizar sempre o mesmo par pode acarretar esse problema”, avisa.