Questão de desequilíbrio?

Atualizado em 19 de dezembro de 2017
Mais em Treinamento

++ LEIA MAIS
>> O SEU PSICOLÓGICO TE DERRUBA?
>> O PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO DAS CORRIDAS DE RUA

Basta um atleta falhar em determinada prova para alguém disparar na imprensa: “Ele não estava preparado psicologicamente!” Quantas vezes você não ouviu (ou leu) isso? Ou então: “Ah, ele falhou em sua performance por falta de preparo psicológico”. Naturalmente, a pessoa mais indicada para falar sobre isso é um psicólogo do esporte. Mas peço licença para meter a minha colher no meio, como treinador e atleta, com base em minhas diversas experiências relativas a esta importante parte da preparação, com vistas à melhor performance. 

Vários fatores levam um atleta a apresentar um bom desempenho em uma competição, entre eles destaco três pilares: o treinamento (ou preparação física propriamente dita), a nutrição e a preparação psicológica. Juntas, elas atuam na autoconfiança e garantem o equilíbrio emocional, fundamental para se enfrentar desafios. Se existe falta, ou negligência, de algum desses pilares, com toda certeza o melhor objetivo dificilmente será atingido.

Todo atleta tem como objetivo máximo disputar uma Olimpíada, o evento supremo do esporte mundial. Como os Jogos acontecem somente de quatro em quatro anos, cada atleta procura se preparar para chegar lá em sua melhor forma. Assim sendo, todo o planejamento deve ser minuciosamente organizado para que ele atinja o seu ápice no momento olímpico. Para isso, é primordial que a equipe multidisciplinar que o cerca se comunique e troque informações entre si.

A esse respeito, ouvi um comentário interessante do nadador Thiago Pereira, medalhista nas olimpíadas de Londres em 2012. Ele disse o seguinte: “Até este ano, eu era um nadador, isto é, só treinava natação. Agora me sinto um atleta de natação, pois tenho nutricionista e apoio psicológico profissional, que unidos ao treinamento melhoraram minha performance, fruto do preparo ideal de um atleta”.

Grande parte dos atletas brasileiros não tem essa preparação multidisciplinar, ficando à mercê de um bom dia e de um punhado de sorte para atingir sua melhor performance. O atleta pode até contar com a sorte em determinado momento, mas nunca depender dela. Para atingir seu máximo, ele tem é de estar 100% preparado, emocionalmente inclusive. Se fizermos um levantamento dos medalhistas olímpicos em Londres, veremos que a grande maioria é de atletas ou equipes que acabaram de ser campeões mundiais, ou que fizeram suas melhores marcas recentemente.

No caso do esporte brasileiro, essa situação se inverte: tivemos algumas gratas surpresas em modalidades nas quais não temos tradição olímpica, e frustrações em modalidades tidas como favoritas. Por que será que isso aconteceu? Foi falha na preparação específica? Ou o que faltou foi apoio psicológico? Essas são questões importantes de se discutir agora, para que sejam feitos os ajustes necessários para os próximos Jogos Olímpicos, que serão disputados aqui.

Reportagem publicada na edição 113, de setembro de 2012, da Revista O2.