São necessários poucos instantes na sala do empresário Rodrigo Rivellino, proprietário da agência de publicidade Aktuellmix, situada na zona oeste paulistana, para perceber que ali trabalha um aficionado por corrida. São 11 quadros com números de peito de provas de corrida de rua que indicam a forte ligação de Rivellino com a modalidade. Aos 43 anos, ele estabeleceu como projeto pessoal a participação nas seis majors, como são chamadas as principais maratonas do mundo: Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York.

“Picado” pelo “mosquitinho da corrida” aos 36 anos, ele já disputou duas delas — Berlim e Nova York — e, quando conversou com a O2, em agosto, se preparava para ir a Chicago em outubro. O esporte, no entanto, está no DNA de Rodrigo desde o berço. Filho de Roberto Rivellino, meia-esquerda com passagens por Corinthians, Fluminense e seleção brasileira, ele tentou seguir os passos do pai antes de se dedicar à publicidade.

Um desapontamento nas categorias de base do São Paulo — vestiu a camisa de um rival do clube em que o pai fez história por influência de Zé Sérgio, primo de Rivellino e ex-jogador do Tricolor — abreviou sua trajetória no mundo da bola e o levou ao mercado de trabalho aos 18 anos. “Mergulhado na publicidade”, anos depois viu na corrida uma forma de driblar os problemas de agenda e a falta de atividade física. “Correr era a minha última opção de esporte. O preparador físico do São Paulo até dizia: ‘Fazer treino de corrida, definitivamente, não é com você’. E não era mesmo”, reconhece.

Foi questão de tempo para que isso mudasse. Atraído pelo fato de a corrida ser um esporte “que não tem hora nem lugar”, começou rodando de 2 a 3 km e, pouco a pouco, foi ganhando resistência. A conclusão da primeira prova de 10 km foi comemorada como uma grande conquista. Quando percebeu, a corrida já havia se transformado em um estilo de vida. “A corrida, para mim, é sinônimo de saúde, motivação e energia”, resume.

“Eu aprendo muito na corrida. É um esporte que me dá muitos prazeres e me faz conhecer lugares que eu jamais imaginaria. Nas minhas últimas férias, saí para correr com a minha mulher em Nova York e descobri um lado da cidade que eu não conheceria se não fosse pela corrida. Corri toda a costa do rio Hudson. Também corri assim em Lisboa e na Dinamarca. Enquanto corro, vejo códigos da cultura local que, de carro ou de táxi, não enxergaria. Isso é maravilhoso.”

Sem “neura” com o relógio

Rodrigo Rivellino busca não levar a competitividade pesada com a qual lida diariamente no mercado publicitário para a corrida. Os treinos no Parque Villa-Lobos e as provas ajudam a oxigenar as ideias e não são encarados como situações de pressão. “Sempre busquei mais me superar do que olhar para o relógio. A corrida é 100% para mim. Se já existem tantos deveres ao nosso redor, por que algo com o qual estou tentando espairecer deve envolver uma nova obrigação? Se for mais uma obrigação, estou me castigando. Procuro me desligar ao máximo.”

O empresário observa que o código de conduta dos corredores competitivos se baseia em uma pergunta: “Qual é o seu pace?”. Para ele, é essa obsessão por tempos cada vez menores e desempenhos cada vez melhores que faz com que muitos atletas tornem-se monotemáticos — ou seja, pessoas que só falam sobre corrida e estruturam as próprias vidas a partir do esporte, abrindo mão de confraternizações com os amigos e tropeçando em assuntos que não são os últimos lançamentos de tênis ou o gel de carboidrato mais vendido no momento.

Apesar da aparente despreocupação, Rodrigo Rivellino faz de tudo para ter vida longa no esporte. Corre quatro vezes por semana e recorre a duas sessões semanais de fortalecimento muscular. “Meu objetivo é terminar minhas provas com saúde, fazer minhas maratonas sem sofrimento. Quero que a corrida se perpetue como um esporte até o final da minha vida”, diz.