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Subidas intensas, percurso “trash” e inscrição de R$ 1.000 na Muralha da China

Atualizado em 02 de junho de 2017
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Por Mariana Peternelli

O despertador toca às 2:30 da manhã. Confiro a temperatura lá fora e o índice de poluição. Na semana anterior, havia recebido do governo chinês um alerta de onda de calor e outro de poluição alta e índices elevados de ozônio. 22 graus. A poluição é de 150AQI 2.5, “ok” para os padrões pequineses, mas três vezes maior a média paulistana.

Incluo minha máscara protetora de poluição na bolsa e vou para o local marcado, de onde sairão os ônibus de Pequim rumo à Muralha da China. O ônibus parte pontualmente às 3:30 da manhã. Seriam de duas a duas horas e meia de viagem. Tento tirar um cochilo, mas não é fácil. Desconforto do assento, curiosidade com o caminho e a boa e velha ansiedade para chegar.

No local escolhido pela organização da Maratona da Muralha da China, uma banda nos espera e camelôs vendem souvenirs chineses. Depois de entregar o ingresso e entrar no local propriamente dito, me deparo com mais chineses vendendo água, sucos, Nescafé (eu queria um café de verdade…), cerveja e champanhe. Após mais de uma hora aguardando, largo na “wave 4” por volta de 8:00 da manhã.

Os primeiros 5 km são de subida até chegarmos aos pés da Grande Muralha da China. A escadaria marca essa chegada e todos começam a caminhar pra subir degrau por degrau.

São quase 3 km “correndo” na Muralha da China. O trajeto é cheio de escadas, com degraus muito irregulares – alguns muito grandes, outros muito pequenos, alguns largos, outros estreitos – dando passagem apenas a uma pessoa por vez, e outras mais amplas, com subidas e descidas. Era praticamente impossível correr, até pelo volume de pessoas.

Durante esse trajeto, vejo diversos paramédicos e postos com água. Ao chegar no oitavo quilometro, você já está novamente no local da largada. Quem estava participando da “fun run” concluiu aqui. Os da meia e da maratona rumam para, na minha opinião, a parte mais “trash”. Eu estava nos 21 km…

 

 

A partir do nono quilômetro, a estrada é de asfalto e o termômetro marca 33 graus. Asfalto puro, nenhuma sombra, nenhum sinal de árvore. Temos que cruzar a rodovia sem nenhuma sinalização, além de alguns cones, carros, ônibus e caminhões vindo nas duas direções. É olhar pros dois lados e cruzar!

Passamos por um posto de água, banana e Gatorade (um dos patrocinadores) aguado. Do décimo segundo quilômetro em diante é um descampado de terra batida e pedregulhos. Então entramos num vilarejo chinês. Achava que encontraria casas típicas chinesas. Mas eram casas simples de alvenaria, como muitas no Brasil.

Havia muita gente na porta dando apoio. Algumas meninas vestidas de princesa e com flores na mão (não para nos dar, apenas para que elas fiquem mais bonitas) ecoam o coro “zhaiou”, frase em chinês de incentivo que quer dizer “vamos lá!”.

No km 16 é o mesmo caminho de volta. A mesma rodovia e o sol ainda escaldante. Nos 3 km finais, apesar do sol, do calor, de cruzar rodovia e de a maioria dos demais participantes estarem caminhando, com incentivo de uma amiga que me acompanhava, corro até o final.

Vejo a linha de chegada. Ouço meu nome e meu país sendo anunciados pelo auto-falante. Cheguei! Foram 3h44min01s correndo a meia-maratona, subindo e descendo escadas, caminhando e correndo. Sabia que a o prova seria dura, mas foi muito mais dura do que pensava.

Detalhe: são quatro versões da Maratona da Muralha. Na que participei, é preciso comprar um pacote. Paguei só a inscrição porque vivo em Pequim. De qualquer forma, o valor do kit com o transporte é salgado: quase R$ 1.000.