Majors, um sonho conquistado

Atualizado em 26 de abril de 2016

Nova York, Chicago, Boston, Berlim, Londres e Tóquio… Na sua wish list estão as Majors? Foi exatamente isso que Eduardo Yassuda, engenheiro e corredor paulista de 51 anos, conquistou. Recentemente ele conseguiu concluir a World Major Marathons. Com vocês, a incrível história desse devorador de quilômetros.

A minha primeira maratona, em 1998, já foi uma delas [das Majors realizadas em Nova York, Chicago, Boston, Berlim, Londres e Tóquio], a Maratona de Nova York. Naquele tempo nem chip de cronometragem existia. Aliás, a prova que eu participei, até onde eu sei, foi a última maratona em Nova York sem o tal chip. No final da prova, a gente destacava um canhoto do número do peito e pendurava num gancho para que nosso tempo fosse calculado. O tempo oficial saiu umas duas semanas depois disso. Parece bizarro nos dias de hoje, que já tem muito mais tecnologia. Mas foi exatamente assim que eu comecei nas maratonas.

Em 2006, depois de ter corrido mais duas vezes em Nova York, além de ter dado as minhas passadas em Paris e Chicago, li que os corredores profissionais estavam iniciando uma espécie de campeonato mundial, o World Marathon Majors, e decidi que iria treinar para fazer as cinco provas: Nova York, Chicago, Boston, Berlim e Londres (Tóquio ainda não havia entrado na seleção das Majors). O grande desafio seria me qualificar para Boston, pois na minha faixa etária o tempo de corte estava em 3h30min.

Desafio lançado, ainda restava combinar com a Monica (minha esposa) o planejamento logístico. Como eu viajo muito a trabalho, temos um trato que ela escolhe o lugar para onde vamos viajar com as milhas. É a nossa lua de mel anual, enquanto deixamos nossos filhos com os avós. Assim, em 2006 veio Chicago, em 2007 Nova York (novamente), e em 2008 Berlim, onde finalmente consegui meu tempo para Boston. No final da prova, aliás, dei um sprint para chegar ao Portão de Brandenburgo, já que estava controlando o meu tempo para alcançar a barreira final. Tentei fazer bonito, mas mal sabia eu que, ao chega ao portão, ainda tem mais uns 200 metros até a linha de chegada. Mas o esforço valeu a pena, pois foi assim que eu consegui me qualificar para Boston. Mal cheguei de volta ao hotel e já estava lá me registrando para a prova que seria dentro de sete meses (abril de 2009).

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Correr em Boston foi realmente a glória para mim. Além de me sentir um privilegiado, a maratona é supermágica, com 42 km que contam com pessoas gritando e incentivando os corredores o tempo todo. Mas o ponto alto, sem dúvida, é a passagem pelo Wellesley College, quando as mulheres fazem fila para dar beijos nos corredores (tradição de mais de cem anos, quando só homens podiam correr as maratonas e o Wellesley era uma escola só feminina).

Em 2010, obedecendo a programação familiar, tive que interromper o ciclo das Majors para correr a Maratona da Disney, pois decidimos passar o Réveillon com nossos filhos em Orlando. Acabou sendo melhor do que o planejado, pois correr a maratona de Londres, em 2011, foi ainda melhor. Foi no mesmo mês de abril de 2011 que Londres celebrou o casamento do Príncipe William e de Kate. Por isso, a cidade estava impecável. Ao final da prova, veio a sensação de missão cumprida: 5 World Major Marathons concluídas. Será que me aposento? Será que começo tudo de novo?

No segundo semestre de 2011, no entanto, enquanto eu jogando bola (detalhe, eu não jogo bola) com o pessoal do escritório, um colega de 110 kg caiu em cima de mim e eu tive ruptura completa dos três ligamentos do tornozelo, com direito a cirurgia para remover algumas lascas de osso. Em resumo: passei três meses de molho e seis meses me recuperando e ouvindo o ortopedista dizer que eu deveria me dedicar ao sudoko, já que, para mim, maratonas não seriam mais possíveis. Mas, como todo bom corredor, mudei de medico e achei um que me disse: “Se você parar de correr, vai ficar um homem tão chato, que sua mulher vai te abandonar. Então vamos lá.”

Em 2012, 2013 e 2014 mudei o foco. Corri com amigos as maratonas de revezamento de 200 milhas (Hood to Coast – Oregon e Race to the Beach – New Hampshire). No entanto, em 2013 introduziram a Maratona de Tóquio a, agora, 6 Major Marathons. Aquilo me mordeu e decidi: “Tenho que voltar da aposentadoria para correr esta também.”

Comecei os preparativos [para Tóquio] em 2014 (o que também incluiu no projeto acumular muitas milhas para viabilizar a viagem com a Monica). Decidimos ir 10 dias antes da prova para que eu pudesse me aclimatar à diferença de fuso, o que foi excelente, pois as 13 horas de diferença são, realmente, muito difíceis. E essa prova foi diferente porque, nas 12 maratonas que corri na vida, sempre ouvi falar do “the wall” ou “do macaco que pula nas suas costas ao redor do quilômetro 30”. Nunca tinha sentido nada parecido. Até Tóquio.

Durante a prova, quando parei para beber água no quilômetro 32, minhas pernas se recusaram a prosseguir. Não era câimbra, mas elas simplesmente congelaram e não consegui dar um passo. O que fazer? Passou um filme na minha cabeça com os inúmeros treinos e o sofrimento para fazer os longões em pleno verão brasileiro. Fiz uma negociação entre mente e corpo, o que me levou ao fim da prova. Consegui dar os primeiros passos de forma robótica. Inclui um trote logo após isso e encaixei um ritmo de 6 min/km até o final. Na cabeça, repetia a frase que li numa camiseta em uma das minhas participações na maratona de Nova York: “Pain is temporary, Pride is forever”.

Finalmente, missão cumprida: “6 Marathon Majors”. Até inventarem a sétima, volto feliz para a minha aposentadoria.

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