El Cruce: a conquista das montanhas de sonho

Atualizado em 26 de abril de 2016

A El Cruce é uma corrida que exige, além do físico e do mental, uma grande logística, desde inscrição, aéreo, hotel, transfer e equipamentos, que vão do tênis ideal e da mochila de hidratação, até o saco de dormir. São tantos detalhes que algo certamente não sairá perfeito.

Fiz minha inscrição para a prova solo no primeiro dia e, dois meses depois, convidei uma amiga, a Karine Parússolo, para fazer o percurso em dupla comigo, já que nós duas, juntas, já tínhamos dividimos muitos pódios. Mas, assim que iniciei os treinos específicos, — que seriam feitos por várias semanas com três dias consecutivos de treinos –, tive uma lesão no joelho e voltei aos treinos apenas duas semanas antes do El Cruce. Isso me deixou com receio e muito ansiosa para a prova. Como estava tudo pago eu tinha que ir e fazer acontecer.

Fomos retirar o kit no dia anterior ao início da corrida no Cerro Catedral e nossa barraca e o vivisac (uma espécie de saco de dormir que é item obrigatório para a prova) não estavam reservados. Depois de muito “portunhol” deu tudo certo. Aliás, esse sim foi um mega kit: camiseta, segunda pele, fleece, buff, corta vento, meia de compressão, copo, caneca, barras de cereais, balas, prato de carne, porta gel e porta retrato com foto.

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Voltamos rapidamente para o hotel, quando começou outro quebra cabeça: fazer as malas do acampamento, que deveria ser entregue na noite anterior. Nessa etapa, surgiram algumas dúvidas: itens que usaria no primeiro dia de manhã e que eu não poderia despachar para o acampamento. Tive que levar tudo comigo durante a corrida. No primeiro dia, carreguei na mochila de hidratação a escova de dente, desodorante e vaselina. Nesse dia, aliás, fizemos uma largada comemorativa, só para tirar fotos, em grupos de seis pessoas. Depois pegamos o teleférico até a largada oficial no tapete, onde o clima era de muita festa e ansiedade.

Passei por uma paisagem magnífica e subidas que não acabavam mais. Para a minha surpresa, havia dois violinistas tocando lá no alto, emocionante. Enfrentei descidas em meio a pedras, até que chegou um caminho mais tranquilo, que nos levou ao primeiro acampamento. O local parecia uma praia. Uma parte dos atletas ficou na água, outra tomando sol, com direito a aula de alongamento, cerveja, vinho, caipirinha, mojito, churrasco e muita massa. Terminamos os 25 km em 4h20min55s. Isso com um perrengue: meu tênis rasgou e uma unha caiu. Mas, com o resultado do primeiro dia, conseguimos o direito de largada no primeiro pelotão do dia seguinte, às 8h.

No segundo dia, acordei com muitas dores musculares, nas coxas, nas costas, nos braços e nas panturrilhas. Comecei a correr e achei que não terminaria aquele dia, pois minha perna estava pesada e dolorida. A mochila de hidratação parecia ter 30 kg, além de eu estar muito ofegante. Mas lá pelo quilômetro 5 fui voltando ao normal e as dores foram passando. Na primeira descida forte, por volta do quilômetro 12, me separei da minha dupla. Como achava que estava atrás, fui caminhando, trotando leve e sentei no lago para esperá-la. Faltando 9 km para o fim do percurso do segundo dia, desisti de esperar. Encontrei mais três brasileiros que se perderam de suas duplas e segui caminho. Fechei os 43 km em 6h53min37s. Ao cruzar a linha de chegada, encontrei a Karine, que já estava lá há sete minutos. Para ser sincera, até agora, não entendemos como isso aconteceu.

O segundo acampamento foi em Pampa Linda. Lá era tudo muito difícil. Ficava distante, tinha poucos banheiros, estava muito frio e sem atividades. O que fazia eu respirar aliviada era a paisagem espetacular do Cerro Tronador.

A largada do terceiro dia, às 7h, foi sob muito frio. Eu estava de calça, blusa, fleece, luvas e buff, mas estava sem dores e não me sentia cansada. Largamos forte na tentativa de não pegar trânsito no percurso. Iniciamos bem a subida e arrebentamos na descida. Boa parte do percurso foi técnico, com muita lama, troncos de árvores, pequenos lagos, pontes e trilhas… Do jeito que a gente gosta! Por volta do quilômetro 20, em uma longa trilha plana, o cansaço bateu. Tropecei em um pequeno tronco de árvore e mergulhei no chão, ralando os joelhos. Entraram espinhos na minha mão… Mas recebi ajuda de uma dupla de colombianos. Firme e forte, continuei o percurso. Encarei uma subida até cruzar a fronteira da Argentina com o Chile. Lá é preciso apresentar passaporte para continuar. Carimbo recebido, fui até o barco.

Por sorte, fomos a última dupla a entrar. Depois de cerca de 20 minutos com o corpo frio, desembarcamos para continuar os últimos três quilômetros. Esses foram os piores. Foi cansativo e exaustivo, parecia que não terminaria nunca. Mas, eu consegui e venci. Encerrei o terceiro dia, ao lado de Karine, em 5h39min51s.

No fim da prova, estava muito emocionada e grata pela oportunidade de estar naquele lugar maravilhoso, em uma corrida que para mim era um sonho e muito desejada desde que a conheci, em 2013. Foi uma grande aventura e a primeira vez que vivenciei um acampamento. Dormir numa barraca, saco de dormir, tomar banho no rio, trocar de roupa dentro daquela minúscula barraca… Uma experiência mais legal do que a outra.

Foi um marco importante pra mim como atleta. Esses são momentos que levarei para toda vida. Um esforço que valeu a pena. A recompensa se resume em uma experiência incrível que só quem vivencia pode entender. Fiz amizades com pessoas de vários países. E fiquei muito feliz pelo apoio que recebi dos amigos e familiares que ficaram no Brasil, acompanhando cada passo, publicando nossos resultados e, principalmente, com a minha dupla, a Karine, que me ajudou muito.

Quer mais uma surpresa? No final, ainda recebi a medalha com o meu nome gravado!

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