Por que os corredores perfeccionistas são os que mais se machucam

Atualizado em 26 de junho de 2018
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O psiquiatra alemão Fritz Perls disse certa vez que “o perfeccionismo é uma maldição e uma prisão”, já que, segundo ele, “quanto mais você treme, mais erra o alvo”. Além de mexer com o lado psicológico dos atletas, o perfeccionismo pode contribuir para o surgimento de lesões. É isso que sugere um estudo feito pela Universidade de Wisconsin e liderado pela pesquisadora Lace Luedke.

Durante a pesquisa, ela e seus assistentes pediram a 34 corredores – 18 homens e 16 mulheres – para que preenchessem um questionário que verificaria seus graus de perfeccionismo na relação com o esporte. Em seguida, os pesquisadores acompanharam os treinos dos 34 atletas durante oito semanas para checar se os corredores perfeccionistas sofreriam mais com lesões.

Os resultados apontaram que os que exibiam “preocupações típicas dos perfeccionistas” estavam 17 vezes mais vulneráveis a lesões em relação aos corredores que encaravam o esporte sem tanta cobrança.

A escala do perfeccionismo considerava três fatores: altos padrões pessoais, preocupações com eventuais erros e dúvidas sobre ações a serem seguidas. No fim das contas, os corredores que se lesionaram ao longo das oito semanas eram os que combinavam altos padrões pessoais e dúvidas sobre ações.

O grupo de pesquisadores, então, notou que os corredores perfeccionistas, por estarem em busca de metas ousadas, nem sempre tomavam as decisões mais adequadas em seus treinamentos, como, por exemplo, não respeitar o descanso no estágio inicial de uma lesão.

 

 

O estresse mental associado ao perfeccionismo também pode desempenhar um papel relevante no surgimento de lesões. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Wake Forest e publicado no American Journal of Sports Medicine acompanhou 300 corredores amadores durante dois anos para tentar descobrir o que os levava às lesões.

Um dos fatores que mais machucavam os atletas era a má qualidade de vida relacionada à saúde mental e os estados afetivos negativos, como nervosismo e irritação. Os autores especulam que os corredores estressados podem ser menos cuidadosos na hora de seguir os sinais de alerta de uma lesão iminente.

“O perfeccionismo entra em um viés de tensão. O atleta sempre acha que tem que fazer algo a mais. Essa cobrança excessiva traz um esforço maior para o organismo. Chega um momento em que as pessoas que se cobram demais não praticam mais o esporte por prazer, mas sim porque se sentem na obrigação de fazer aquilo. Essa forma de lidar com a exigência é perigosa”, analisa o psicólogo do esporte Marcelo Abuchacra.