Vanderlei diz que doping mancha o atletismo

Atualizado em 30 de maio de 2017

Em entrevista exclusiva para o O2 Por Minuto, o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, de 46 anos,se comentou os casos recentes de doping no mundo do atletismo. “Esses problemas com doping acabam manchando individualmente o atleta e a modalidade”. Para Vanderlei, que atualmente cuida de 250 crianças em seu instituto, em Campinas, porém, os casos envolvendo a Rússia, suspensa de competições internacionais, o Quênia, que pode ter a mesma punção, eo Brasil, com o flagrante de EPO de Sueli Silva, têm seu lado positivo:segundo ele, “é um sinal de que os casos de doping não têm passado ilesos.”

Em recente passagem por São Paulo, o único latino a receber a medalha Pierre de Coubertin, a honraria máxima das Olimpíadas para o espírito olímpico, analisou o momento do país a cinco meses do Rio 2016, a nova geração do atletismo nacional e também revelou que a quase medalha de ouro em Atenas (2004) é algo que nunca sairá da cabeça dele.

O atletismo ficou menos “limpo” com esses casos de dopings revelados, tanto em atletas olímpicos quanto nas corridas de rua?

Apesar de ser uma coisa triste, o que podemos tirar de positivo é que o doping tem sido combatido e revelado. Acho que deveria haver ainda mais controle, mesmo que isso custe mais para as provas e competições. O doping mancha individualmente o atleta e a modalidade. Quando se imaginou que os quenianos se beneficiariam de meios artificiais para terem vantagem no atletismo? Eu sou a favor de se ter o controle tanto em provas grandes quanto nas corridas de rua, para que a essência de vencer por méritos seja mantida.

O que você espera do Rio 2016?

Eu tenho uma expectativa enorme. Participei de três Olimpíadas (Atlanta, Sidney e Atenas) e vi o quanto as cidades se transformam pelos jogos. Agora, como torcedor, tenho a expectativa de que o Brasil possa sobressair e fazer sua melhor participação nos Jogos do Rio. E é importante que os atletas brasileiros façam desta oportunidade um momento de foco e concentração – e que não coloquem a medalha no peito antes de competir.

E o que você espera de legado após o Rio 2016?

Os Jogos Olímpicos têm uma dimensão grandiosa e certamente vão mexer com a classe esportiva do Brasil – e isso tende a fomentar ainda mais o nosso país. Nós precisamos ter planejamento e políticas duradouras, para que possamos formar novos atletas. O grande desafio é oferecer acessibilidade para quem ainda não tem.

A sua parte você já tem feito, com o Instituto Vanderlei Cordeiro, em Campinas. Tem recebido apoio na empreitada? E tem enxergado potencial para formar novos atletas de elite?

A gente recebe muito apoio da Caixa e trabalhamos com projetos de leis de incentivo fiscal. Mesmo com o suporte da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), o grosso mesmo vem das parcerias com a iniciativa privada, que torna possível atendermos 250 alunos. E sim, vejo muito potencial, não só em atletas do instituto. Lá em Campinas, traçamos um planejamento de longo prazo para que a formação seja a mais completa possível. É preciso que se façam mais institutos e projetos Brasil afora.

Só mais institutos bastam ou ainda falta alguma coisa?

Eu acho que uma boa parte da nova geração de atletas não tem o comprometimento necessário, já que tudo está muito fácil e acessível. É difícil hoje você colocar na cabeça de um jovem que ele precisa sentir dor para alcançar algo no esporte, que é feito de sangue, suor e lágrimas. Muitos acabam desistindo, porque não veem sentido em abrir mão das coisas e que o trabalho é feito em longo prazo.

Mesmo com tanta coisa conquistada, como o bronze nas Olimpíadas de Atenas (2004), te perturba a lembrança de que você poderia ter saído da Grécia com um ouro senão tivesse sido atrapalhado pelo padre irlandês?

Decepção eu não tenho, já que ali foi o grande momento da minha carreira. Mas ninguém vai me tirar a vontade que eu tinha de ter ganhado aquele ouro, é algo que vai morrer comigo. O objetivo em 2004 era fazer uma grande maratona e medalhar. Eu durmo tranquilo com isso e foi mais uma prova de superação que tive que passar, mais uma das muitas que tive na vida, começando por vir de uma família muito humilde, em Cruzeiro do Oeste (Paraná) até chegar aondecheguei. (Vanderlei é bicampeão pan-americano e vencedor das maratonas de Tóquio e de Hamburgo).