Relato da aventura de um ultramaratonista no PR

Atualizado em 19 de abril de 2016
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O paranaense Raphael Bonatto tem um sonho ambicioso, como já contou ao ativo.com, quer ser o primeiro atleta no mundo a conseguir finalizar as três etapas da BAD135, a Copa do Mundo de Ultramaratonas, em um mesmo ano. No dia 23 de janeiro, o ultramaratonista dá início a jornada na disputa da Brazil 135, e apenas 8 dias depois estará nos Estados Unidos para a disputa da segunda etapa, a Arrowhead, prova disputada com temperaturas de -40º.  

Mas, mesmo em fase de preparação para todas essas duras provas, Raphael ainda decidiu criar um desafio particular, percorrer em sete dias o percurso entre as cidades de Foz de Iguaçu e Curitiba, terminando com a maratona na capital paranaense. O ativo.com conversou com o atleta antes deste Desafio, e agora novamente para saber como foi realizar o sonho de infância com início na cidade que não conhecia.

Confira o relato do ultramaratonista:

Enquanto viajava, de avião é claro, para Foz do Iguaçu, cartão postal do Brasil, e ia de encontro com as suas cataratas, ficava pensando na aventura que seria atravessar o estado do Paraná correndo e quando chegasse até a cidade de Curitiba ainda teria que finalizar a Maratona da cidade, considerada uma das mais dificeis provas de corrida de rua no nosso calendário. Confesso que ficava e ainda fico assustado com a distância de 700km entre as Cataratas e a realização do meu sonho de infância.

Cheguei 3 dias antes do início do Desafio na cidade e fui me adaptando ao clima quente e úmido. Aproveitei para visitar mais uma vez os pontos turisticos e assim me concentrar para o que seria um teste de resistência e muita paciência.

Dia 14 de novembro do ano de 2009, as 8:30h da manhã, com a compania de vários corredores da cidade e um visual exuberante, comecei a corrida num ritmo estável e controlado, ainda dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Foram 12 km de muita alegria e sombra até que saímos do Parque e entramos na primeira rodovia federal. Com muito cuidado cumpri mais 10 km e entrei em Foz do Iguaçu, onde o batalhão de trânsito me aguardava para escolta até a saida da cidade. Agradeço imensamente a prefeitura, a secretaria de esporte e turismo e ao batalhão de trânsito e policia militar de Foz.

Com 42 km rodados fiz a primeira parada. O sol estava escaldante e o trânsito muito intenso. Arranjei uma sombrinha na beira da estrada e almocei um Cup Noodles com Coca-Cola. Foram 30 minutos para o calor abaixar um pouco e continuarmos rumo a cidade de Medianeira, a qual alcançamos 12 horas depois da largada.

Aproveitei para descansar um pouco, comer uma pizza no hotel e as 6:00h da manhã do dia seguinte já estava pronto para o 2ºdia. Para a minha surpresa quando desço para a porta de saída do hotel vejo 2 corredores me aguardando. A história estava se espalhando e foi mobilizando os corredores que queriam apenas me fazer companhia e ajudar no ritmo e motivação para a corrida.

Corri 20 km com estes dois corredores e nos separamos próximos da cidade de Céu Azul. Segui rumo à Cascavel quando repentinamente uma chuva muito forte começou e tornou a aventura muito, mas muito perigosa. O dia virou noite e a ventania destalhava casas, os caminhões já não me enxergavam mais mesmo com os sinalizadores e resolvi que para a minha segurança e de toda a minha equipe deveria seguir de carro até a cidade. Estávamos distantes 15 km de Cascavel. Logicamente que no outro dia teria que “pagar” essa distância.

No 3º dia, saimos de Cascavel e me sentia muito bem, pois o tempo de descanso e alimentação foi maior. Dito e feito, rodei 110 km num dia com muito calor e subidas intensas. Eu tinha apenas 12 horas para cumprir pelo menos 90 km por dia, pois a noite era muito perigoso eu correr pelo fato de a estrada ser mão única e muito movimentada.

Muitas vezes não existia acostamento e tive que correr em buracos e na mata ao lado da estrada. Chegamos em Nova Laranjeiras, simpática cidadezinha no oeste do Paraná. Nos hospedamos num pequenos hotel que também era o restaurante, lanchonete, rodoviária e posto telefônico local. Descansei, alimentei-me e no 4º dia sai em direção à primeira grande cidade, exatamente no meio do caminho entre Foz e Curitiba, esta era Guarapuava.

Consegui chegar a 52 km de distância de Guarapuava e no 5º dia atingi o objetivo de ficar próximo a cidade de Prudentópolis. As Serras eram muito íngremes neste trajeto, rodei 90 km no 4º dia e apenas 75 km no 5º dia.

O 6º dia amanheceu e me encontrava a 17 km de Prudentópolis. Este foi provavelmente o meu melhor dia em performance e, apesar do calor e das subidas íngremes, fui correndo solto e feliz. Rodei quase 100 km, o que me deixou perto da cidade de Ponta Grossa. Era quinta-feira ainda e já estava apenas 140 km de Curitiba. Na sexta-feira rodei mais 90 km e fiquei a 50 km da capital e, no sábado, exatamente 7 dias 3 horas e 30 minutos após a largada em Foz cheguei em Curitiba.

A emoção foi muito grande, eu quase não acreditava que tinha conseguido. As dificuldades foram muitas, mas o calor e as subidas realmente me impressionaram pela dificuldade de serem vencidos. Já participei e conclui provas como a Brazil 135 e Badwater mas nunca tinha visto nada igual.

O meu tempo era super reduzido para a kilometragem a ser percorrida e o volume era muito grande, o que tornava o momento de acordar o mais infeliz do dia. Sinceramente pensava muito em desistir e abandonar, mas, quando lembrava de todo o apoio que tive durante o trajeto, as pessoas humildes me seguindo a ajudando, o pessoal das concessionárias de pedágio me parando para tirar fotos e dar autógrafos, a minha equipe me seguindo e sofrendo comigo durante 7 dias e principalmente no orgulho que minha filha sentirá um dia de mim por ter conseguido este feito, a vontade de vencer voltava e eu crescia para vencer novamente.

No domingo dia 22/11/2009 larguei na Maratona de Curitiba e conclui com 3h49min, um resultado muito bom para quem já tinha feito meros 650 km antes! Fiquei muito feliz e impressionado com a performance e principalmente com o apoio de todos durante a prova. Cada um que passava e me parabenizava pelo feito me levava mais um quilômetro e passar com a minha filha na linha de chegada não tem preço! A mente nos leva aonde o corpo não quer! Pense nisso!

 

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