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Os 12 momentos decisivos de Vanderlei Cordeiro

Atualizado em 20 de setembro de 2016

Nesta segunda-feira (4), no dia em que completa seu 47º aniversário, Vanderlei Cordeiro de Lima, o único brasileiro com medalha olímpica na maratona, elege os 12 momentos mais marcantes de sua carreira, encerrada após cruzar a linha de chegada da São Silvestre de 2008. E a maratona da Olimpíada de 2004, em Atenas, quando ele foi puxado pelo maluco irlandês Cornelius Horan, um ex-padre, está nessa lista com destaque especial.

1) A primeira “medalhinha” – Novembro de 1984

“A gente não corria por dinheiro, porque as minhas primeiras provas nem ofereciam premiação. A gente corria mesmo é por uma medalha. A dessa prova, 20km, em Indianópolis, no interior do Paraná, categoria juvenil, é inesquecível. Ganhei. Hoje, se estivesse começando, jamais correria 20km. É muito pesado para um rapaz de 15 anos de idade.”

2) O primeiro troféu – 1985

“Eu já tinha conquistado a primeira medalha. O passo seguinte seria levantar um troféu. Queria um para colocar na estante da sala. Na verdade não era estante, era tipo uma cômoda da minha mãe. Foi na Prova Rústica Tiradentes, em Maringá. Fui quinto colocado na categoria juvenil, distância de 10km. Eu colocaria num lugar nobre, ao lado da TV. Mas a gente não tinha TV.”

3) Cross-country – 1986

“Foi a minha afirmação entre os melhores, em Campinas. Não lembro quem ganhou, se foi o Diamantino, se foi o Passarinho. Mas fiquei entre os 5 melhores, na quinta colocação. Vi que não estava muito longe das feras.”

4) Vaga na seleção brasileira – Mundial Júnior de Atletismo – Sudbury – Canadá – 1988

“No ano em que me mudei do interior do Paraná para São Paulo, já conquistei vaga na seleção brasileira júnior. Foi um marco. Nunca tinha saído do Brasil, não sabia como era o exterior. E esse era um objetivo, conhecer um pouco do mundo graças ao atletismo. Não encontrei o ritmo para os 10.000m, em pista, e não cheguei. Nos 20km, em estrada, fui o oitavo colocado. Eu tinha o sonho de querer ser atleta, e essa participação no Mundial me afirmou nessa busca.”

5) Quarto colocado na São Silvestre – 1992

“Querendo ou não, o fato é que, naquela época, o atletismo não tinha nenhuma mídia. Pra você ficar um pouco mais conhecido, tinha que dar resultado na São Silvestre. Fiquei em quarto, foi a minha primeira participação na prova. Terminei a carreira com 13 participações nessa prova.”

6) “Coelho” vence a Maratona de Reims – 1994

“Fui contratado para ser coelho (puxador de ritmo) da Maratona de Reims. Era para correr só até o 20º quilômetro, mas me senti bem, resolvi ir até o fim e venci. Descobri naquela prova a minha aptidão para a maratona.”

7) Maratona de Tóquio – 1996

“Fiz o tempo de 2h08min38 e fiquei em quarto lugar no ranking mundial.”

8) Olimpíada de Atlanta-96

“Saber o que é uma Olimpíada por dentro é a meta de qualquer atleta. A gente quer ter esse rótulo de atleta olímpico. Você veja o Marilson: o que é melhor? Marilson vencedor da Maratona de Nova York ou Marilson atleta olímpico? Atleta olímpico soa melhor, na minha opinião. Naquele ano, como estava entre os melhores do mundo, estava cotado para o top 10. Mas estava quente e úmido demais. A umidade acabou comigo.” (Resultado: Vanderlei foi o 47º colocado, com o tempo de 2h21min01)

9) Pan de Winnipeg-99

“Essa conquista afirmou minha imagem no mundo do esporte. É claro que a maratona do Pan não tem um nível de performance que vá causar impacto fora das Américas. É uma notícia que não representa nada na Europa, por exemplo. Mas, na nossa cultura esportiva, o Pan tem importância, e vencer em Winnipeg foi importante para mim.”

10) Olimpíada de Sydney-2000

“Antes de mais nada, tenho que falar que 2000 foi o ano em que morreu o meu pai, e a morte dele, a morte de José Cordeiro de Lima, teve um impacto muito forte na minha vida. Ele nunca pôde me apoiar financeiramente, mas o apoio moral… Era uma pessoa companheira. Sempre me deu autoestima, sempre. Ele não tinha nada, e simplesmente trabalhava. E trabalhava alegre. Isso me contagiava. Morreu devido a complicações decorrentes da Doença de Chagas, aos 79 anos de idade. Não fosse essa doença, estaria aqui até hoje, porque, na nossa família, é comum morrer com cem anos de idade.”

Eu tinha feito o tempo de 2h08min34 e estava no top 30 da minha prova. Fomos treinar no México. Estávamos em Santiago Tianguistenco, perto de Toluca. Mas não havia lá muitas estradas, muito local adequado pra treinar. Corríamos em campos, em trilhas. Aí pisei numa pedra, lesionei o tendão esquerdo. Tive que voltar dez dias antes do previsto ao Brasil. Aí fui fazer fisioterapia, mas isso tudo prejudicou a preparação.” (Vanderlei acabou a maratona olímpica de 2000 em 75º, com o tempo de 2h37min08).

11) Pan de Santo Domingo-2003

“Um momento que para mim foi grande. Bicampeão dos Jogos Pan-Americanos”

12) 2004

“Falo em 2004, não em Jogos Olímpicos de Atenas, como um dos 12 momentos. E explico: naquele ano, tive dois momentos importantes, de cair para o fundo do poço e me reerguer. Já havia feito o índice A e só precisava ratificar a vaga fazendo o índice B. Caí da moto e quebrei a cabeça do úmero. Ele [Ricardo D’Angelo, treinador] me disse que, se eu acreditasse na minha recuperação, ele iria acreditar também. Estava pronto para jogar a toalha, mas fui para Campinas. Fizemos exames, fisioterapia e comecei a correr com o braço imobilizado. Simplesmente não tinha coordenação nenhuma. Aos poucos, fui me libertando da tipoia. E então, na Maratona de Hamburgo, no dia 19 de abril, eu venci, e isso me deu uma confiança enorme.”

“É claro que a Maratona de Atenas foi outro momento em que achei que tudo estava perdido, depois de aquele padre irlandês (Cornelius Horan) me segurar, me desconcentrar e me fazer perder a chance de vencer uma prova que eu liderava. E até hoje me perguntam como tive motivação para seguir, como fiquei tão feliz com um bronze. E aí eu explico: você tem ideia do significado que tem para um atleta largar, numa maratona olímpica, de um lugar chamado Maratona? Foi lá que tudo começou. Aquele lugar é diferente de todos. Ali se provavam as forças nos Jogos da Antiguidade. A gente ficava só imaginando como era aquilo tudo… Quantos não gostariam de estar no meu lugar? Eu estava, e ainda ganhei uma medalha de bronze. Dá para entender agora por que eu estava tão feliz, mesmo tendo sido roubada de mim a chance de lutar pelo ouro?”.