O mundo de desafios extremos das ultramaratonas

Atualizado em 19 de abril de 2016
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Distâncias que parecem difíceis de acreditar que alguém conseguirá percorrer correndo, logística às vezes complicada e terrenos inóspitos que acrescentam ainda mais desafios à prova. Isso é uma ultramaratona, algo que parece impossível de se realizar para a grande maioria, e até mesmo para esportistas mais preparados. Com tantas dificuldades, não à toa seus atletas ganham reconhecimento de verdadeiros heróis e as competições tornam-se míticas.  

Objetivamente, uma ultramaratona é qualquer corrida com distância superior a 42 km, sendo as mais comuns as provas de 50 km, 10 km e 24h, como diz o ultramaratonista paranaense Raphael Bonatto, de 29 anos, que já participou das famosas Comrades, na África, e da Badwater, nos Estados Unidos, porém, ele avisa: não é a distância percorrida que define a prova e sim as dificuldades enfrentadas.

“Por estas razões as competições tornam-se um mito, com seus participantes verdadeiros heróis. Aqueles que conseguem finalizar as ultramaratonas acabam sendo reconhecidos como vencedores, não pela sua colocação, mas pelo grande desafio vencido”, diz Raphael.

Diante desses cenários, surge a pergunta: é preciso ser superhomem para fazer uma ultramaratona? Raphael dá pistas de como são forjados esses atletas inacreditáveis. “O exagero é muito comum entre atletas da modalidade, o que causa o chamado “overtraining”. Não é necessário ser um “superhomem” mas sim um “superatleta”. Um ultramaratonista precisa saber respeitar seus limites e ter uma disciplina excelente na alimentação, sono e espaços para descanso. Saber parar quando não se tem mais condições perfeitas para a conclusão da prova também é outra característica muito importante, para que a saúde não seja colocada em risco e se coloque organizadores e outros atletas também em risco”, diz.

Além dos desafios impostos pela competição, o que costuma exigir mais atenção de um ultramaratonista? “Na minha opinião, o principal desafio de um ultramaratonista é saber controlar o ritmo durante a competição para conseguir concluí-la. A vontade de desistir é muito grande, se não houver um controle, uma sintonia fisica e mental perfeitas, as chances diminuem muito.

Raphael já participou de grandes ultramaratonas, como a Badwater, com duro percurso pelo deserto da Califórnia, o Death Valley. Os poucos participantes são selecionados por “currículo”, e Raphael ganhou em 2009 o Buckle, uma fivela de reconhecimento para os atletas que finalizam a prova abaixo de 48 horas.

Contudo, Raphael diz que ainda falta realizar o sonho de completar uma, a ARROWHEAD, nos Estados Unidos, conhecida como a “ultramaratona no gelo”, disputada no rigoso inverno de Minnesota. Raphael estava inscrito e selecionado para a disputa, mas, por conta de falta de patrocínio não irá participar, mas diz que os planos permanecem para 2011.

Apesar de ter no currículo grandes provas internacionais, Rapahel disse que a maior dificuldade enfrentada foi na Volta a Ilha 2009, em Santa Catarina. “Estava correndo em duplas com o Alisson Tracz, grande atleta de Curitiba, mas não tinhamos equipe de apoio. Montamos uma estratégia para cada um correr 75 km e abastecemos o carro com mantimentos. O único problema é que choveu muito durante toda a prova e tinhamos dificuldade em dirigir o próprio carro até os pontos de troca, o que tornou praticamente impossível a nossa alimentação e desta forma fomos correndo os trechos e nos abalando fisicamente pela dificuldade da prova e mentalmente por saber que não conseguiriamos nos alimentar direito nos intervalos. Não sei como chegamos naquela prova”, relata.

“A Volta a Ilha é uma prova muito dificil, são 150 Km de dunas, praias e montanhas e naquele dia tive a certeza de que sem um bom planejamento não devemos nos arrisar e, o principal, respeitar todas as competições em que entramos, independentemente se você já conclui este desafio anteriormente, cada prova deve ser respeitada de forma única”, acrescenta.

A BR 135 – Apesar de grandes ultramaratonistas no Brasil, como Valmir Nunes, Carlos Dias e Márcio Villar, a modalidade não é popular no país e nem existem muitas provas. O grande vilão, como em outras modalidades, pode ser identificado como a falta de patrocínio para a realização das competições. “Os atletas brasileiros hoje são os melhores do mundo na modalidade. Com certeza se tivéssemos mais apoio econômico surgiriam mais atletas e conseguiríamos realizar mais competições dentro do país”, opina.

A principal ultramaratona internacional do Brasil é a BR 135, que faz parte da Copa do Mundo de Corridas de 135 Milhas -“BAD135 World Cup”. Esta Copa do Mundo de corridas em ambientes de máxima dificuldade é formada pelas provas: Badwater Ultramarathon – Corrida no Deserto, Arrowhead Ultramarathon – Corrida no Gelo e a BR 135 Ultramarathon – Corrida nas Montanhas.

“Os organizadores da BR 135 Ultra, na minha opinião, são verdadeiros guerreiros, apostaram num esporte pouco rentável e hoje temos competidores do mundo inteiro vindo ao Brasil enfrentar as montanhas da Serra da Mantiqueira. Para se ter uma idéia, subimos o equivalente a um Monte Everest, são muitas subidas e descidas ingremes, o que torna a prova muito temida”, revela Raphael, que estarná na disputa, no próximo dia 23, em Minas Gerais.

“Para mim, a BR 135 é a prova mais dificil do mundo de ultramaratonas. Toda realizada pela Serra da Mantiqueira somente subimos e descemos. Não encontra-se um plano para correr tranquilo, é um sobe e desce sem tamanho pelo meio das trilhas do Caminho da Fé. Temos 3 check-points e lá encontramos uma refeição, café quente e as pessoas da organização que marcam o seu tempo e ajudam com alongamentos e o que mais for necessário. Todos são super prestativos e atenciosos. Este ano a largada será em São João da Boa Vista (SP) e a chegada em Paraisópolis (MG), 217km de muita força e superação”.

Quais as peculiaridades que fazem da BR 135 tão díficil? “Ela não tem trechos planos, além de que não encontramos asfalto durante a corrida, sempre estamos em trilhas com muitas pedras e buracos, o que torna mais perigosa”.

Mas, de acordo com Raphael, as durezas do percurso são recompensadas pela beleza local. “Temos um grande contato com a natureza, passamos entre fazendas com vacas, bodes e o visual é deslumbrante, muito lindo mesmo, o que relaxa um pouco a cabeça e nos leva mais adiante”.

Entre as muitas características especiais de uma ultramaratona, Raphael revela uma insólita. “Na maioria das vezes o favorito não ganha”. Por esta razão, não faz nenhuma aposta para a BR 135. “Existem diversas dificuldades a serem enfrentadas e muitas caracteristicas alimentares, de apoio, de sono que se não respeitadas acabam com a sua prova, então melhor não apontar e nunca se achar o favorito.”

 

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