Morre, aos 97 anos, Louis Zamperini

Atualizado em 05 de agosto de 2016
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O atleta olímpico e veterano da Segunda Guerra Mundial Louis Zamperini morreu, aos 97 anos por conta de uma pneumonia, segundo informações do "The Hollywood Reporter".

Louis Zamperini, conhecido por ter sido um prisioneiro de guerra norte-americano na Segunda Guerra Mundial e corredor olímpico que se consagrou nos 5.000m. Sua vida inspirou o filme "Unbroken", longa-metragem dirigido pela atriz Angelina Jolie, que se baseia no livro "Invencível: Uma história de sobrevivência, resistência e redenção", de Laura Hillenbrand.

Zamperini morreu após 40 dias com a doença, disse sua família em um comunicado enviado à A Universal Pictures, produtora do filme. "Recentemente ele enfrentou o maior desafio de sua vida com um caso arriscado de pneumonia. Após uma longa batalha de 40 dias por sua vida, ele morreu em paz na presença de toda a sua família, deixando para trás um legado que tocou muitas vidas. Sua coragem e espírito de luta indomável nunca foram mais aparentes do que nestes últimos dias".

Zamperini, o invencível
Aplaudido de pé pelas 100 mil pessoas que lotavam o Estádio Olímpico de Berlim, o norte-americano Louis Zamperini terminou em oitavo ligar a prova dos 5.000 metros dos Jogos Olímpicos de 1936. Tinha feito a última volta em 56 segundos, tempo inimaginável para a época – quatro anos antes, a última volta do recorde mundial da distância fora corrido em 69s2.

Depois da chuveirada, ele e a delegação norte-americana foram chamados ao camarote de Hitler, que acompanhava os Jogos como uma operação de guerra. Folgado, o filho de italianos entregou a Joseph Goebbels, o temido ministro da propaganda nazista, uma máquina fotográfica, pedindo que fizesse uma foto do ditador alemão. Para surpresa de todos, Goebbels não so concordou como apresentou a Hitler o audacioso autor do pedido. Ao que o “fuhrer” comentou: “Ah, você é o garoto com final rápido”. Zamperini tinha então apenas 19 anos, mas já vivera muito, escapara duas vezes da morte e ainda teria muitas vezes sua vida ameaçada ao longo da Segunda Guerra Mundial.

Zamperini foi prisioneiro de guerra dos japoneses, vitima de torturas impensáveis. Voltou vivo quase por um milagre, mas em pouco tempo sucumbiu ao estresse pós-trauma, entregou-se à depressão e a bebedeiras, de onde saiu depois de uma epifania religiosa. Até dezembro de 2012, aos 95 anos, continuava sendo o mais rápido do que o inimigo definitivo.

Louie, como era chamado, nasceu em Olean, Nova York, em 26 de janeiro de 1917.  Quando garoto, brigava, roubava, bebia, fumava e era ameaçado por vítimas furiosas, em aventuras que costumavam terminar com o garoto correndo feito louco. Com isso, seu irmão mais velho Pete conseguiu convencer a todos que a salvação de Louie estava no esporte, no atletismo. Era o ano de 1932 e o garoto começou a temporada odiando tudo aquilo. No fim, ele tornou-se o primeiro garoto de Torrance a participar das finais de uma competição de atletismo. “A corrida me tirou de uma vida de garoto problema”, disse ele.

Naquela época, nos idos de 1933, derrubava recorde após recorde nos 400 metros, nos 800 metros, na milha e até nas provas de duas milhas. Por volta de maio de 1936, soube que haveria uma corrida de 5.000 metros no Los Angeles Coliseum e que Norman Bright, recordista norte-americano das duas milhas e segundo no pais, estaria presente. Terminou cabeça a cabeça com Bright, passou a acreditar que teria chances e tratou de disputar as provas seletivas para entrar no esquadrão olímpico dos Estados Unidos.

O ataque japonês a Pearl Harbour mudou tudo. De uma hora para outra, o corredor virou soldado, aviador, especialista em bombardeios. Envolveu-se em batalhas sangrentas, ajudou a arrasas cidades e, quando voltava para a base, no Havaí, tratava de correr sempre que podia, tentando manter a forma e o espirito de guerreiro.

Numa missão foi mandado para resgatar um avião com problemas. Acabou caindo no mar. Só Zamperini e dois companheiros se salvaram. Ficaram 47 dias à deriva, quase enlouquecidos pelo sol e sal, pela fome e pelo medo. Com remos, batiam em tubarões que rondavam os botes; pescavam e caçavam pássaros com as mãos; bebiam água da chuva.

Acabaram resgatados por um navio japonês e transformados em prisioneiros. Sua primeira parada foi a Ilha da Morte. “Aqueles 43 dias em Kwajelin foram os mais difíceis da minha vida. […] Eu rezava para voltar no tempo, para ficar à deriva no mar…” disse ele.

Mas não voltou. Para os americanos, era tido como morto. Mas sobreviveu à Ilha da Morte e as torturas. O sofrimento só acabou com o fim da guerra, a debandada dos oficiais japoneses e a chegada das tropas americanas. Zamperini não tinha mais condições de correr, mas estava vivo. “A corrida me ajudou a sobreviver. Acho que aumentou minha capacidade de suportar a dor.”

(Entrevista realizada pelo colunista Rodolfo Lucena, para a revista O2 – Janeiro de 2013)