Maratona da Paz

Atualizado em 28 de julho de 2016
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The Great Tibetan Marathon aconteceu entre as fronteias políticas da Índia, em Ladakh – a província mais a oeste do platô tibetano. Trata-se de um lugar único onde os budistas praticam a religião

Por Juliana Saporito

Correr no topo do mundo. Em Ladakh, na Grande Maratona do Tibet, é essa a sensação que se tem. E não por acaso. A região, que fica no estado de Jammu e Caxemira, compreende áreas do território mais alto da Índia, com localidades situadas acima dos 3 mil metros de altitude. Além de abrigar o vale superior do Rio Indo, Ladakh é a “casa” do Himalaia, o ponto mais alto do universo.

É uma zona muito remota, com acessos difíceis por altas montanhas e neve intensa, que interrompe as estradas durante oito meses do ano. A visão, magnífica, mescla regiões de vales desérticos com montanhas glaciais, coloridas pelo vermelho das vestes típicas dos budistas-tibetanos e ornada pelos palácios e construções simples e antigas, no alto dos morros.

As histórias política e geográfica são capítulos à parte quando se fala em Ladakh. Conhecida como “A Pequena Tibet”, foi um reino independente da religião budista, até o século 17. Invadido pela Caxemira, acabou integrada à Índia britânica. Atualmente, seu território divide-se entre áreas da Índia, do Paquistão – região de conflitos religiosos e territoriais – e do Aksai Chin, de domínio da China.

Isolada do mundo até a abertura ao turismo, na metade dos anos 1970, hoje é um ponto visitado e muito admirado, tanto por sua beleza quanto pela grande quantidade dos monastérios budistas que abriga. Enquanto a religião predominante em Jammu e Caxemira é o islã, com maioria da população mulçumana, o Ladakh mantém suas origens e habitantes essencialmente budistas. Habitantes, aliás, que são poucos quando pensamos na enorme extensão territorial que se vê por aqui. O clima, metade do ano gelado, com neve, e a outra metade quente e seco, explica a baixa densidade populacional.

Chegar aqui, no entanto, já não é tão difícil. O turismo é uma das principais vertentes da economia na região, embora a infra-estrutura da cidade seja bastante precária. Para impulsionar o setor, há projetos de construção de novas estradas em andamento, além de um plano de treinamento para atendimento médico e hospitalar, direcionado às pessoas nativas.

Adequando-se ao “mundo moderno”, Ladakh tem atualmente uma sociedade em transição. Novos estilos de vida e diferentes costumes vêm sendo incorporados pela população, embora ainda seja possível notar a grande influência da cultura e costumes tradicionais indígenas, estampados nos rostos de muitos cidadãos centenários. A mistura entre a necessidade do novo e o respeito ao antigo, muitas vezes, provoca uma verdadeira confusão na cabeça das pessoas que vivem aqui.

O que interessa mesmo – e surpreende – são as paisagens estonteantes que permeiam toda a região. Montanhas e picos tomados pela neve, grandes lagos rodeados por rochas secas, como verdadeiros oásis tingidos de um azul escuro impressionante, a vegetação rala por entre os vales escondidos e as construções em pedra, cheias de janelas quadradas que parecem vigiar toda a Ladakh de cima, formam um cenário de magia e encantamento.

Dentre os candidatos ao título de “a última Shangri-lá” (o Paraíso Terrestre, segundo as crenças milenares) Ladakh tem amplo favoritismo. Nenhum lugar poderia unir tão bem paisagens antagônicas, como a cordilheira gelada do Himalaia, os lagos no meio do deserto, vales e montanhas entremeadas por estradas desconhecidas. As esculturas de Buda, com pedras incrustadas, dividem espaço com os murais tântricos. A população nativa troca experiências com os turistas ocidentais, aprendem e ensinam.

Ladakh, conhecida como “A Grande Passagem”, exatamente por estar entre regiões dominadas por três países diferentes – também em geografia, crenças e ideais – parece o lugar ideal, em nome, paz e beleza, para servir de passagem e receber bem os corredores da Grande Maratona.