Alan Fonteles: o mundo é dele

Atualizado em 08 de agosto de 2016
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A gente já sabia. Na edição de novembro de 2012 de O2, conversamos com o corredor Alan Fonteles, campeão paralímpico dos 200m – batendo a, então, lenda sul-africana, Oscar Pistorius – e ele nos antecipou seus objetivos. Leia a reportagem completa e entenda.

O menino de Alan Fonteles correu mais rápido e foi mais longe do que os seus sonhos. Quando viu Robson Caetano competindo, Alan, então com apenas 8 anos, só queria correr. O fato de não ter as duas pernas? Para os outros, uma enorme barreira. Para ele, mero detalhe. Seus pais e professores não sabiam como dizer ao garotinho que correr como Robson Caetano seria tarefa impossível. Por isso, deixaram o garoto sonhar. Ao chegar na escolinha da atletismo, Alan deixou claro que queria ser velocista. Se ele brincava como qualquer criança, por que não poderia correr como qualquer atleta?

Alguns anos se passaram e Alan superou seus sonhos e seu ídolo. A brincadeira ganhou as pistas da Paralimpíada de Londres. O adversário do "pega-pega" virou Oscar Pistorius, o famoso "Blade Runner". A sua alegria se transformo em uma medalha de ouro, conquistada após uma arrancada fulminante nos 80m finais dos 200m rasos. O brasileiro precisou amputar as duas pernas abaixo dos joelhos com apenas 20 dias de vida, por causa de uma assepssemia, infecção generalizada. Vinte anos depois, ele estava em Londres, não só de pé, e com o mundo aos seus pés: 21"45 depois, o ouro já estava no seu peito. Medalha que se juntou a de prata, conquistada em Pequim, no 4x100m, quando tinha apenas 16 anos.

Sua conquista em Londres foi cercada de polêmicas. O sul-africano Pistorius, que semanas antes havia competido na Olimpíada de Londres, questionou a legalidade das próteses usadas pelo brasileiro – que estava sim dentro da regras do Comitê Paralímpico Internacional. A discussão rapidamente terminou, com Pistorius reconhecendo que exagerou na reclamação e Alan perdoando o adversário.

O2 quis promover o encontro dos dois, fazendo as mesas perguntas pra ambos, sobre suas vidas, treinos e conquistas. Pistorius inicialmente topou, mas depois se recusou a responder qualquer coisa sobre o brasileiro. Uma pena pra ele, mas melhor pra você, leitor, que ganhou uma entrevista exclusiva com o brasileiro campeão paralímpico!

O que significa ser campeão paralímpico?
Realizei meu grande sonho quer era ira para uma paralimpíada e ganhar uma medalha de ouro. Mas estou apenas em parte realizado, pois agora já tenho novos sonhos e novas metas.

Você se considera um exemplo?
Sim, e fico muito feliz com as mensagens recebo de de muitas pessoas dizendo que são minhas fãs. Muitos dizem que me olham e pensa "se ele consegue, eu também consigo".

Como foi a sua infância?
Foi muito tranquila. Joguei bola, andei de bicicleta, corri, pulei muro, empinei pipa como qualquer criança.

Você se lembra do momento em que percebeu que era diferente das outras crianças?
Para mim, eu nunca fui diferente. Meus amigos sempre me trataram como uma criança normal. Lógico que, por não ter pernas, eu era diferente, mas eu nunca me senti assim. Fazia as mesmas coisas que todos os meus amigos.

A vida de um deficiente no Brasil é muito difícil?
Eu cresci em Ananindeua, no Pará, e hoje moro em São Paulo, pois treino em São Caetano. No Pará realmente a acessibilidade é mais difícil do que em São Paulo, mas nas duas cidades sou respeitado da mesma fora. No Pará, inclusive, o carinho que recebi foi muito grande. Todos falam de mim!

Você praticou outros esportes antes?
Não, entrei no atletismo aos 8 anos, desde que vi o Robson Caetano correndo. No começou meus pais ficaram assustados, mas aos poucos perceberam que era isso que eu queria. Sempre quis ser velocista, então já entrei nas provas de 100m e 200m. Eu competia com próteses normais. Só na Paralimpíada de Pequim passei a correr com as próteses especiais.

Você já competiu contra atletas que têm as duas pernas?
Já, em competições locais. Não quero mostrar nada para ninguém nem causar polêmica. É apenas o sonho que tenho desde que vi o Robson Caetano correr. Queria muito participar do Troféu Brasil de Atletismo.

No futuro você acha que será mais comum ver atletas paralímpicos correndo contra atletas olímpicos?
Acho que sim, mas não penso em ir para uma Olimpíada. Pode ser que um dia eu mude de opinião, mas até 2016 só penso em Paraolimpíada.

É justa essa disputa?
Olha, não sei… quem pode avaliar isso é o COB, COI ou a IAAF. Os comitês e federações já estão analisando isso. Não posso responder.

Um corredor sente dor nas pernas. E um corredor que não tem pernas, sente dor onde?
Eu sinto nos joelhos, nas coxas e principalmente nas costas. Meu ácido lático se concentra nas coxas e vai subindo… Eu sinto muita dor na região lombar por causa da posição que fico com as próteses de corrida. Treino 8 horas por dias, entre academia e pista, de segunda a sábado.

Um atleta paraolímpico é mais forte que um atleta olímpico?
Não sei se é mais forte, mas com certeza treina o mesmo ou até mais. A nossa cabeça pode, sim, ser mais forte, talvez pela superação. Claro que os atletas olímpicos também se superam, mas nós também enfrentamos outras dificuldades.

Quais seus próximos objetivos?
Quero ser campeão mundial na França, em julho do ano que vem, dos 200m e melhorar minhas marcas nos 100m e 400m.

Deixe uma mensagem pras pessoas que se inspiram em você.
"Tudo posso Naquele que me fortalece", Filipedes 4:13. Sempre busco fazer o meu melhor, porque Deus sempre vai me fortalecer na minha busca pelos sonhos.

(Matéria publicada na Revista O2, edição nº 115, novembro de 2012)