Dominância dos quenianos nas corridas - parte II

Atualizado em 12 de dezembro de 2017
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Capacidade de utilização de oxigênio pelos músculos dos membros inferiores (músculos das pernas) – Para que os corredores de endurance utilizem oxigênio de maneira mais eficiente, é necessário que o tecido muscular (especificamente os músculos dos membros inferiores) desses atletas apresente uma alta atividade de enzimas mitocondriais. As enzimas são um grupo de proteínas específicas do organismo que têm como função acelerar as reações químicas dentro e fora da célula.

Nas mitocôndrias, que são organelas que têm como função geral realizar a “respiração celular” (utilização de oxigênio para produzir energia aeróbia), uma alta capacidade das atividades enzimáticas mitocondriais é diretamente ligada com o tipo de substrato que é utilizado no metabolismo durante o exercício (ex: gorduras).

Uma maior quantidade de mitocôndrias celulares implica conseqüentemente em uma maior utilização de gorduras pelos músculos durante o exercício. Dessa forma, a quantidade de ácido lático em uma determinada velocidade de corrida é menor devido a alto potencial de utilização de oxigênio. Assim, pode-se deduzir que existe uma relação direta entre o potencial oxidativo dos músculos que são exigidos na corrida e o nível de performance.

O que os estudos científicos têm apresentado sobre esse aspecto é que os corredores africanos, principalmente da África do Sul, apresentam um maior potencial oxidativo das suas enzimas mitocondriais. No entanto, apesar da literatura científica apresentar dados sobre um alto potencial oxidativo dos corredores quenianos, isso não explica de forma significativa o alto nível de performance apresentado por eles, visto que o mesmo potencial de oxidação tem sido observado em corredores caucasianos de outros países com nível de performance inferior ao dos corredores do Quênia.

Irrigação sanguínea muscular (densidade capilar) – A quantidade de capilares sangüíneos que irrigam um determinado tecido determina a quantidade de oxigênio que é ofertado para essa região. A densidade capilar tem sido um fator determinante do perfil de oxidação da musculatura e é estreitamente relacionada com o VO2max. Assumindo esse pressuposto, alguns estudos têm mostrado uma correlação positiva entre densidade capilar e velocidade de corrida.

Dessa forma, corredores que apresentam uma maior irrigação sangüínea tendem a ofertar uma maior quantidade de oxigênio para a musculatura trabalhada, permitindo assim, a sustentação de altas velocidades de corrida quando comparados com corredores que possuem uma densidade capilar inferior. Quanto a capilarização de corredores de elite do Quênia, tem sido observado que eles apresentam uma tendência para possuírem uma maior quantidade de capilares sangüíneos do que outros corredores. No entanto, não se sabe ao certo o quanto que essa condição apresentada por eles auxilia na sua performance, visto que são poucas as evidências na literatura científica.

Resposta do lactato sangüíneo – Como tem sido observado, o nível de lactato sangüíneo em diferentes intensidades de exercício é um importante indicador de performance. Em corredores quenianos, alguns estudos têm apresentado menores níveis de lactato sanguíneo do que em outros corredores quando comparados em uma mesma velocidade de corrida, tanto ao nível do mar como em altitude. Essa diferença é mais acentuada em velocidades mais altas. Assim, um menor nível desse metabólito permite ao atleta correr em velocidades mais altas durante a competição. Esse pode ser um fator importante que determina as altas performances dos quenianos em provas de corrida de média e longa distância.

Menor consumo de oxigênio para mesma velocidade de corrida (economia de corrida – EC) – Conceitualmente, a EC é definida como o consumo de oxigênio (VO2) em uma dada velocidade de corrida submáxima. Um menor VO2 para uma dada velocidade de corrida determina uma melhor EC. Isso significa que, corredores mais econômicos são capazes de utilizar oxigênio mais eficientemente do que corredores menos econômicos para uma mesma velocidade de corrida, propiciando assim uma melhor performance em eventos de endurance.

Em corredores quenianos altamente treinados tem-se observado que o oxigênio consumido para correr em uma determinada velocidade é menor quando comparado com outros corredores de elite. Essa diferença de EC tem sido atribuída a fatores de composição corporal. Os corredores quenianos apresentam menor massa corporal, menores níveis de gordura e extremidades mais finas, o que permite que eles gastem menos energia para se movimentar.

Contudo, todos esses fatores apresentados nesse artigo contribuem de maneira crucial para o sucesso em provas de endurance. Portanto, o fato dos corredores do Quênia apresentarem um potencial muito grande em quase todas essas variáveis explica a superioridade desses atletas nessas provas.

Confira aqui o primeiro artigo da série – Dominância dos Quenianos nas Corridas de Endurance.