Ricardo SoaresFoto: Ricardo Soares

Corrida em família: amor, saúde e superação

Atualizado em 30 de agosto de 2018
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Quem é o seu maior herói? Muita gente pode se inspirar em um ídolo, homem ou mulher famosa. Entretanto, nossa maior inspiração pode estar mais pertinho do que se imagina. Melhor ainda se forem nossos pais ou alguém com essa mesma representatividade, capaz de nos motivar a ir mais longe em todos os sentidos, inclusive no esporte. Conheça três histórias que envolvem amor incondicional entre pais, filhos e… corrida em família, claro!

Família do corre

Gabriel Pacca cresceu respirando esporte — junto das irmãs Roberta e Marcela, eles frequentavam um clube onde tiveram contato com diversas modalidades esportivas.

A maior motivação, porém, tinha raízes dentro de casa. Seus pais sempre foram ativos, sobretudo Antônio, seu pai. Quando criança, Gabriel o observava indo correr aos sábados de manhã e pedalar durante a semana.

Tanto estímulo à vida ativa fez Pacca ingressar no seu primeiro triathlon com apenas 6 anos de idade. A corrida chegou para ficar durante a adolescência. “Fui o primeiro dos filhos a levar a corrida a sério. Comecei a correr com a turma da minha mãe por volta dos 15 anos.”

Roberta divide a mesma paixão do irmão: “Todos os momentos de corrida são maravilhosos. Com meu pai do lado — o responsável por me apresentar o esporte —, não tem como explicar”, fala, emocionada.

Sempre que a família se reúne, o assunto principal é a corrida. “Meu pai mora no interior, em Vinhedo, então não
nos vemos todo dia. Quando nos juntamos, na maioria das vezes é para correr”, conta Roberta.

Antônio está se recuperando de uma lesão e, portanto, longe dos treinos em família há um tempo. Mesmo assim, isso não é motivo para o esporte dar folga. “Não tem uma conversa entre nós em que não entrem as palavras ‘treino’ ou ‘corrida’”, brinca a filha.

A família de Gabriel é unida pelo esporte; Theo, seu filho, segue seus passos

Em 1999, Antônio foi à Disney para sua segunda maratona. Quando cruzou a linha de chegada, foi recepcionado e ovacionado por todos os filhos.

Recentemente, foi a vez de o patriarca motivar sua cria. Marcela estava participando do revezamento de Bertioga-Maresias e teve a companhia do pai durante seu trecho. “Ele estava treinando para a terceira maratona e me incentivou até o fim”, conta.

Aos 5 anos, Theo já segue pelo mesmo caminho da vida saudável da família. Filho de Gabriel, “corre” desde bebê. “Passeava correndo com ele no carrinho. O Theo sempre gostou de me acompanhar. Hoje em dia, ele pedala e eu corro”, fala Gabriel.

“Quando fiz meu terceiro Ironman 70.3, meu pai e meu filho foram meus staffs de prova, ajudando, dando comida, pegando as caramanholas que eu jogava. Foi realmente um marco na minha vida esportiva ter os dois torcendo juntos por mim”, rememora.

E o que Antônio acha de sua herança? “Só de saber que eles estão praticando esportes, já faz meu dia mais feliz.”

Sem moleza para a criançada

Para Gabriel Abdala, a corrida lhe devolveu o significado de superação. Aos 40 anos, desmotivado e com muito trabalho acumulado, Abdala carregava dois fardos: o de um casamento que não deu certo e seus 104 kg de sobrepeso. Disposto a virar o jogo, voltou às caminhadas, atividade que praticava com seu avô quando criança.

“A gente caminhava de 7 a 10 km às vezes. Para uma criança de 7 anos, isso era muita coisa, mas eu gostava muito.”
A caminhada surgiu como fuga de uma depressão iminente, e a corrida surgiu como uma evolução natural. Hoje, Gabriel acumula 350 provas em sua jornada, que está mais leve e sedenta por desafios do que nunca.

Gabriel Abdala e suas filhas

E ele faz questão de levar seus quatro filhos, frutos de seu antigo casamento, para curtir as provas e suar a camisa desde pequeninos. A festa em família na corrida começou em 2012 e a criançada tem mais bagagem do que muito corredor por aí — todos já acumulam entre 25 e 40 provas.

“Minha relação com a mãe deles não é boa. Acredito que a atividade esportiva fortaleceu o elo com meus filhos e também entre eles.”

Segundo o pai coruja, os filhos não curtem muito treinar, mas adoram participar dos eventos de corrida. “Agora que estão crescendo e começando a fazer as próprias escolhas, fica mais difícil juntar a turma toda para correr. Mas aí eu intimo todo mundo e dá certo”, conta, sonhando alto: “Gostaria de fazer provas longas ao lado deles, do tipo Desafio 28 praias”.

Quebrando barreiras

Com 140 kg na balança, Marco Copinni ouviu do médico as palavras que nunca mais sairiam da sua cabeça: “Se você não mudar sua vida, não vai chegar até o fim do ano”. Motivado, tirou proveito da corrida para eliminar 45 kg e criar uma nova realidade: a de quem acorda cedo para correr e sentir o poder da endorfina correndo nas veias.

Seu filho, Marcos, é outro guerreiro, cujas dificuldades começaram antes mesmo de nascer. Durante o parto, sofreu uma falta de oxigênio acompanhada de uma infecção hospitalar que deixaram sua vida por um fio. Portador de paralisia cerebral, o garoto sofria bullying na escola e precisava de uma rotina rigorosa de remédios controlados, algo que mudou depois que Marco viu um pai correndo junto de seu filho na rua e percebeu que poderia fazer bem a Marcos.

“Me identifiquei e convidei meu filho pra correr, e não paramos mais.” Os remédios controlados foram embora e o menino tornou-se muito mais ativo. Além da corrida de rua, Marcos já participou de aulas de atletismo, natação e jiu-jítsu.

Família de Marco

Para inserir o filho na corrida de rua, Marco o conduzia em uma cadeira de rodas tradicional, substituída por um triciclo adaptado e agora por uma handbike, mais moderna e confortável para as provas.

“Já fizemos dez maratonas, três ultramaratonas e duas Bravus Race. Com muito amor envolvido, quebramos todos os paradigmas e os obstáculos erguidos pela sociedade”, relata Marco, orgulhoso.

Graças a essas experiências, que começaram com o Pernas de Aluguel e continuaram com o Monstros da Corrida, Marco abriu a mente de várias famílias e projetos para a inclusão na corrida de rua.

Ele conta que algumas provas tiveram a categoria de cadeirantes inaugurada por causa da história com seu filho, mas a ideia é ir ainda mais longe: “Meu sonho é fazer um triathlon com o Marcos. Quem sabe um Ironman?”, confidencia o pai de Marcos e de mais três filhos, que são igualmente ativos e engajados com o esporte. “Deus me deu uma missão maior do que imagino com essa molecada.”