Histórias repetidas

Atualizado em 02 de maio de 2016
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Por Leandro Bittar, do Rio de Janeiro

Nesta terça-feira, 16 de julho, o uruguaio Milton Wynants conquistou a única medalha da delegação uruguaia nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro até o momento. O bronze na corrida por pontos masculina é um feito até certo ponto pequeno para o atleta que conquistou uma medalha de prata na Olimpíada de Atenas, em 2004, e duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, em 2003.

O que chama a atenção neste caso é que o atleta não competia provas internacionais desde sua participação em Atenas em função de problemas com a Federação Uruguaia de Ciclismo. Em poucos segundos, todos esses ressentimentos ficaram para trás e brotavam camisas azul celestes de todos os lugares. Todos os uruguaios queriam ver o simpático atleta.

O homem que bateu Wynants, o venezuelano Andris Hernandez, situa-se em um cenário um pouco melhor. Sua delegação já conseguiu, até aqui, seis medalhas de ouro e faz um bom papel também no ciclismo.

Mas o jovem de 25 anos que bateu grandes nomes como o chileno Marcos Arriagada e o argentino ex-campeão mundial da prova, Juan Curuchet ainda não sabe se vai aos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Aguarda o apoio da Federação Venezuelana de Ciclismo para confirmar sua participação nas etapas da Copa do Mundo e possibilitá-lo alcançar a pontuação no ranking que o levará à China.

A medalha de prata desta mesma prova ficou com o colombiano José Serpa, que havia acabado de assistir ao sucesso da incrível compatriota Maria Luisa Calle, que durante a coletiva de imprensa recebeu uma ligação do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, felicitando-a pela medalha de ouro. Uribe deve estar gastando muito tempo ao telefone nos últimos dias, já que Santiago Botero venceu a prova de CRI, no último domingo e, nesta terça, Maurício Soler venceu uma etapa do Tour de France, comprovando a tradição do país na modalidade.

Conto estas três histórias para comentar a decepção que norteava os torcedores e os jornalistas presentes hoje no velódromo. Os dois “públicos” aguardavam uma boa participação brasileira, mas ao contrário, assistiram um desempenho frustrante. Apenas em duas provas tivemos a presença de atletas brasileiros, que, aliás, são os menos culpados desta história, mas refletem o momento do ciclismo brasileiro.

No final, fica a certeza de que problemas existem em todos os lugares, que em outros países, como aqui, o esforço do atleta é sempre maior, mas que o apoio dos dirigentes é fundamental. Quando o esporte conquista o gosto da população, os ídolos ganham espaço, conquistam vitórias e abrem caminhos para novos nomes.

Decepção desinformada
A modalidade de pista não é fácil de ser compreendida. O Brasil ainda é o país do futebol, porém, vive duas semanas de país do Pan. Todos tentam rapidamente entender as regras das provas. Os ciclistas Camila Rodrigues e Roberson Figueiredo sentiram de perto a euforia dos brasileiros, ávidos por notícias e medalhas em todos os esportes.

Rodrigues, que competiu a prova de perseguição para mulheres admitiu que sentiu a pressão e que esperava um tempo muito melhor do que o 4min02s976 que registrou. “Eu fiz 3min54s nesta mesma pista durante a semana. Estou muito frustrada. Não pela classificação, mas porque sei que poderia ter feito mais. A ansiedade me atrapalhou muito e gastei muita energia no começo da prova”, disse Camila Rodrigues, que só foi convocada poucos dias antes da competição.

Em uma disputa com concorrentes de alto nível, Roberson Figueiredo, o Robinho, largou com a expectativa de tornar-se uma zebra e conquistar uma medalha. Ficou longe disso. Foi apenas o oitavo, o penúltimo entre os que completaram. “Achei que a prova seria mais veloz e escolhi uma relação muito pesada. Como foi mais técnica, fiquei sem reação e isso comprometeu meu rendimento”, justificou o brasileiro.

Curtas do Pan

– Depois de exibir uma boa forma no CRI, mesmo com o pneu furado, Marcos Novello solicitou a CBC sua participação nas provas de perseguição individual, mas não obteve uma resposta em tempo. Sua marca o colocaria entre os quatro semifinalistas da prova. Alex Arseno foi apenas o oitavo.

– Caduta, queda em italiano, é uma palavra mundialmente conhecida no ciclismo. O colombiano José Serpa e o venezuelano Andris Hernandes a usaram algumas vezes.

– Robson Figueiredo, Alex Arseno, Hernandes Quadri Jr. e Rodrigo Mello formarão o quarteto brasileiro na prova de perseguição por equipes, nesta quarta-feira, dia 17 de julho.

– Parece que é uma prática comum em eventos como esse: isolada do mundo por causa do regime socialista, a delegação cubana sempre dispões de legítimos charutos da ilha de Fidel para trocar por alguns dólares.

– O velódromo do Rio continua despertando a imaginação dos atletas. Hoje, surgiu a notícia de uma sugestão da Federação Argentina em tornar o local um Centro Latino-americano de Ciclismo, diminuindo as distâncias dos países vizinhos que precisam ir a Europa para treinar em uma pista similar. O interessante projeto será estudado.