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Diário de bordo do capitão: direto do Circuito Chauás

Atualizado em 29 de julho de 2016
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O circuito Chauás de corrida de aventura possui, entre os atletas da modalidade, a fama de ser o mais rústico e difícil do País. Mas, no caso da primeira etapa de 2011, disputada no último sábado, dia 26, em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, podemos dizer que havia três ingredientes extras: o calor, as serras intermináveis da Mantiqueira, e a presença de competidores de altíssimo nível.

Duro, porém instigante. O Chauás é tudo isso porque agrega simplicidade com o dinamismo das provas de hoje. O atleta é tratado de forma especial, pois, além da recepção familiar de sempre, as regiões onde as etapas são sediadas ao longo do ano sempre oferecem boa hospedagem e espaço para que os familiares possam acompanhar os atletas antes, durante e depois do evento.

A já mencionada primeira etapa de 65 km em Pindamonhangaba estava montada com 30 quilômetros de mountain bike em dois trechos; 28 quilômetros de corrida rústica também em dois trechos; e sete quilômetros de canoagem em águas brancas na embarcação fornecida pela organização da prova, a canoa canadense.

O percurso não é demarcado, portanto o uso do mapa e da bússola é obrigatório. Cada atleta deve carregar consigo sua alimentação e hidratação, bem como equipamentos de segurança e kit médico. A previsão dos diretores de percurso era de oito horas de prova para os primeiros atletas e equipes, mas com extensão de até 13 horas para os últimos.

A largada se deu as 10h sob calor e sol em pelotão com carro madrinha até a saída do asfalto. Foram 18 quilômetros em estradas de terra com ascensão de 500 metros de desnível para a escalada da primeira serra, seguida de uma descida forte até a transição no PC4 para o início de um longo trekking. Eu me mantinha num pelotão formado por atletas solo, os mesmos que compuseram o pódio em Ilhabela no Troféu SP duas semanas atrás, Marcelo Santos e Francisco Spignardi, e as duplas masculinas que vinham numa pegada forte, forçando já um ritmo acelerado desde a largada.

Comecei a me destacar no trekking, quando percebi pegadas de um atleta solo na estrada de subida da segunda serra, também com 500 metros de desnível. Encontrei com Marcos Nescau, atleta de Pindamonhangaba, que havia feito um corte no terreno e navegou para me ultrapassar. Nos mantivemos juntos por um bom tempo, e, na subida, ainda faltando trecho em trilha, perdi minutos preciosos ao buscar o caminho correto. Nesse momento se aproximaram outros atletas e equipes, e conseguimos numa casa nos reabastecer de água fresca da montanha. Seguimos juntos rapidamente para a rota correta e atingimos o PC5 ao lado da Pedra do Gomeral (Pedra Pequena).

Eu tinha sob controle meu ritmo e, com isso, poupava energia para a última serra, a terceira com desnível de 500 metros. Eu e mais outros atletas fizemos o contorno da serra e chegamos à estrada de acesso ao PC6, e a subida começou a se impor gradativamente. Quando percebi que estava melhor, comecei a correr morro acima, e, a partir de então, não fui mais ameaçado.

Apesar disso, senti a todo momento o risco de perder a posição de liderança, pois o mapa, por sinal, de excelente qualidade, mostrava muitas opções e qualquer navegador ficaria tentado a realizar cortes nos terrenos, pois eram muitas as cristas com vegetação baixa. Enfim, coloquei em uso minha qualidade proprioceptiva e desci a serra em poucos minutos e, ao cair na estrada de acesso ao PC7, transição para 11 quilômetros de bike, comecei a impor um ritmo ainda mais forte.

Ao chegar no PC7 parei e descansei por cinco minutos, bebi muita água e segui com minha bicicleta para a transição da canoagem. Peguei a canoa canadense e marquei tempo de remada, para não permitir aproximação dos adversários. Foram sete quilômetros em rio sinuoso e raso, com muitas pedras, galheiras e dificuldade de realizar as manobras pelo tipo de embarcação grande e larga em que estava.

Ao final, pude perceber que a vitória estava muito próxima, pois teria pela frente mais sete quilômetros de corrida, grande parte no asfalto de acesso ao Balneário Ribeirão Grande, onde, após nove postos de controle, em 7 horas e 48 minutos cruzei a pórtico de chegada muito feliz por ter executado meu plano com sucesso. Coloquei uma vantagem de 37 minutos no meu adversário mais próximo e 2 horas no meu maior concorrente desde o ano passado. A parte física é importante nas provas de aventura, no entanto, estratégia e orientação regem esse jogo.

Essa vitória é dedicada aos meus colegas de equipe do ativo.com Alex Mariano do MTB; Danilo Zoppi, da Natação; Ulisses Franceschi, do Triathlon; e Daniela Barcelos, da Corrida de Rua; além de grandes parceiros, eles compartilham comigo hoje da mesma emoção por fazer parte desse vitorioso projeto do ativo.com. Tenho recebido deles muita energia positiva.

Tene enduro!

Algumas imagens do evento (fotos christian corrêa):