Stefan Holm / ShutterstockFoto: Stefan Holm / Shutterstock

Como vão os treinos?

Atualizado em 23 de junho de 2017

Bom, após a abertura da Copa Internacional algo que me chamou atenção na prova e me inspirou para escrever sobre os nossos treinos. Muitas pessoas me perguntam: até que ponto o treino no asfalto pode ajudar no desempenho do MTB?

É difícil dizer até que ponto, mas é certo que o treino na estrada é fundamental para o bom desempenho no MTB. Na Copa Internacional quem esteve presente pode acompanhar de perto o desempenho de Renato Seabra, 2º colocado na prova. Este atleta já competiu muitos anos no MTB, foi campeão Brasileiro em 2000 e representou o Brasil nas Olimpíadas de Sidney, na Austrália, também em 2000, e atualmente compete no ciclismo.

Duas semanas antes da Copa Internacional, Seabra competiu na Volta de São Paulo percorrendo vários quilômetros todos os dias, enfrentou etapas com mais de seis horas de duração e duas semanas depois estava ele no XC, e andando muito forte. Com certeza competir uma Volta deve ser muito desgastante, mas um bom trabalho de muito treino dá a estes atletas uma capacidade física muito elevada.

Tanto no Brasil como no exterior o treino de ciclismo de estrada faz parte da rotina de treinos dos atletas de MTB. Na pré-temporada é comum fazer o treinamento de base, e fazer até mais de 70% dos treinos em cima de uma Speed ou MTB com pneu sleck, pois as vantagens estão em você percorrer vários quilômetros sem muito impacto e podendo controlar melhor o seu coração e cadência, já que não existem as variações de terrenos que encontramos no MTB.

Agora, uma curiosidade dentro deste assunto é que os atletas do ciclismo também podem dar suas pedaladas numa MTB, e uma das vantagens é justamente corrigir as pedaladas, pois quando subimos alguns tops, principalmente em marchas mais leves, distribuímos melhor as força feita em cada perna.

O campeão Lance Armstrong já foi visto em provas de MTB nos Estados Unidos, e do jeito que o cara é pode ter certeza que se MTB fizesse mal para o seu desempenho no ciclismo ele jamais tocaria numa MTB. Além dos treinos, as provas de ciclismo podem contribuir muito para pegarmos ritmo, às vezes só de estar rodando num pelotão em alta velocidade já contribui muito, e as provas curtas, onde tem muito “vira e arranca”, é um ótimo treino de intervalado e assim você fica mais preparado para as largadas e ataques durante uma prova de MTB, pois você pode se acostumar a elevar seu batimento cardíaco e ter pouco tempo de recuperação entre um ataque e outro e, de quebra, pode trabalhar seu psicológico para superar os momentos críticos dentro de uma prova.

Cada atleta tem seus objetivos e todos querem buscar o melhor, devem analisar o que esta dentro de suas condições de tempo e dinheiro e até local, para saber se este é apropriado ou não para cada tipo de treino, mas seja no asfalto ou na terra, vamos pedalar!!!

Agora confira entrevista com Arlei Teixeira Domingos, um dos mais novos competidores da Elite Brasileira, e o ciclismo de estrada como base para seu treinamento no MTB.

Arlei Teixeira Domingos tem 22 anos, é São João da Boa Vista/SP, compete desde 1999 e está na Equipe Caloi/Scatt. Entre os principais títulos de MTB está o de campeão e vice-campeão brasileiro de Maratona; bicampeão paulista de Cross Country; campeão paulista de Maratona; campeão MTB 12 horas; campeão Big Biker. Entre os de ciclismo pode-se citar o campeão por equipe Troféu RTP (Portugal); 5º colocado circuito Ancião (Portugal); 8º Colocado na Taça Portugal.

Vando – Como foi competir em Portugal?
Arlei – Posso dizer que foi maravilhoso, que foi uma experiência única, mesmo pelo fato de ter ido competir ciclismo na Europa. E com a pouca experiência que tinha na época foi muito bom só me fez crescer. Em Portugal iria precisar de uns bons anos correndo por aqui. Resumindo me fez muito bem tanto na vida profissional como na pessoal.

Vando – Para você qual a diferença do ciclismo brasileiro para o europeu?
Arlei – Competi poucas provas de ciclismo no Brasil, mas acompanho o ciclismo pela Internet e revistas, e a diferença que sinto não é pela qualidade dos ciclistas, pois no Brasil sei que tem ótimos ciclistas, mais pela quantidade de competição. Na Europa quando começa as competições você volta para a casa apenas para se recuperar, pois lá tem corrida por etapa quase toda semana, e isso diferencia muito o nível, já que você não precisa ficar se matando de tanto treinar é só guardar forças para competir.

Vando – Após voltar de Portugal por que optou pelo MTB?
Arlei – Todos sabem como é conseguir um patrocínio no Brasil e quando voltei de Portugal, tinha a seguinte opção, ou seis meses de contrato novamente em Portugal ou um ano aqui. Foi uma opção difícil, mas queria correr ciclismo só se fosse por lá, então como meu contrato lá era de seis meses achei melhor me dedicar ao Mountain Bike, que além de ser um esporte maravilhoso só depende de você dentro da prova diferente do ciclismo que nem sempre o melhor vence.

Vando – Como são os seus treinos no Ciclismo e Mountain Bike?
Arlei – Faço meus treinos 90 % baseado no ciclismo e treino em média cinco dias por semana, cerca de 400 a 500 km, e no MTB treino em média 1 a 2 vezes na semana, aproximadamente de 80 a 110 km/semana.

Vando – Quais são os seus planos para o futuro no esporte?
Arlei – Pretendo ainda correr bastante já que é meu primeiro ano de Elite e tenho que aproveitar o máximo, pois a Caloi e a Scatt Bikes, que são meus atuais patrocinadores, estão acreditando em min pois temos um contrato por 2 anos – 2006 e 2007. Visando os Jogos Pan-americanos no Rio, sei que este ano é um ano de adaptação, mais acredito que pelo trabalho que estamos fazendo junto com o treinador Ricardo Arape Consultoria Esportiva e com Doutor Lotufo logo virão os resultados.

Edivando de Souza Cruz (Equipe Astro/Manitou), que assina esta coluna, é paulista de Ilhabela, onde reside, e pratica mountain bike desde 1993. Participou da Olimpíada de Atenas, conquistou medalha de prata nos jogos Pan-Americanos de San Domingos, em 2003; cinco vezes campeão brasileiro de MTB; campeão brasileiro de Cross Country e Maratona e campeão Pan-americano de Cross Country. Atualmente é número 1 do Ranking Brasileiro de Mountain Bike.