Além das ciclovias: o que torna uma cidade bike-friendly?

Atualizado em 12 de abril de 2018
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Nos últimos anos, o conceito de cidades bike-friendly ganhou destaque na mídia brasileira, muito por conta do alto investimento em ciclovias nas cidades do país – incluindo São Paulo, sua maior metrópole. Mas, afinal, o que é uma cidade bike-friendly? Quais são as principais referências mundiais nesse quesito?

Engana-se quem pensa que apenas um número exorbitante de ciclovias já é suficiente para se encaixar nesse conceito. Aline Cavalcante, membro da Associação Ciclocidade, explica: “Uma cidade bike-friendly tem o acalmamento do tráfego, ruas tranquilas, uma arquitetura urbana que favoreça o deslocamento a pé e infraestruturas de estacionamento adequadas – fáceis, acessíveis e gratuitas“.

Outro ponto importante é o alto uso de bikes compartilhadas, de uma maneira acessível, prática e que cubra a cidade inteira: “Todas as cidades bike-friendly do mundo têm um bom sistema de bike sharing“. Associado a um transporte público que seja bem conectado com as vias, fica mais fácil de praticar o Last Mile, o modo de locomoção que utiliza a bike em apenas um trecho do percurso rotineiro.

Quando todos esses pontos funcionam em sintonia, Aline afirma que a cidade se torna mais diversificada, com pessoas caminhando e pedalando. Assim, a população ganha muito na saúde, com pessoas saindo do sedentarismo e consequentemente reduzindo os gastos públicos nesse setor. “Você também tem um ganho econômico, pois a bike é um meio de transporte muito mais barato do que os carros – tanto na aquisição quanto na manutenção”, ela completa.

Aline ressalta que não há um conceito firmemente estabelecido do que torna uma cidade bike-friendly ou não, mas organizações com a Copenhagenize estabelecem seus próprios parâmetros e ranqueiam locais no mundo todo a cada ano. Como o próprio nome já indica, Copenhague, na Dinamarca, é consistentemente uma das líderes do ranking, assim como Amsterdã, a capital holandesa.

Alunos da Copenhagenize no espaço comum do escritório, cheio de paraciclos (Foto: Copenhagenize)

 

 

Copenhague

De acordo com a Copenhagenize, há poucos lugares no mundo em que a inovação é tão priorizada quanto na capital dinamarquesa. Os números comprovam essa afirmação: nos últimos dez anos, mais de 134 milhões de euros foram investidos em infraestrutura para bicicletas em Copenhague. Desde 2015, oito pontes para pedestres e bikes foram inauguradas, e ainda há quatro em construção.

No ano passado, a porcentagem de pessoas que iam para a escola ou para o trabalho pedalando alcançou 62%, enquanto somente 9% usava carros. Ainda assim, o Copenhagenize aponta que há melhorias a serem feitas, como resolver os engarrafamentos nas ciclovias e o alto fluxo de motoristas que saem dos subúrbios para entrarem no centro de Copenhague diariamente.

Amsterdã

“A cidade mais incrível para as bicicletas” é como o Copenhagenize define a capital da Holanda. Amsterdã consegue gabaritar todos os quesitos que Aline Cavalcante define: uma boa quantidade de ciclovias, trânsito calmo e ótimas estruturas para estacionar as bikes, garantindo o seu status mundialmente reconhecido. Para ajudar, o uso de carros é desencorajado com altos preços de estacionamento e uma quantidade significativa de ruas onde circulam apenas pedestres e ciclistas.

Entretanto, o Copenhagenize indica que Amsterdã não está evoluindo rapidamente como Copenhague ou Utrecht, que lideraram o ranking de 2017. Pelo contrário, poucos avanços na infraestrutura para bicicletas foram implantados nos últimos anos, assim como a sensação de segurança dos habitantes vem diminuindo. 

E no Brasil?

Aline indica que são poucos os exemplos de cidades bike-friendly no país, principalmente por esse meio de transporte não estar tão inserido na cultura local, além das conexões com os transportes públicos e o número de bicicletários estar longe do ideal.

Um exemplo pouco falado mas bem impressionante é o Acre, um estado que tem o planejamento cicloviário invejável“, expõe Aline, afirmando que a cidade adotou as bikes como uma política pública, e não de uma forma propagandista. Outros nomes como Aracaju, Sorocaba e Fortaleza apresentam um trabalho constante de melhora na infraestrutura, mas ainda apresentam problemas no sistema de compartilhamento.